O Livro do Genesis - Capítulo V
Roberto Rillo Bíscaro
Roberto Rillo Bíscaro
O Genesis estava animado com o resultado artístico e a recepção crítica de Foxtrot. Longe de ser sucesso de vendas, o álbum ajudara a consolidar a banda como uma das madrinhas do rock progressivo. Finda a turnê promocional do disco, os meninos vez mais se refugiaram no campo inglês pra burilar o próximo trabalho.
A Charisma Records planejava fazer um pouco mais de dinheiro e manter o nome do ascendente grupo em evidência, porém. Assim, o chefão Tony-Stratton Smith convenceu-os a lançar um álbum ao vivo. Bastava pegar gravações feitas em Leicister e Manchester, em 24 e 25 de fevereiro de 1973 e prensar álbuns, que poderiam ser vendidos a preços econômicos, visto que a gravadora investira zero no produto. Os master tapes, inclusive, já estavam preparados porque as gravações destinavam-se a um programa de rádio norte-americano. Excelente negócio pra Charisma e pra banda. Melhor ainda pro público, que “ganhou” Genesis Live, em julho de 1973.
Sem saber, Stratton-Smith (futuro empresário do grupo) deu ao mundo o único registro oficial ao vivo da era Gabriel. O programa jamais foi transmitido pela rádio ianque, mas as gerações vindouras têm a oportunidade de acesso a um álbum não-pirata ao vivo de qualidade surpreendente.
Um dos desafios que muitas bandas prog enfrentavam era reproduzir no palco as filigranas e efeitos especiais de estúdio. Como reproduzir ao vivo o som de 2 navios colidindo, por exemplo, como no caso do Van Der Graaf Generator (outra banda inglesa, de primeira)? Como o Genesis era um pouco menos megalomaníaco do que a média dos grupos prog, tudo o que tinha a fazer era reproduzir ao vivo as texturas obtidas no estúdio. Parece fácil, mas não é. Os caras não apenas conseguiram, como também melhoraram algumas das canções.
Tony Banks miraculosamente repete todas as texturas e sobretons de estúdio em seu Hammond. Peter Gabriel estava em plena forma vocal e as harmonizações com o backing de Phil Collins - cuja voz não é dissimilar à do vocalista – auxiliam e complementam Peter em alguns momentos. Collins e Hackett, então totalmente entrosados com os 3 colegas, fazem miséria na batera e na guitarra. Basta ouvir The Knife – que padecia de produção lamacenta em Trespass. Com letra algo modificada, a versão definitiva da canção está em Genesis Live. O teclado de Banks parece uma locomotiva, o baixo de Mike Rutherford pulsa forte e musculoso, a percussão de Collins vai do delicado ao urgente batidão. Mas, o que impressiona mesmo é a guitarra de Hackett, pra variar, tocando sentado. Da plangência cristalina ao guincho cuspido e distorcido, a execução do Mestre é irrepreensível.
As performances de Phil e Steve estão melhores até mesmo nas canções de Nursery Cryme, álbum no qual se juntaram ao Genesis. Mas, eles haviam pegado o bonde andando e a gravação de estúdio não mostra todo o potencial dos músicos. Em The Return of the Giant Hogweed, o diálogo entre o teclado, guitarra e batera é delirante. Parece um trem ganhando velocidade, com Collins esmurrando a bateria e a guitarra enlouquecendo progressivamente.
A excelência do álbum e a estratégia da gravadora deram resultado. Genesis Live foi o primeiro álbum da banda a entrar no Top Ten britânico, permanecendo entre a nona e décima posições por mais de 2 meses.
Abaixo, as faixas de Genesis Live. Embora algumas não sejam as presentes no álbum, localizei vídeos que capturassem a exuberância teatral da banda na época, com as fantasias de Peter Gabriel, que logo começariam a incomodar os outros genesianos...
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