Roberto Rillo Bíscaro
Tanta gente a meu redor é fã da série Dexter..., especialmente os mais jovens, que sempre comentam sobre o serial killer eliminador de serial killers. Nunca me interessara em assistir, até que 2 amigos me indicaram a quarta temporada porque o rival do anti-herói é interpretado por John Lithgow.
Sou fã dele desde que vi uns episódios da sitcom anos noventa 3rd Rock From the Sun. Não gosto muito de histrionismo e Lithgow talvez seja o único ator que consigo agüentar fazendo comédias cheio de vozes e trejeitos exagerados (jamais me convide pra ver nada com o histérico Robin Williams!). Além disso, Lithgow provou ser muito bom em outros gêneros e acho uma graça o trabalho dele com canções infantis. Por isso, resolvi ver Dexter, ainda que fosse com o bonde andando. Dei uma espiada em um resumo das temporadas anteriores e mandei ver os 12 episódios da série do Showtime.
Dexter Morgan encontra-se casado, tentando adaptar-se à vida de esposo e padrasto/pai amantíssimos. Se não fosse psicopata, a entediante Rita seria um bom motivo pra ele alegar insanidade; que mulher chata! Em várias de suas cenas, eu aproveitava pra ir ao banheiro sem precisar pausar o DVD. Ainda bem que o Lithgow resolve esse problema...
Mas, mesmo a genuína tentativa de adaptação de Dexter à vida familiar não abafa seus instintos e ele continua matando outros assassinos. Eis que então, surge na cidade, um psicopata sexagenário apelidado de Trinity Killer devido aos crimes em trio que comete. É o personagem do sexagenário John Lithgow, que, logo descobrimos ser também um pai de família, que tentara se encaixar sem sucesso em uma vida doméstica e sem mortes. O serial killer sênior representa uma imagem do que seria Dexter na velhice; aparentemente um cidadão acima de qualquer suspeita, mas que, por trás da porta residencial aterroriza a família e ocasionalmente necessita ausentar-se pra saciar sua sede de matar.
O papel de Trinity deu chance a John Lithgow de mostrar toda sua versatilidade, uma vez que a personagem exigiu que o ator se desdobrasse em momentos assustadores de pura psicopatia passando por momentos de papai bonachão, devoto religioso. Em todos esses registros, Lithgow brilhou e ele roubou as todas as cenas em que apareceu.
O roteiro e os diálogos de Dexter são escritos por gente que entende do ofício de prender a atenção, oferecer reviravoltas e acrescentar camadas ás personalidades das personagens multiétnicas. Considerado um show inteligente, Dexter não escapa de deslizes e incongruências.
A carreira de brutalidade de Trinity havia sido acompanhada pelo agente especial Lundy, que, segundo li, aparecera na segunda temporada como uma espécie de superstar do FBI no departamento caça a serial killers. Lundy (Keith Carradine) reaparece na quarta temporada assim que toma ciência de que o ciclo de assassinatos rituais de Trinity recomeçara. Apesar da vasta gama de evidência amealhada ao longo de anos de espreita, o FBI jamais acreditara na teoria de Lundy. Ora, que espécie de superstar é esse que consegue unir tantas provas evidentes e não é acreditado pelos superiores? Sem sair de Miami - apenas acessando bancos de dados e a internet – qualquer um tem acesso aos asassinatos, fartamente noticiados. Será que ninguém no FBI conseguiu somar dois e dois durante décadas? De qualquer modo, deu vontade de ver a segunda temporada pra ver o agente especial se envolvendo com a irmã de Dexter.
O grande “perigo” que evitei a todo custo – com sucesso, devo acrescentar – foi o de me identificar com Dexter Morgan. Descontada a possível simpatia que ele suscita, não me esqueci de que não passa de uma personagem que assume o papel de justiceiro com as próprias mãos. Alguém que trabalha pro departamento de polícia, mas situa-se acima da lei, eliminando “indesejáveis sociais” e, às vezes, cometendo erros e chacinando inocentes, o que, pelo menos nessa temporada assistida foi tratado meio na pseudo-filosofia do “shit happens”. Anti-herói, Dexter não é diferente dos psicopatas que faz desaparecer.
Nos anos 70, Charles Bronson protagonizou uma série de filmes intitulada Desejo de Matar. Quem assistia ao Domingo Maior nos anos 80, deve lembrar que quase todo mês um filme era exibido. O arquiteto liberal Paul Kersey passa a fazer justiça com as próprias mãos depois que sua família é assassinada. Surgidos pouco depois do auge dos movimentos pelos direitos civis dos anos 60, o primeiro filme especialmente causou polêmica, dado o seu conteúdo francamente reacionário.
No século XXI, a série Dexter ganha elogios da crítica, graças a seus truques narrativos e verniz inclusivo. No fundo, porém, não passa de um Desejo de Matar com pós-graduação. Tão retrógada quanto os filmes do falecido Bronson.
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