Depois dos atentados de 11 de setembro, a malha fina pra pegar imigrantes ilegais nos EUA tornou-se mais rigorosa. Não coincidentemente, os casos de xenofobia, detenção em aeroportos e deportações intensificaram-se. Na Europa, mormente na Espanha e Inglaterra, a pressão anti-imigrante cresceu, atingindo seu ápice midiático com o assassinato de Jean Charles de Menezes, em Londres, em 2005.
O roteiro traz personagens e situações que em sua maioria fogem do simplismo bom/mau e os temas da pobreza do terceiro mundo e a corrida de suas populações para a tão sonhada bonança primeiro-mundista são tratados de forma realista com falas por vezes contundentes. Deslizes ficam por conta da representação algo clichetada dos argentinos. O casal portenho detido na imigração é o único que usa artifícios escusos pra entrar nos EUA. Considerando-se uma certa má vontade e animosidade existente entre nós e nossos vizinhos platinos, não me caiu bem a representação argentina, quando situada num contexto maior de representações. Lembro-me de que quando os EUA começaram a bombardear o Afeganistão, circulou um email bastante sem-graça afirmando que os brasileiros fariam os mapas pro exército estadunidense. Quando se abria o anexo, via-se um mapa da América do Sul, com o nome do país asiático escrito no lugar da Argentina...
Também não foi por acaso que o número de filmes tematizando a imigração conheceu acentuado aumento na década passada. Ontem vi Olhos Azuis (2009), eficiente thriller nacional trilíngue, dirigido por José Joffily, com roteiro de Melanie Dimantas e Paulo Halm.
Em seu último dia de trabalho como chefe do Departamento de Imigração no aeroporto JFK (Nova York), o agente Marshall se embriaga e mostra seu lado racista e xenófobo ao tornar um inferno a vida de alguns latinos pretendentes a ingressar no país. A tensão cresce à medida que o porre a os recalques de Marshall se avolumam, até chegar a um desfecho trágico.
A edição de Olhos Azuis é excelente. A história é contada de modo não linear e justapõe 2 ambientações radicalmente distintas. O claustrofóbico e fatídico último dia de Marshall no emprego, numa sala apertada, coabitada por uma oficial afro-americana e outro de origem mexicana é contraposta a cenas no nordeste brasileiro, para onde o decadente Marshall se dirige tempos depois em busca de um paliativo de redenção.
A parte passada no escritório da imigração lembra muito teatro filmado e apresenta uma série de coadjuvantes interessantes e bem construídos, como a bailaria cubana que enfrenta dificuldades em entrar nos EUA devido a sua nacionalidade. Na parte brasleira, Marshall encontra a prototípica prostituta de bom coração Bia, que auxilia Marshall em sua jornada terminal pela terra brasilis, outrora tão desprezada pelo norte-americano.
O roteiro traz personagens e situações que em sua maioria fogem do simplismo bom/mau e os temas da pobreza do terceiro mundo e a corrida de suas populações para a tão sonhada bonança primeiro-mundista são tratados de forma realista com falas por vezes contundentes. Deslizes ficam por conta da representação algo clichetada dos argentinos. O casal portenho detido na imigração é o único que usa artifícios escusos pra entrar nos EUA. Considerando-se uma certa má vontade e animosidade existente entre nós e nossos vizinhos platinos, não me caiu bem a representação argentina, quando situada num contexto maior de representações. Lembro-me de que quando os EUA começaram a bombardear o Afeganistão, circulou um email bastante sem-graça afirmando que os brasileiros fariam os mapas pro exército estadunidense. Quando se abria o anexo, via-se um mapa da América do Sul, com o nome do país asiático escrito no lugar da Argentina...
O elenco transnacional de Olhos Azuis abrilhanta as nuanças das personagens. O destaque vai pra David Rasche, que proporciona momentos de genuíno repúdio com sua intolerância. Quem via TV na segunda metade dos anos 80, talvez se lembre dele como o inspetor Sledge Hammer da série Na Mira do Tira, exibida pela Globo. Irandhir Santos também está ótimo como Nonato, o brasileiro que a despeito de ter todos os papéis em ordem é achincalhado por Marshall até o limite da explosão.
Olhos Azuis prende a atenção, desperta e mantém o suspense e cutuca algumas feridas sangrantes da relação EUAxAmérica Latina. Provavelmente por esse último motivo, não recebeu a atenção e os paparicos do mercado norte-americano, como foi o caso de outras produções nacionais que enfocaram nossas misérias, convenientemente deixando de lado o quinhão de responsabilidade da potência nortista.
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