Confissões de
um Albino Afro-Americano
(Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)
Marlon Brown não difere da maioria dos
negros ambiciosos e instruídos na faixa dos 20 anos.
Ele brilhou na escola, conseguiu um
diploma de ciência política, seguido de um mestrado. Atualmente, trabalha como analista
de orçamentos para o Estado de Michigan.
O que o diferencia é o fato de ser
albino.
Ele conta que quando tinha 5, 6 anos,
começou a inquirir seus pais sobre por que sua aparência era diferente. “Eles
me explicaram que eu era afro-americano, mas não tinha pigmentação normal”, diz
o jovem de 27 anos, nascido em Detroit e criado nos subúrbios de Michigan.
"Eles me ensinaram que o albinismo me tornava especial e único."
Marlon Brown não é o único, porém. O
albinismo é uma rara condição genética herdada, que atinge aproximadamente 17,000
nos EUA. Albinos não têm pigmentação no cabelo, na pele e nos olhos e a maioria
tem problemas de visão.
Brown, que é filho único, diz que a
atitude positiva dos pais e o desejo deles de que o filho vencesse foram
determinantes.
Ele admite, contudo, que crianças
tendem a ser cruéis, por isso ele foi assediado. Elas se aproximavam dele e perguntavam-lhe porque ele não se
parecia com os pais. “As crianças me chamavam de Gasparzinho e outros apelidos.
A partir do Ensino Médio, houve uma
gradual melhora nos níveis de aceitação. Ele conta, "Embora eu não saiba
dizer se isso foi reflexo de meus talentos e de minha postura ou se a sociedade
está se tornando mais aberta. Provavelmente seja uma combinação das 2 coisas.
Quando encontro crianças albinas, sempre digo a eles que a fase mais difícil é
antes dos 17."
Alguns albinos afro-americanos ganharam
fama, como o comediante Victor Varnado, o músico Yellowman e os modelos Shaun
Ross e Diandra Forrest. Isso contribuiu para divulgar a condição genética.
Para alguns albinos, os maiores
desafios são socioculturais. O fato de serem “negros de pele branca” complica
sua identidade racial e cultural.
Em uma matéria para a revista Marie
Claire magazine,
Kenosha Robinson escreveu:“Crescendo em Jackson, MS, aproximei-me dos brancos.
Suponha que eu sentia que aquilo era natural, afinal, eu me parecia com eles.
Enquanto minhas primas ganhavam bonecas negras no Natal, as minhas eram sempre
branquinhas. Uma vez, na hora do recreio, uma das meninas negras disse que eu
não poderia me juntar ao grupo porque minha boneca era da cor errada.
Brown afirma que jamais teve problemas
para entender quem é e que nunca lhe passou pela cabeça “se passar por branco.”
“Nunca tive problemas de identidade
racial”, diz Brown, que recentemente se casou com uma afro-americana com pele
“cor de caramelo”, segundo sua descrição. "Fui criado em uma igreja negra,
cresci ouvindo Motown e participava ativamente nos grupos de estudantes negros
da faculdade."
Brown, que toca trombone e piano,
afirma ainda ser bastante influenciado por gospel e jazz e toca em um grupo de
jazz em sua igreja.
Ele admite que mesmo com sua fisionomia
afro-americana ele às vezes é confundido com brancos. Ele se lembra de uma
ocasião, numa aula de inglês do primeiro ano de faculdade, quando ele e um
grupo de alunos discutiam o livro Savage Inequalities, de Kozol. Um dos
estudantes disse: “Bem que podia haver um afro-americano na classe, assim,
poderíamos conhecer o ponto de vista dele”, completa Brown, que é loiro de
olhos azuis.
Seu maior desafio é a saúde,
especialmente porque ser albino significa que ele é deficiente visual. “Minha
preocupação é como estarão meus olhos, quando eu ficar velho e quais
tecnologias assistivas estarão à disposição para auxiliar minha visão",
desabafa o jovem, que usa óculos desde os 5 anos.
A falta de pigmentação na pele
significa que ele é suscetível a queimaduras solares e câncer de pele. Nos dias
de sol ele tem que “usar bloqueador, boné e tomar muito cuidado com a pele."
Apesar das dificuldades, Brown tem
elevada autoestima e atitude positiva. “Não vivo pensando em meu albinismo.
Todo mundo tem que atingir um ponto de autoaceitação”.
Ele é muito ambicioso e seu objetivo a
longo prazo é concorrer a um cargo público. Ele trabalhou para a senadora Debbie
Stabenow, de Michigan e para o deputado John Conyers. Ele também trabalhou na assembleia
legislativa de Delaware e para a prefeita de Baltimore, Sheila Dixon.
Em 2008, ele concorreu à assembléia de
Michigan pelo partido Democrata. Como marinheiro de primeira viagem, ele teve
baixa porcentagem de votos, mas afirma que a exposição rendeu-lhe dividendos.
“Uma das vantagens de ser albino é que
as pessoas se lembram de mim e isso é ótimo, porque, afinal de contas, pretendo
fazer carreira na política.”
A julgar por sua determinação e
autoconfiança, há fortes chances de ele se tornar um dos poucos – se não o
único – político afro-americano albino.
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