Entre enternecido e otimista, nosso cronista escreve sobre a internet como ferramenta de mobilização popular e sobre coincidências entre jovens e velhos.
JOVENS E
VELHOS...
José Carlos Sebe Bom
Meihy
De repente,
a juventude “mostra sua cara”, se faz estampada nos jornais com perfil militante.
No mundo todo, como se ressurgindo de um tenebroso limbo político, temos os
moços novamente nas ruas. Folheando os jornais recentes, deparamo-nos com uma
sequência arrebatadora de manifestações onde o comando dos jovens indica o
caminho da esperança, do futuro remoçado pela energia de quantos têm a vida
pela frente. Nas ruas de Santiago do Chile, nas cidades espanholas, gregas, turcas,
francesas, principalmente em diferentes cantões do mundo árabe, num súbito,
levas de moços emergem reivindicando mudanças de governos, criações de escolas,
planos de trabalho, liberdades e direitos. Como que dizendo que não prevalecem
apenas as marchas pela liberação da maconha ou de grupos religiosos, temas
políticos abastecem levantes que se articularam via redes sociais, fazendo da
internet instrumento de definições cidadãs. Isso é lindo, moderno e
contagiante. Confesso que ao mesmo tempo em que me emocionava com a onda de
agitos no exterior, perguntava-me sobre nosso contexto. Estaríamos estacionados
na zona da memória com as vibrantes manifestações da passada campanha contra o presidente
Collor? Seria aquela afronta ao poder estabelecido prova do frágil ideário
juvenil brasileiro? Fora apenas um febrão juvenil que deu, surtiu efeito e
passou? Qual o legado daquela brava e bem sucedida aventura? Navegava nessas
águas duvidosas, quando me vi colecionando recortes sobre o nosso último dia 7
de setembro.
Em termos da juventude, os eventos de Brasília aqueceram desafios. Usando ferramentas típicas da época, jovens se articularam de maneira a produzir algo que, independentemente de passado ou de linha histórica, fez por merecer a admiração e expectativa de dias melhores. Sem apelar pelas surradas instituições como UNE, sindicatos, partidos políticos, foi proposta uma manifestação em que todos poderiam aderir sem afiliação determinada. Isentos de compromissos corporativos, eram os cidadãos que se dispuseram a engrossar a massa insatisfeita. A internet foi o meio proposto para o que parecia ser um simples convite ou protesto isolado. Pelos cálculos da polícia, no entanto, foram mais de 30 mil pessoas que se reuniram pedindo o fim da corrupção, emprestando apoio à tal faxina no Congresso e Ministérios.
Não deixa de
ser consequente lembrar que tudo isso teve uma anterioridade sagrada. A notícia
mais antiga dessa nova onda de manifestações se deu no Irã, contra a fraudada
eleição de Ahmadinejad nos idos de 2009. Desde então, estava dada a largada do
uso político da eletrônica. Foram jovens que, sob a vigilância de uma ditadura
insuportável, utilizaram-se da internet para fomentar uma sonhada virada. A
presença da mesma estratégia de mobilização foi posta em prática recentemente no
Egito e se propagou pela chamada Primavera Árabe. Não é propriamente cabível
transformar essa onda cívica em motivo de celebração individual. Ela tem na
adesão coletiva seu caráter democrático e explicador. Mas, não há também como,
no caso brasileiro, deixar de saudar a um jovem de 22 anos, Tiago Lira, que
liderou a investida por meio de mensagens nas redes sociais. O melhor, no
entanto, é que há promessa de repetição, agora em escala nacional, desse tipo
de protesto previsto para o dia 15 de novembro. Sabe-se que em escalas menores,
aqui e ali repontam expressões dos cara-pintadas.
Estava meio encantado
com tudo isso quando abri minha caixa de mensagem e encontrei algo que ainda
mais me enterneceu. Alguém de Taubaté, que atende por um nick simples (joataubate@bol.com.br)
postou uma notícia de teor equivalente, só que aplicável ao extremo geracional,
ou seja, aos velhos. Noticiando algo que
tanto ocorreu no Rio de Janeiro como em Taubaté, sob o titulo “Cristo abraça os aposentados” vazava a notícia de evento ocorrido
no dia 6 de setembro, nos respectivos monumentos ao Cristo Redentor. Aposentados,
associados e dirigentes da sub-sede municipal do SINDNAPI (Sindicato Nacional
dos Aposentados e Pensionistas), valeparaibanos, fizeram um culto ecumênico e
depois protestaram contra ações do governo federal contra seus interesses. Em
caravana, do nosso Vale foram para o Rio se emendar na questão nacionalmente
abraçada.
Jovens pela internet se organizam olhando para o
futuro. Velhos, acuados pela injustiça depreciadora de sua luta, olham o
passado. Como que desejosos de um abraço intergeracional moços e aposentados
selam um beijo cívico que nos faz supor dias melhores. E não há como negar a
beleza de gerações que se aliam em busca de lugares sociais. Estou emocionado.
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