Duas Diretoras Argentinas
Depois do bom suspense de Carlos Sorin, resolvi colocar um pouco em dia minha filmografia argentina e vi 2 filmes dirigidos por mulheres. Ambos são estreias na direção, foram sucesso de crítica e um deles foi bem nas bilheterias. Mas, gostei apenas de um, embora com tanto ardor que creio valer pros dois.
Depois do bom suspense de Carlos Sorin, resolvi colocar um pouco em dia minha filmografia argentina e vi 2 filmes dirigidos por mulheres. Ambos são estreias na direção, foram sucesso de crítica e um deles foi bem nas bilheterias. Mas, gostei apenas de um, embora com tanto ardor que creio valer pros dois.
Rompecabezas (2010) foi dirigido por Natália Smirnoff. Tudo começa com uma mulher labutando na cozinha pra servir aos convidados em uma festa de aniversário familiar. Faz isso, leva aquilo, põe no forno, anda pra cá, conversa acolá; com a câmera enfiada na cara, a ponto de precisarmos duns minutos pra nos acostumarmos aos eventuais e inevitáveis desfocamentos que isso acarreta. Não há como deixar de ter empatia com Maria del Carmen, interpretada à perfeição por Maria Ometto, que eu já amava de Tratame Bien, El Otro, La Mujer Sin Cabeza. Ela é a dona de casa que abdicou de sua vida pessoal pelo marido e filhos, que, se não a tratam mal, também não a reconhecem como pessoa que necessita de vida própria.
Uma tia dá um quebra-cabeças de presente a del Carmen, que descobre ter facilidade pra montá-lo e logo se apaixona pela atividade, proporcionadora de momentos em que pode ficar em companhia de si mesma, fazendo algo de que gosta. Em uma loja especializada, descobre um anúncio de alguém procurando por um parceiro pra montar quebra-cabeças e possivelmente participar de um torneio na Alemanha. É assim que conhece Roberto, um rico aficionado que mantem um estilo de montagem mais técnico do que o da intuitiva Maria.
Rompecabezas é prenhe de silêncios e close ups extremos e leva a vantagem de não oferecer personagens rasos. O marido de del Carmen não é um monstro rude do qual a esposa queira se libertar. Na verdade, o trunfo do filme reside no fato de a mulher não desejar efetivamente sair por aí rompendo todos os laços com o passado e a família. Ela descobre que necessita, quer e é bom ter seu próprio espaço, ser responsável por suas escolhas, fazer as coisas do jeito que lhe apeteça. E é isso que começa a fazer; ela seleciona aspectos de sua vida que lhe são agradáveis e os mantém, ao passo que descarta o que não lhe convém. A metáfora do quebra-cabeça é a própria remontagem de sua existência. Sem alardes ou carros voando à la Thelma and Louise; mas sim, o azeitamento da engrenagem da convivência diária. Uma grande estreia de Smirnoff.
A outra película é uma semi-estreia, digamos. A diretora Ana Katz dirigira 2 filmes independentes e Los Marziano (2011) foi seu primeiro longa com elenco conhecido (da TV, especialmente) e orçamento maior. O filme falhou em conquistar meu interesse e confesso não ter entendido o frisson crítico que causou.
Marziano é o sobrenome da família na qual se centra a película. Luis vive em um condomínio de luxo fora de Buenos Aires (um country, como dizem por lá) e é a mais recente vítima de poços que misteriosamente se abrem nos gramados, provocando ferimentos nos moradores. Luis quebrou um braço.
Juan é o irmão pobre, que vive na província, deve muito dinheiro ao mano e perde a capacidade de ler, de uma hora pra outra. Vindo em busca de tratamento na capital, fica a dúvida se os irmãos se encontrarão, posto estarem às turras há anos.
O cotidiano dos dois corre em separado durante o filme e o elemento que pode articular o encontro é a festa de 15 anos da filha de Juan, que será no country do tio Luis, que custeou seus estudos.
A ligação de Katz no teatro explica os elementos de Teatro do Absurdo contidos em Los Marziano, como os poços que se abrem do nada, os 2 irmãos com impedimentos físicos simultâneos, o verde caricatural da grama do country. Também há a influência desse tipo de cine argentino das histórias mínimas (pra evocar Sorin), onde o foco está nas falsamente pequenas ações cotidianas. E isso há de monte na estreia de Katz. E tudo fica sem resolver. Tudo queda no ar apenas como desculpa pra única coisa que importa: o encontro dos irmãos e o que resultará disso.
Como se importar com uma personagem como Luis se nem entendi qual é a dele? Pra que inventar algo tão fascinante como uma súbita disfunção neurológica em Juan e não explorá-la a não ser no fim, deixando-a funcionar como muleta pruma possível reaproximação?
Outro hibridismo pouco funcionalfoi a mistura com uma estética excessivamente televisiva, a começar pelo elenco. Ficou parecendo um filme chato pra TV.
Creio que consegui entender a crítica social pretendida, mas tudo acabou submerso num filme que me soou frio e incapaz de manter interesse contínuo.
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