Seus pais eram negros, mas ela tem aparência de branca. Kenosha
Robinson discorre sobre tentar entender onde ela se encaixa.
(Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)
Mais
tarde, compreendi que aquilo era para mim e não para a boneca. Como ela, eu era
loira de olhos verdes; a única em emio a uma massa de peles marrons. Sou uma
afro-americana nascida com uma anomalia genética chamada albinismo, o que
significa que não tenho pigmentação em meu corpo. O albinismo é recessivo,
então ambos os pais têm que carregar os genes para conceber uma criança albina.
É mais comum do que se imagina – uma em cada 17.000 crianças nasce albino.
Papai
morreu de pneumonia, quando eu tinha 7 anos. O que mais me lembro dele era o
modo como me defendia. Um dia, perguntei a ele:"por que as pessoas vivem
olhando para mim?” Ele respondeu: " porque você é linda."
Os
temores de mamãe eram mais práticos: o sol me faria mal se ela me deixasse
brincar ao ar livre? A total ausência de melanina na minha pele, significa que
não me bronzeio, apenas queimo! Toda vez que íamos a uma reunião familiar ou
piquenique da igreja, ela me lambuzava de protetor solar e me fazia usar
chapéu. Durante o recreio, tinha que me sentar à sombra. Na quarta série, mamãe
escreveu um bilhete para a professora me dispensar de uma atividade ao
ar-livre. Mas, eu não entreguei o bilhete e ao invés disso, brinquei o dia
inteiro no sol quente. Quando mamãe veio me buscar, ela notou que meu rosto
estava vermelho, assim que entrei no carro. Tentei inventar histórias, mas
minha cara ficava cada vez mais vermelha e meu corpo se cobria de bolhas.
Fiquei tão mal, que não compareci às aulas durante uma semana.
Meus
problemas de saúde garantiram que eu jamais fizesse parte da turminha da moda.
Eu detestava ter que suar chapéu. Mas, mais que tudo, eu odiava as perguntas
sobre meus olhos. Quando uma pessoa nasce albina, ela é geralmente declarada
legalmente cega. Embora eu consiga enxergar, tenho nistagmo, que faz com que
meus olhos mudem rapidamente de um lado a outro, a fim de acharem um ponto
focal. Toda vez que conheço alguém, conto os minutos para o fatídico: "o
que há de errado com seus olhos?"
Todos
conhecem o tenso passado racial do Mississippi. Embora a Ku Klux Klan não
esteja mais em plena forma, Jim Giles concorreu 2 vezes para o senado – ainda
que sem sucesso – com uma plataforma baseada na supremacia branca. Brancos e
negros raramente se misturam. Estranhamente, eu me sentia como o desconfortável
ponto de encontro entre esses 2 grupos. No Ensino Médio, ganhei o respeito de
meus colegas brancos pela minha esperteza e respostas rápidas. Fui eleita
presidente da classe. Mas, eles também me excluíam socialmente. Quando eu
perguntava o que fariam no fim de semana, tentavam me despistar, inventando
alguma bobagem que tinham que fazer.
Em
outras ocasiões, eles eram abertamente rudes, combinando programas para o fim
de semana na minha frente, se me convidar. Minhas amigas negras também eram
respeitosas na escola, mas, ao mesmo tempo me evitando no rinque de patinação
ou no shopping, especialmente quando meninos estavam por perto.
Nem
gosto de me lembrar do pesadelo da formatura de segundo grau. Um negro poderia
levar uma branca ao baile, mas, levar a negra que parecia branca era outra
história. Um dia, em classe, os negros mais populares me perguntaram quem me
levaria. Titubeante, disse que iria sozinha. Ouvi um cochichar: "E quem
iria querer levar ela?" No final, acabei ficando em casa. Olhando para
trás, não dá para acreditar que eu estava tão intimidada a ponto de não ir a
minha formatura.
A
certa altura, ocorreu-me que precisava “escolher” minha raça – a vida seria
mais fácil se eu me alinhasse a um lado, ao invés de ficar constantemente me
explicando a ambos. Escolhi os negros, afinal, compartilhamos uma herança e no Mississippi,
existe muito orgulho na comunidade negra. Ainda assim, sentia a necessidade de
provar minha negritude. Comecei então a usar gírias e a escutar rap. Eu
acreditava que se soubesse letras de canções que falavam sobre dentes de ouro,
dinheiro, mulheres e carros, faria parte do gueto.
A
despeito de meus esforços, eu continuava sendo confundida com uma branca.
Então, eu me juntei a um grupo completamente diferente: os palhaços da classe. Eu
me ridicularizava como forma de esvaziar de antemão os comentários alheios. Por
exemplo, eu brincava que era branca o suficiente para dizer que estava sendo
sequestrada, caso estivesse no carro com meus amigos negros e a polícia nos
mandasse parar devido a alta velocidade. No fundo, claro, ainda era a velha
história: eu tinha medo de me olhar no espelho.
Quando
chegou a época de escolher uma faculdade, cogitei ir para uma predominantemente
frequentada por negros. Minha mãe mostrou-se hesitante e, no final, eu também.
Ao invés, escolhi
Millsaps,
maciçamente branca, onde estou no primeiro ano.
No
refeitório, a segregação racial impera: negros e brancos quase nunca comem na
mesma mesa. Há alguns meses, alguns estudantes negros apareceram numa festa em
uma república de brancos
Eles
foram expulsos e xingados de todos os nomes racistas imagináveis. Fiquei
furiosa, mesmo que não tenha acontecido comigo. Minha lealdade é para com a
comunidade negra. Jamais pisarei naquela casa novamente.
Foi
a partir daí que comecei a reclamar minha identidade, usando um tradicional
corte de cabelo africano. Eu o altero semanalmente, criando uma nova identidade
com cada novo visual. Satisfaz-me saber que, se não posso mudar a cor de minha
pele, pelo menos tenho meu cabelo para fazer do meu gosto.
Minha
autoestima está em desenvolvimento. Às vezes, estou conversando com um amigo
negro, olho para minha pelee me sinto totalmente exposta, tipo, “sou branca e
todo mundo percebe."
Mas,
estou me fortalecendo e aprendendo que não tem problema ser Nosha, esta garota
sorridente de 75 kg. Mesmo assim, ainda tenho inveja de garotas com lindas
peles cor de chocolate ou caramelo.
Meu
último namorado me fez sentir especial com relação a meu albinismo. Ele ficava
doido por eu ser única e isso me deu muita confiança. O homem com quem eu
casar, terá que ser assim. Provavelmente eu queira me casar com um negro –
mesmo ciente de que será estranho ter filhos com peles diferentes da minha – e
exigirei que ele faça o exame para determinar se carrega o gene do albinismo.
Mesmo sendo feliz hoje, não desejo que ninguém passe pelo que passei.
http://www.marieclaire.com/world-reports/news/black-white-skin
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Em cada linha destas histórias vejo minha vida. Talvez eu não tenha tido o apoio necessario durante minha adolescencia ;diriamos que os meus familiares evitassem tocar no assunto :albinismo . Então me perdi um pouquinho .Mas ao ler estas Histórias e conhecer este blog ,conhecer a comunidade o Roberto a Andreza seus irmaos a Miriam e todos os albinos .Minha vida mudou mudou muito ! Agora me respeito muito mais me amo muito mais ... é uma pena que ja estou nos 53 anos ..mas mesmo assim valeu ter encontrado todos estes albinos ...Se eu fosse mais jovem minha vida teria sido outra agora .Miguel José Naufel
ResponderExcluir