Às vésperas do Dia do Professor, nosso professor-cronista professa seu amor e perplexidades perante o ofício de ensinar.
Já disse e repetirei ad nauseam: além do dia dos pais, a celebração dos professores é a mais importante de meu calendário pessoal. Como pai, vale o sentimento de responsabilidade que trança afeto e compromisso, pela vida toda, de acompanhamento dos filhos. Como professor, o senso profissional implica consequência moral e dedicação refinada na vontade de sonhar um mundo melhor. Devo, contudo, ao celebrar o “meu” dia listar oposições ajuizadas sobre nosso comportamento docente, itens que são deveras conhecidos e podem facilmente ser encontrados na internet. São menções pendulares que remetem ao injusto procedimento que se tem do labor docente. Aliás, é exatamente nas variações que reside a graça dos julgamentos extremos. Vejamos: “É jovem, não tem experiência. É velho, está superado”; “Não tem automóvel, é um pobre coitado. Tem automóvel, chora de ‘barriga cheia’"; “Fala em voz alta, vive gritando. Fala em tom normal, “ninguém escuta’”. “Não falta às aulas, é um ‘caxias’. Precisa faltar, é um ‘turista’"; “Conversa com os outros professores, está ‘malhando’ os alunos. Não conversa, é um “desligado’”; Dá muita matéria, “não tem dó dos coitados”. Dá pouca matéria, “não prepara os alunos”; Brinca com a turma, “é metido a engraçado”. Não brinca com a turma, “é um chato”; Chama a atenção, “é um grosso”. Não chama a atenção, “não sabe se impor”; A prova é longa, “não dá tempo”. A prova é curta, “tira as chances do aluno”; Escreve muito, “não explica”. Explica muito, “o caderno não tem nada”; “Fala corretamente, “ninguém entende”. Fala a ‘língua’ do aluno, “não tem vocabulário”; Exige, “é rude”. Elogia, “é debochado”; O aluno é reprovado, “é perseguição”. O aluno é aprovado, “deu ‘mole’"... Vale, contudo, concluir concordando com o emissor dessas antinomias: “O professor está sempre errado, mas, se você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele”...
PROFESSO, ser professor
José
Carlos Sebe Bom Meihy
Já disse e repetirei ad nauseam: além do dia dos pais, a celebração dos professores é a mais importante de meu calendário pessoal. Como pai, vale o sentimento de responsabilidade que trança afeto e compromisso, pela vida toda, de acompanhamento dos filhos. Como professor, o senso profissional implica consequência moral e dedicação refinada na vontade de sonhar um mundo melhor. Devo, contudo, ao celebrar o “meu” dia listar oposições ajuizadas sobre nosso comportamento docente, itens que são deveras conhecidos e podem facilmente ser encontrados na internet. São menções pendulares que remetem ao injusto procedimento que se tem do labor docente. Aliás, é exatamente nas variações que reside a graça dos julgamentos extremos. Vejamos: “É jovem, não tem experiência. É velho, está superado”; “Não tem automóvel, é um pobre coitado. Tem automóvel, chora de ‘barriga cheia’"; “Fala em voz alta, vive gritando. Fala em tom normal, “ninguém escuta’”. “Não falta às aulas, é um ‘caxias’. Precisa faltar, é um ‘turista’"; “Conversa com os outros professores, está ‘malhando’ os alunos. Não conversa, é um “desligado’”; Dá muita matéria, “não tem dó dos coitados”. Dá pouca matéria, “não prepara os alunos”; Brinca com a turma, “é metido a engraçado”. Não brinca com a turma, “é um chato”; Chama a atenção, “é um grosso”. Não chama a atenção, “não sabe se impor”; A prova é longa, “não dá tempo”. A prova é curta, “tira as chances do aluno”; Escreve muito, “não explica”. Explica muito, “o caderno não tem nada”; “Fala corretamente, “ninguém entende”. Fala a ‘língua’ do aluno, “não tem vocabulário”; Exige, “é rude”. Elogia, “é debochado”; O aluno é reprovado, “é perseguição”. O aluno é aprovado, “deu ‘mole’"... Vale, contudo, concluir concordando com o emissor dessas antinomias: “O professor está sempre errado, mas, se você conseguiu ler até aqui, agradeça a ele”...
Mas, há outros andamentos da atividade profissional de docentes que
merecem cuidados. Atrás da categoria profissional, em cada caso, existe uma
história de professor. Sempre gosto de saber das motivações individuais de
colegas sonhadores que, podendo optar por outras carreiras, se definiram pelas
salas de aulas. Na beleza dessas escolhas fecundam crenças e me apraz saber que
professor é quem professa, acredita,
tem esperança, vê o futuro de um jeito melhor. Também é bom não perder de vista
que independentemente de gerações persiste a certeza de que o professor
subsiste como imagem respeitável, ainda que quase sempre muito mal pago. Eu
pensava nisso dia desses quando em conversa com ex-alunos, agora professores
também, deparei-me com a gravidade das mudanças no ensino. Hoje, ministrar
matérias demanda controle da eletrônica, manejo de máquinas capazes de
promoverem novas aquisições de pesquisas. Tudo mudou tanto que não sei se conseguiria
ser o professor que fui. Isso, aliás, me leva a outro tema fundamental na
mitologização dos docentes: o envelhecimento. Sim, como professores somos passíveis
dos agravamentos dos anos. Fundamental é ter consciência disso. Falo agora como
professor aposentado e garanto que se a aposentadoria é um desafio para
qualquer profissional, para o professor é algo que pode ser fatal. A falta da
sala de aula pode até indicar alívio para uns, mas para muitos outros é como se
o palco de seus sonhos fosse apagado e seu público perdesse a força do aplauso.
Estou alarmado com o número de colegas que depois do tempo regular de trabalho,
ao se aposentarem, morrem. E a quantos o anonimato abraça deixando o vago
perfume da reputação de ser professor. Reparem como se fala idilicamente do
docente como uma categoria missionária. Reparem também que é preciso certo
esforço para lembrar o nome desse ou daquele profissional que tanto influenciou
em vidas. Por certo, há maus professores, pessoas que, como em qualquer outra
profissão, foram colocados alheios às vontades ou aptidões desenvolvidas, mas
como é maior a ladainha dos demais.
Voltando ao sentido da palavra que nos nomeia, é fundamental continuar
professando mesmo quando as escolas se distanciam de nossos alcances. Dia
desses, por acaso, encontrei-me com um colega que vagava perto da escola que
lecionou por anos. Sem que ele percebesse contemplei-o parado olhando para o
prédio. Foi uma visão antológica na coleção de instantâneos que guardo.
Sinceramente, fiquei sem definir o impacto, mas me aliviei ao perceber que
aquilo equivalia a uma oração de quem se punha frente a escola como se
contemplasse o céu roubado. Professo ser professor, contudo.
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