segunda-feira, 2 de maio de 2011

CAIXA DE MÚSICA 30


Uma Diva no Céu

Roberto Rillo Bíscaro


Sábado à noite, assistia a um episódio da quarta temporada da sitcom 3rd Rock From the Sun, quando ouvi o barulho acusando mensagem no celular. Era do Jayme, dando uma notícia nada boa: Loleatta Holloway falecera. Terminei de ver John Lithgow e entrei online pra saber quando a diva dance morrera. Descobri que fazia mais de um mês! Com tanta coisa nova acontecendo em minha vida, essa triste notícia passara batido. Além disso, o passamento de Loleatta não alcançou o destaque do de Liz Taylor.
Muita gente nem deve conhecer o nome da cantora, mas certamente já ouviu sua voz poderosa, sampleada ad infinitum em canções dance. Quem foi a boates ou ouviu rádio nos anos 80 e 90 conhece a sublime gritaria de Holloway. Ela era uma daquelas negras norte-americanas, que nasceu com gogó privilegiado e o treinou em coros gospel na infância e adolescência, até começar a gravar hinos disco e baladas soul nos anos 70. Um dos primeiros e mais bem-sucedidos foi Hit and Run, do álbum homônimo, de 1977.

Em 1980, a cantora lançou o álbum Love Sensation, que traz a canção-disco homônima, seu maior sucesso. A influência da melodia e dos vocais de Love Sensation ainda precisa ser estudada por historiadores e arqueólogos da música pop. O número de citações creditadas e samplers é imenso. A quantidade de apropriações indevidas e surrupios não-creditados deve ser bem maior. Até hoje, Love Sensation é citada, sampleada e remixada sem dó.

Em 91, por exemplo, Marky Mark and the Funky Bunch teve um megahit global construído em cima de Loleatta. Curiosidade: Marky Mark – que aparecia só de cuecas Calvin Klein em outdoors novaiorquinos – hoje atende pelo nome de Mark Wahlberg, ator (Boogie Nights) e produtor (In Treatment) hollywodiano. O bando funky de Marky Mark deu crédito a Holloway, turbinando sua carreira, inclusive.

Nem sempre aconteceu assim. Os italianos do Black Box tentaram dar o truque. O vídeo de Ride on Time – chupada de Love Sensation – traz uma modelo gostosa ao invés da gordinha diva. E seu nome não aparecia nos créditos. La Holloway levou os produtores pro pau.

Atingido o status de diva-cult-disco e dance, Loleatta passou boa parte dos últimos 20 anos participando de projetos de outros artistas. Precisava duma vocalista negra que berrasse a plenos pulmões e levasse o público das pistas ao êxtase? Chama Loleatta Holloway!   
Super-comum encontrar o tal “não sei quem Feat. Loleatta Holloway”. Cada vez que digito seu nome no You Tube parece que descubro algo novo. Ontem descobri uma cover dum tal Fire Island feat. Loleatta Holloway pra Shout to the Top, single de 1984 do chiquérrimo Style Council.

A cantora nos deixou aos 64 anos e foi pro céu engrossar o coro dos anjos. Quando chegarmos lá, encontraremos black music norte-americana da boa, pra ouvir e dançar eternamente.  

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