EUA reconhecem morte de 83 guatemaltecos em estudo sobre sífilis
O governo dos Estados Unidos reconheceu nesta segunda-feira a morte de 83 cidadãos da Guatemala, infectados nos anos 1940 com doenças sexualmente transmissíveis (DST), como sífilis e gonorreia, durante experimentos médicos.
Uma comissão de inquérito, formada a pedido do presidente americano, Barack Obama, concluiu que cerca de 1.300 pessoas foram expostas às doenças.
Ao todo, 5.500 pessoas participaram dos estudos, sem saber dos riscos que corriam, segundo declarações de um dos investigadores, Stephen Hauser.
Entre os infectados, apenas 700 receberam tratamento médico. Ao fim, 83 morreram.
A sífilis pode causar cegueira, distúrbios mentais e até a morte, caso os doentes não recebam o devido tratamento.
Menos nociva e mais fácil de curar que a sífilis, a gonorreia pode se espalhar pelo organismo e até causar infertilidade nos homens.
A comissão reconheceu que os cientistas americanos infectaram prisioneiros, pacientes psiquiátricos e órfãos guatemaltecos em estudos que testavam a abrangência do uso da penicilina.
A presidente da comissão, Amy Gutmann, classificou o estudo como “um pedaço vergonhoso da história médica”. Um relatório deve ser publicado em setembro com as conclusões finais sobre o caso.
Obama fez um pedido de desculpas por telefone ao presidente da Guatemala, Álvaro Colom, dizendo que os estudos contrariam os valores americanos.
No início deste ano, vários cidadãos guatemaltecos infectados à época e familiares das vítimas anunciaram que estavam abrindo um processo contra o governo americano.
Pesquisa
A história dos experimentos americanos na Guatemala veio à tona no ano passado, fruto de uma pesquisa histórica da professora Susan Reverby, do Wellesley College, de Massachusetts.
Segundo a acadêmica, o governo guatemalteco da época deu permissão aos estudos, que ocorreram entre 1946 e 1948.
Os cientistas usaram prostitutas portadoras da sífilis e fizeram inoculações nos pacientes para determinar se a penicilina também poderia evitar a doença, e não apenas curá-la.
Na ocasião, o presidente Colom classificou os estudos como “crime contra a humanidade” por parte dos Estados Unidos.
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