segunda-feira, 9 de maio de 2011

CAIXA DE MÚSICA 31



O Livro do Genesis – Capítulo I

Roberto Rillo Bíscaro

A história do Genesis começou no ano em que nasci: 1967. Na exclusiva escola privada Charterhouse, em Surrey, membros de 2 bandas se juntaram. Anthony Philips (guitarra) e Mike Rutherford (baixo) vieram da The Anon enquanto Peter Gabriel (vocais), Tony Banks (teclados) e Chris Stewart (bateria) eram originários da Garden Wall. Àquela altura, o grupo sequer tinha um nome. Apenas compunham e tocavam em festas na escola ou pequenos outros locais.

Em um festival em Charterhouse, os meninos foram descobertos pelo produtor Jonathan King, ex-aluno, que colocou os adolescentes sob suas asas. O nome Genesis foi idéia de Jonathan, que justificou a escolha como sendo o começo duma nova sonoridade, duma nova era. Ansiosos pra agradar o padrinho, Gabriel e sua turma aceitaram o nome de sobretons super-religiosos. Aliás, uma das idéias de King fora Gabriel’s Angels (ainda bem que não pegou!)...

A vontade de permanecer nas boas graças do produtor era tanta que ao gravarem seu primeiro compacto, lançado em fevereiro de 1968, o Genesis soou como um pastiche da banda favorita de King, os Bee Gees, então voando alto nas paradas. A despeito de serem contratados pela mesma gravadora dos Stones, a Decca, Silent Sun passou despercebida, assim como o single seguinte, A Winter’s Tale, que saiu em maio.

Apesar da falta de sucesso, a gravadora apostou na gravação dum álbum. A mando de King, Chris Stewart foi demitido da banda, sob a alegação deser tecnicamente deficiente. Recebeu um cheque de 300 libras de Peter Gabriel e foi torrar o dinheiro. Mais tarde, mudou-se pra Espanha, onde se tornou fazendeiro e escritor. Em seu lugar, entrou o batera John Silver.

Enquanto gravavam o álbum de estréia, os adolescentes do Genesis ainda conciliavam seus estudos secundários com a incipiente carreira musical. Conta-se que Peter Gabriel tomava sucessivos banhos gelados pra alcançar as notas mais agudas.

Inseguros e incapazes de tomarem as rédeas criativas em suas mãos apenas, o repertório de From Genesis to Revelation (março/1969) foi composto pelos garotos, mas, produzido por Jonathan King. Resultado: o primeiro álbum do Genesis fica a meio caminho entre os Bee Gees e o Moody Blues, banda prog bem-sucedida da época. King inundou as faixas com cordas e orquestração melosa. Gabriel imitando os vocais dos Gibb não ajuda muito no quesito originalidade. Embora perceba-se que eles possuíam um bom sentido de melodia e algumas boas idéias (soterradas pelos arranjos de King), o disco de estréia do Genesis não tem nada a ver com o som que produziriam cerca de um ano mais tarde, quando do lançamento do segundo álbum.

O nome da banda e do álbum - bem pretensioso (Do Genesis ao Apocalipse? Uau!) e longe de refletir o escopo do material -, aliado a algumas letras e títulos com teor algo religioso, jogaram o disco pro setor de música religiosa. Como culpar os lojistas, com canções chamadas The Serpent ou letras que diziam “this man committed a sin”? Escondido dos fãs de música pop, From Genesis to Revelation vendeu 650 cópias somente. Depois que o Genesis tornou-se conhecido, o álbum foi relançado por diferentes selos, com diferentes capas e chegou a entrar na parada norte-americana, em 1974, na altíssima posição 170... Ao longo das reedições, versões demo e material “perdido” apareceram de modo esparso. O primeiro Box-set da banda, lançado em 1998, tem todo o material num lugar só. Mas, é só pra fãs muito roxos, como eu. Mesmo assim, nem ouço muito.

Há canções lindas em From Genesis to Revelation, mas soam iguais demais. É um álbum que enjoa ouvir duma vez só, embora seja curto. Quando se ouve no fone de ouvido, piora um pouco: por um fone sai a parte “psicodélica” e do outro a parte orquestrada, que homogeneíza tudo. Pra ouvir separadamente, minhas favoritas são Silent Sun, In Hiding (pick me up, put me down/push me in, turn me round/switch me on, let me go/I have a mind of my own... sempre cantarolo isso) e Am I Very Wrong.A forma de compor e a sonoridade do piano de Tony Banks já estão bastante bem delineadas, embora soterradas pelas cordas beegeesianas. 
 
Gabriel e seus anjos libertaram-se da influência sacarínica de Jonathan King, mas o produtor não pode ser desmerecido na história do grupo, uma vez que foi através dele que tiveram sua primeira chance. O poder de Jonathan sobre o grupo era tanto naquele primeiro ano genesiano, que os direitos autorais do primeiro álbum continuam sendo propriedade dele. Mas, os garotos mandaram-no passear e assumiram o controle de sua carreira, numa transformação poucas vezes tão radical no mundo pop/rock. O Genesis de Trespass – que traria a deslumbrante viagem progressiva nervosa de The Knife – parecia outra banda. 
 
Jonathan King continuou seu caminho no pop inglês em meio a sucessos e escândalos. Sucessos de gosto duvidoso é verdade e atitudes mais duvidosas ainda. Ele criticou o Live Aid, lançou single pedindo que a neoliberal Margaret Thatcher permanecesse no poder e acusou os Pet Shop Boys de plágio, em It’s a Sin (ele perdeu e teve que indenizar Tennant e Lowe). Em 2001, acusado de pedofilia, King foi condenado a diversos anos na cadeia por transar com garotos entre 14 e 16 anos.                         
 
Graças ao You Tube, podemos escutar na íntegra o outrora raro primeiro do Genesis. Coloquei as faixas na ordem da edição do CD que comprei no início dos anos 90, em um hipermercado em Londrina.  














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