segunda-feira, 7 de novembro de 2011

CAIXA DE MÚSICA 49


A Tia Inglesa da Lady Gaga

Roberto Rillo Bíscaro

Antes de escrever sobre Dale Bozzio, predecessora de Lady Gaga, estava a ouvir frequentemente o álbum Colour By Numbers (1983), sucesso transnacional do Culture Club. A acessibilidade radiofônica calculada de Colour By Numbers e a figura travestida do vocalista Boy George transformaram o álbum num dos mais importantes do pop oitentista mais comercial.
Garoto George apostava as fichas em maquiagem pesada e figurinos extravagantes. Androginia que não deixava de ter algo de circense e, por isso, meio inofensivo e palatável pra “família”. Até minha mãe amava Boy George!
A língua ferina garantia frases de efeito pra mídia. Desavergonhadamente bicha louca, o artista é, sem dúvida, uma das figuras mais reconhecíveis da década. É a tia inglesa de Lady Gaga, sendo que esta última perde de longe em termos de declarações bombásticas.
Colour By Numbers gerou diversos singles de sucesso, dentre eles uma das canções-marca dos anos 80: Karma Chameleon. Impossível conceber uma coletânea de sucessos da década que deixe de fora o pastiche country-pop irresistivelmente fácil, dançante e karaoquezante da faixa de abertura. Clássico.
Como tantos outros branquelos ingleses da época, La George queria mesmo era ter sido neguinha em Detroit. O álbum traz deliciosos arremedos de soul. Basta checar Black Money, Church of the Poison Mind e That’s the Way. Nessas e em um par de outras George é auxiliado com os poderosos vocais de Helen Terry, uma proto-Adele magra. Como pensar em Culture Club da primeira metade dos 80s sem pensar no incêndio vocal de Terry?
Miss me Blind é roquinho domesticado dançante. Colour By Numbers é pop até a medula e transforma em chiclete tudo o que vê pela frente em favor de diversão - e vendas, claro, porque, afinal, a tia de Gaga gastava muito em maquiagem, genti!
Ouvindo-se Miss Me Blind dá até pra esboçar cara de mau de mentirinha e a bossa-pop de Changing Every Day cai bem com carinha de entojo e beicinho (como a capa do álbum). Até os fillers do maldito álbum são bons!
Victims encerra os trabalhos com drama, exagero e lágrimas. Baladaça orquestrada com coro. Impressão minha ou a primeira metade dos anos 80 é meio exagerada em alguns aspectos? Incrível como os norte-americanos perderam essa faixa como single!
Colour By Numbers foi o pico da carreira do Culture Club e de Boy George. 3 anos mais tarde, jornais do estampavam a notícia de que a médica do cantor dava-lhe apenas 3 semanas de vida, caso não se desintoxicasse da heroína. Calculista como Mama Madonna, não vejo perspectiva disso acontecer com Lady Gaga. Boy George fez muita coisa primeiro que ela... Com pipiu e tudo!
Graças ao You Tube, temos acesso ao álbum completo e, graças a fãs, vídeos com fotos. Servirão pras novas gerações conhecerem George e pra nós nos lembrarmos da época.

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