Por que Não Gosto de Amar Lark Rise to Candleford
Entre 1939-43, Flora Thompson publicou uma trilogia,
que, em 1945, seria reunida num livro só, chamado Lark Rise to Candleford. As
obras semi-autobiográficas descrevem a vida e os costumes na Inglaterra rural e
de cidade pequena nos fins do século XIX. Críticos atribuem o sucesso da série
parcialmente como válvula de escape pro caos e sofrimento advindos da Segunda
Guerra Mundial. Era como se a retomada de uma Inglaterra extinta funcionasse
como anestésico pra hecatombe do maquinário causador de morte e destruição.
Entre janeiro de 2008 e fevereiro deste ano, a BBC
levou ao ar uma produção baseada nos relatos da narradora adolescente Laura
Timmings, que sai da aldeia de Lark Rise e vai pra cidade de Candleford,
trabalhar na agência dos correios, administrada por Dorcas Lane. Sucesso de
público, em meio a outra crise geral do capitalismo, que levou a Inglaterra à
recessão. Novamente, Flora Thompson proporcionou válvula de escape pruma velha
Inglaterra, idealizadamente mais simples, mas onde as máquinas estavam chegando.
Lark Rise to Candleford – a série – descreve o ocaso duma época rural e o
nascimento duma sociedade urbana, embora esta última seja presença invisível,
que ronda e avança, mas é vista apenas no último episódio, mesmo assim, de
leve.
Segundo os produtores, a decisão de interromper a série
enquanto ainda desfrutava de alta audiência foi pra que a qualidade do show
sempre fosse lembrada como alta. Certamente será: Lark Rise to Candleford – a
despeito de certa indecisão acerca de que período se passa a trama – tinha
excelente produção e elenco (novidade? É BBC...), além de personagens
cativantes. Até o intolerante fanático religioso Thomas Brown é “gostável”; e
isso é perigoso. Os episódios transmitem a ilusão dos “bons velhos tempos”, quando
tudo era mais simples, e isso também tem seu perigo.
Embora tenha baixado bastante a guarda ao ver a série e
me emocionado por diversas vezes, sempre me vinha à mente a afirmação de Brecht
de que triste é a sociedade que necessita de heróis. Idealizar uma época em que
se morria fartamente de doenças corriqueiras e a condição de vida em geral era
bem mais rudimentar do que a de hoje coloca em xeque a própria noção de
progresso apontada no último capítulo.
Pobres
de nós que ainda precisamos de válvulas de escape como Lark Rise to Candleford.
Restam a esperança e a luta por um mundo onde o passado não precise ser
idealizado porque o presente será plenamente satisfatório.
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