Roberto Rillo Bíscaro
Miniférias de 2 semanas, Como não pude viajar, aproveito pra por coisas em dia e ver filmes e séries. Desde domingo, vi 3 películas que me deram vontade de escrever a respeito.
Miniférias de 2 semanas, Como não pude viajar, aproveito pra por coisas em dia e ver filmes e séries. Desde domingo, vi 3 películas que me deram vontade de escrever a respeito.
Domingo, vi Karaula (2006), comédia-dramática produzida por um pool de países balcânicos, antes conhecidos como Iugoslávia. A história se passa em 1987, quando as tensões étnicas já não podiam mais ser mascaradas, mesmo que se apelasse ao fantasma onipresente do Marechal Tito. Num posto militar da fronteira com a Albânia, o comandante descobre ter contraído sífilis, cujo tratamento levará 3 semanas. Por não querer revelar o fato à sua jovem esposa, o militar inventa que o exército do país vizinho está se mobilizando pra invadir a Iugoslávia. Desse modo, todos têm que permanecer a postos, exceto um soldado, designado pra ser o contato com a entediada mulher. O rapaz dálmata logo se engraça com a moça e encontra reciprocidade.
Karaula é claramente pretendido como alegoria da desintegração e barbárie que se processaram no ex-país, haja vista o sangrento final, onde a violência é deflagrada e sentida pelos próprios iugoslavos e não pelo “inimigo externo” criado artificialmente. Ainda que a ideia seja boa, o filme falha em conquistar real interesse.
As partes cômicas não tem graça por se apoiarem em repetitivas alusões sexuais, num diálogo bastante amador (pelo menos pelo que se pode notar nas legendas, nem me lembro mais se inglesas ou espanholas), ainda que repleto das tais tensões raciais. A parte do caso amoroso carece de empatia com o casal. Nesse tipo de estrutura narrativa é necessário que o espectador se importe com as personagens, o que não ocorre em Karaula. Na verdade, a maioria dos personagens chega a ser repulsiva ou não passa de tipos, mas, quem precisa dum filme cheio de tipos iguais?
Dolorosamente, o que Karaula consegue emular é a mesma apatia que o mundo mostrou para com o holocausto balcânico nos anos 90.
Bem melhor foi ter revisto Cowboy (1958), depois de quase um quarto de século. Quando o vi pela primeira vez no SBT, minha juventude só me fez achá-lo interessante por ser o único western do currículo de Jack Lemmon, famoso pelas personagens simpáticas ou neuróticas das comédias e dramas que interpretou. Segunda à noite, dei-me conta de que o filme do diretor DelmerDavesdesglamuriza o mito do vaqueiro enquanto cavaleiro andante.
Baseado numa autobiografia, Cowboy narra a transformação do afável funcionário de hotel Frank Harris (Lemmon) em um “bravo”. Movido pelo amor por uma mexicana, Harris propõe sociedade ao rancheiro Tom Reece (Glenn Ford), durão do tipo que mata barata com tiro de 38. Reece tenta demover Harris da ideia, advertindo-o de que a visão de condutores de gado ao redor da fogueira tocando violão e cantando não passa de invencionice. Sobra até pros cavalos, descritos como estúpidos, traiçoeiros e fedidos.
Claro que Harris não crê em nada disso e junta-se ao grupo. Aos poucos percebe que se trata dum mundo onde o que impera é a luta pela sobrevivência e onde existe bem pouca camaradagem. Exemplar a cena onde os vaqueiros iniciam uma brincadeira com uma cascavel, que resultará na morte de um deles e a sequente frialdade com que tudo é resolvido. Em Cowboy, cada um cuida do seu e, quando alguma tolice foi cometida, fazer o quê? A caca já tá feita mesmo!
À medida que Harris endurece, porém, Reece percebe sua própria frieza e tenta tornar-se um pouco mais humano. Talvez seja o livro no qual foi baseado o filme, talvez a década de 50 fosse menos iconoclasta do que nosso mundo pós-tudo, mas o distanciamento de si mesmo permite com que Reece enxergue a possibilidade dum mundo com mais comunhão.
Não que isso mude muita coisa, uma vez que Harris termina o filme matando uma barata com revolver. Talvez isso seja tão cínico quanto nossa era pós-tudo...
Ontem foi a vez de ver El Gato Desaparecido (2011) o novo do multipremiado diretor argentino Carlos Sorin. Ele deixou de lado seus não-atores imersos em histórias rurais ou patagônicas e transferiu a ação pra sofisticada Belgrano, bairro portenho. Cineasta de histórias “mínimas”, Sorin mantém o tom algo miúdo nesta sua jornada pelo cine de suspense à La Hitchcock. Muito bem interpretada por LuisLuque e Beatriz Spelzini, a história foi inspirada no caso real de um engenheiro que, do nada, surtou.
Sorin aproveitou essa deixa pra investigar o que acontece entre um casal depois que o marido volta pra casa, após tempo internado. Luis é professor universitário e devido a ciúmes acadêmico agride um colega, que acusara de estar roubando sua ideia de pesquisa. Surtado, o professor também quase agride a esposa Beatriz, a qual julgava tinha um caso com o colega agredido. Aprendemos tudo isso na inteligente exposição da trama, feita em um conselho de médicos e advogados decidindo pela alta de Luis.
De volta ao lar, Luis parece realmente curado, mas há um problema: Beatriz não está convencida disso. Pra piorar, o gato do casal desaparece após arranhar Luis. Isso basta pra que qualquer movimento do esposo desencadeie pânico em Beatriz. Ele deu sumiço no bichano? A esposa é quem agora está ficando maluca? Sorin tira pequenos sustos de livros caindo, sacos de lixo ou de um simples abraço. Colabora com a criação do clima, a trilha sonora típica de thrillers. O argentino homenageou Hitch direitinho, a ponto de fazer fugaz aparição na tela (menos né, Carlitos, menos!)
O filme é elegante, bonito de ver e tem final-surpresa divertido (eu teria entendido com menos “explicação”) e com humor-negro, bem ao estilo do inglês inspirador. Ainda que me pergunte se coisa demais não foi mobilizada pra pouco argumento, não senti tédio durante os 90 min.de El Gato Desaparece, que, se não é brilhante como Histórias Mínimas (2002) ou encantador como La Ventana (2008), ainda assim é um Carlos Sorin, o que não é pouca coisa.
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