terça-feira, 25 de outubro de 2011

TELINHA QUENTE 28


Sem Vergonha de Ser Vulgar

Roberto Rillo Bíscaro

Ter séries estocadas sempre ajuda praquelas épocas de trabalho excessivo, quando ver longas-metragens fica impraticável ou ocasional. Sitcoms melhor ainda: duram 25 minutos e dá pra ver antes de nanar, pra baixar a adrenalina da viagem de volta pra casa.
Há algum tempo, terminei a primeira temporada de Mike & Molly, sucesso da CBS que deu o Emmy de melhor atriz cômica a MelissaMcCarthy (Molly). Longe de ser brilhante como Modern Family, Mike & Molly safa-se de cair na marginalia pela simpatia e carisma de McCarthy e Billy Gardell (Mike), e alguns coadjuvantes.
Mike e Molly são obesos que se conhecem numa reunião dos Comedores Anônimos e iniciam relação amorosa. A primeira temporada é uma sucessão de estréias: primeiro dia de Ação de Graças, primeira transa, primeira briga etc.
Piadas sobre obesidade abundam. Nos gordos Estados Unidos, o show tira o maior sarro da gordura, ás vezes de forma bem mesquinha.  
Na verdade, muito do humor de Mike & Molly resvala pra vulgaridade, como as tiradas sobre odores corporais ou outras atividades escatológicas. Finesse não é o forte dessa sitcom, que também carrega nas piadas sobre sexo (até eu me surpreendi com algumas!).
Imagino que o carisma dos obesos Gardell e McCarthy tenha barrado a potencial enxurrada de reclamações dos telespectadores acima do peso, caso as piadas tivessem sido feitas por magros. De qualquer modo, difícil resistir à simpatia dos dois, exceto nos momentos em que somos desnecessariamente lembrados que os pés de Mike cheiram a queijo parmesão.
As personagens de apoio constituem fauna monodimensional bastante excêntrica como a mãe amarga, a irmã maconheira, ninfomaníaca e estúpida e o namorado da mãe, movido a Viagra. 
Embora a inclusão de obesos como par romântico protagonista e sexualmente ativo seja diferencial louvável, Mike & Molly não faria jus ao rótulo de “humor inteligente” e nem reclama tal título. Melhor assim, pelo menos não vende gato por lebre perpetrando grosserias reacionárias sobre grávidas e seus fetos, passando-se por “crítico”.  
Mike & Molly é o que é: humor vulgarete com pinceladela inclusiva. Se conseguisse me sentir culpado por ver tais coisas, o show estaria alojado na minha lista de “guilty pleasures”.

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