Individualizando o Coletivo
Em 1968, a fábrica da Ford no subúrbio londrino de Dagenham
possuía dezenas de milhares de funcionários contra menos de 3 centenas de
operárias, as quais ganhavam muito menos que os primeiros. Revoltadas contra
essa discriminação, a mulherada aproveitou o levante generalizado da década dos
Beatles e entrou em greve.
No princípio, não foram levadas à sério, mas, quando o
estoque de assentos que produziam acabou, a fábrica teve que parar a produção.
O governo trabalhista apoiou a reivindicação por equidade salarial e as
grevistas de Dagenham serviram de motivo e inspiração pra criação de legislação
garantindo isonomia entre os gêneros em diversos países do ocidente
industrializado. A Ford é tida hoje como modelo em equiparação salarial, mas isso
foi resultado de pressão e não de bondade patronal.
Quase esquecida, a greve foi tematizada no filme Made
in Dagenham (2010), dirigido por Nigel Cole. O roteirista Billy Ivory amalgamou
diversas grevistas e criou a personagem Rita O’Grady (bem interpretada por
Sally Hawkins), uma versão britânica da norte-americana Norma Rae, que funciona
como cabeça da paralisação. Claro que o subterfúgio mostra os limites da
narrativa/ideologia burguesa centrada no indivíduo, mas não deixa de render um
filme interessante, ainda que destituído de surpresas.
Rita trilha os passos típicos desse tipo de filme:
insegurança; conflitos familiares; ameaças; incompreensão, mesmo dentro do
sindicato e do partido (sem deixar de haver uma alfinetada nos comunistas) e as
esperadas superação e vitória.
O
arquétipo de Davi contra Golias e a humanização das personagens contribuem pro
sucesso da película, que, tem a seu favor o fato de relembrar a possibilidade
de reivindicação laboral em uma época em que o termo “flexibilização” camufla uma
geral deterioração das condições de trabalho.
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