Sem Vergonha de Ser Vulgar
Roberto Rillo Bíscaro
Ter séries estocadas sempre ajuda praquelas épocas de
trabalho excessivo, quando ver longas-metragens fica impraticável ou ocasional.
Sitcoms melhor ainda: duram 25 minutos e dá pra ver antes de nanar, pra baixar
a adrenalina da viagem de volta pra casa.
Há algum tempo, terminei a primeira temporada de Mike
& Molly, sucesso da CBS que deu o Emmy de melhor atriz cômica a MelissaMcCarthy (Molly). Longe de ser brilhante como Modern Family, Mike & Molly
safa-se de cair na marginalia pela simpatia e carisma de McCarthy e Billy
Gardell (Mike), e alguns coadjuvantes.
Mike e Molly são obesos que se conhecem numa reunião
dos Comedores Anônimos e iniciam relação amorosa. A primeira temporada é uma sucessão
de estréias: primeiro dia de Ação de Graças, primeira transa, primeira briga
etc.
Piadas sobre obesidade abundam. Nos gordos Estados
Unidos, o show tira o maior sarro da gordura, ás vezes de forma bem mesquinha.
Na verdade, muito do humor de Mike & Molly resvala
pra vulgaridade, como as tiradas sobre odores corporais ou outras atividades
escatológicas. Finesse não é o forte dessa sitcom, que também carrega nas
piadas sobre sexo (até eu me surpreendi com algumas!).
Imagino que o carisma dos obesos Gardell e McCarthy tenha
barrado a potencial enxurrada de reclamações dos telespectadores acima do peso,
caso as piadas tivessem sido feitas por magros. De qualquer modo, difícil
resistir à simpatia dos dois, exceto nos momentos em que somos desnecessariamente
lembrados que os pés de Mike cheiram a queijo parmesão.
As personagens de apoio constituem fauna
monodimensional bastante excêntrica como a mãe amarga, a irmã maconheira,
ninfomaníaca e estúpida e o namorado da mãe, movido a Viagra.
Embora a inclusão de obesos como par romântico
protagonista e sexualmente ativo seja diferencial louvável, Mike & Molly
não faria jus ao rótulo de “humor inteligente” e nem reclama tal título. Melhor
assim, pelo menos não vende gato por lebre perpetrando grosserias reacionárias sobre
grávidas e seus fetos, passando-se por “crítico”.
Mike
& Molly é o que é: humor vulgarete com pinceladela inclusiva. Se
conseguisse me sentir culpado por ver tais coisas, o show estaria alojado na
minha lista de “guilty pleasures”.
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