quinta-feira, 17 de novembro de 2011

TELONA QUENTE 36

Individualizando o Coletivo

Em 1968, a fábrica da Ford no subúrbio londrino de Dagenham possuía dezenas de milhares de funcionários contra menos de 3 centenas de operárias, as quais ganhavam muito menos que os primeiros. Revoltadas contra essa discriminação, a mulherada aproveitou o levante generalizado da década dos Beatles e entrou em greve.
No princípio, não foram levadas à sério, mas, quando o estoque de assentos que produziam acabou, a fábrica teve que parar a produção. O governo trabalhista apoiou a reivindicação por equidade salarial e as grevistas de Dagenham serviram de motivo e inspiração pra criação de legislação garantindo isonomia entre os gêneros em diversos países do ocidente industrializado. A Ford é tida hoje como modelo em equiparação salarial, mas isso foi resultado de pressão e não de bondade patronal.
Quase esquecida, a greve foi tematizada no filme Made in Dagenham (2010), dirigido por Nigel Cole. O roteirista Billy Ivory amalgamou diversas grevistas e criou a personagem Rita O’Grady (bem interpretada por Sally Hawkins), uma versão britânica da norte-americana Norma Rae, que funciona como cabeça da paralisação. Claro que o subterfúgio mostra os limites da narrativa/ideologia burguesa centrada no indivíduo, mas não deixa de render um filme interessante, ainda que destituído de surpresas.
Rita trilha os passos típicos desse tipo de filme: insegurança; conflitos familiares; ameaças; incompreensão, mesmo dentro do sindicato e do partido (sem deixar de haver uma alfinetada nos comunistas) e as esperadas superação e vitória.
O arquétipo de Davi contra Golias e a humanização das personagens contribuem pro sucesso da película, que, tem a seu favor o fato de relembrar a possibilidade de reivindicação laboral em uma época em que o termo “flexibilização” camufla uma geral deterioração das condições de trabalho.

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