Em crônica emocionada e emocionante, o Professor Sebe presta homenagem ao pais.
PAI ETERNO: passos e compassos...
José Carlos Sebe Bom Meihy
Olho com ternura para os jovens pais. Emociono-me. Muito. Com juízo de quem passou pela aventura de ter tido filhos crianças, hoje adultos, percebo a responsabilidade de dizer “aproveitem este momento. Aproveitem muito. Prestem atenção nos detalhes. O tempo passa depressa demais. Voa. Some”. Este alerta vem sempre acompanhado de um lamento surdo, relativo ao constante rebaixamento da paternidade frente à missão materna. Parece que a cultura ocidental, na noite assombradora das horas, roubou dos homens o direito às delícias de ser pai. “Provedor”, palavra estranha, quase maldita. Jurídica. Machista. Ingrata. Transformadora de papeis afetivos, ao homem cabe quase sempre, no máximo, a referência de “chefe da casa”. A mulher, “rainha do lar”, acumula privilégios da meiguice, carinhos e atenção. Por lógico, defendo a beleza da maternidade e credito zelo imortal às mães. Mas, reclamo a contrapartida masculina, paternal.
Colocado na roda histórica este tema merece cuidados especiais. É preciso quebrar o moto-contínuo da inércia que insiste em alocar o homem como complemento da educação filial. Modernamente, isso tem que mudar. Sei que há transformações importantes nessa esfera e hoje falamos com aceitação natural de “pais postiços” – heróis que assumem como próprios filhos de outrem – de casais homossexuais que adotam crianças e assim divinizam relações consagradas na luta por direitos. De um jeito ou de outro, emociona-me ver pais e filhos que se abraçam, se admiram e respeitam trocando afeições públicas. Tudo como antes não se via, mas há tanto pela frente. Tanto...
Rezando no breviário da experiência, não deixa de ser comovente acompanhar jovens pais percebendo os filhos a dar os primeiros passos. Há algo de santo nesses momentos. Às mães, muitas vezes mais presentes, acompanhar os passos iniciais de um filho é espécie de sucessão mecânica de etapas, de aquisição de equilíbrio entre o corpo e as pernas, enrijecimento muscular infantil, rotina biológica, enfim. Aos pais, muito mais do que tudo isso somado, aqueles passos são sintomas dos riscos de viver, da ousadia de enfrentar o futuro, nos desafios emblemados no dito fatal “caminhar pelas próprias pernas”. Há certa solenidade nobre na observação paterna dos “primeiros passos”. Ainda que o substantivo plural genérico “pais” incorpore as mães, há sutilezas incomensuráveis na observação dos primeiros passos para os jovens pais. É intrincado precisar essas diferenças, mas elas se impõem. Metáfora mais que perfeita, o acompanhamento dos tropeços dos filhos, as primeiras – segundas, terceiras e demais – quedas soam como aviso de que a vida será outra depois daqueles andares de estréia. E a sequência daqueles momentos terá gosto de eternidade consequente até que os filhos dos filhos aconteçam. A cadência da vida depois do andar doméstico será sempre marcada pela marcha de caminhos fora do lar. Pais e filhos podem caminhar juntos, sabe-se. Podem optar por caminhos distintos. Podem ir a direções contrárias. Podem se perder uns dos outros, mas tudo depende daquela primeira vez.
Dia desses caminhava com meus filhos e notei algo muito bizarro: os passos deles eram mais velozes, mais largos, mais firmes que os meus. Senti-me velho. Emocionadamente velho. Foi como se o abraço dos anos me apertasse para dizer alguma coisa que não entendia, mas precisava aceitar. Careci redobrar atenção à conversa para não transformar uma prosaica ida a padaria em reflexão filosófica existencial. Não tenho pudores para dizer que peço conselho aos meus filhos. Meus modestos passos na trilha dos negócios, por exemplo, se dão pela bússola deles. Creio firmemente que sabem mais do que eu em termos de indicações para muitas coisas. Sigo seus passos, diria sem reservas. E lembro-me com detalhes das emoções sentidas quando cada um deles começou aandar. Abrindo as comportas das lembranças, marejo olhos a me ver acompanhando cada um deles nas primeiras aventuras pela vida. Hoje quando penso neles acompanhando os filhos, os sobrinhos, declamo para mim mesmo, em secreto silêncio, os versos tão lindos de Romana Alves que terminam rezando “quantos filhos nos pais/ quantos pais nos filhos/ pais que nascem filhos/ filhos que viram pais”. A todos os pais, a todos – pais presentes, ausentes, futuros – o meu melhor abraço na data que os homenageia.
Como sempre as palavras do professor são de grande valor, tenho um momento com meu pai inesquecivel vou contar em um texto que te envio no dia dos pais Roberto . Lembreime da musica: naquela mesa .e outra que tem o titulo: tudo porque te amo pai. Miguel
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