Encontrei um longo artigo sobre a estigmatização dos albinos em partes da África no site Albinism Research Today
É um texto longo, mas que certamente interessará aos falantes de português que pesquisem sobre o assunto, por isso, resolvi traduzi-lo.
Quem quiser acesso às tabelas, notas de rodapé e referências bibliográficas, leia o artigo em inglês no link, de onde um arquivo em PDF pode ser baixado
http://www.derm.theclinics.com/article/S0733-8635(10)00140-3/abstract
CAMPANHAS DE CONSCIENTIZAÇÃO
É um texto longo, mas que certamente interessará aos falantes de português que pesquisem sobre o assunto, por isso, resolvi traduzi-lo.
Quem quiser acesso às tabelas, notas de rodapé e referências bibliográficas, leia o artigo em inglês no link, de onde um arquivo em PDF pode ser baixado
http://www.derm.theclinics.com/article/S0733-8635(10)00140-3/abstract
Albinismo na África: estigma, matança e campanhas de conscientização.
Andres E. Cruz-Inigo, Barry Ladizinski e AishaSethi
(Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)
Com seu nome originado da palavra latina albus (branco), o albinismo é uma desordem genética, que resulta na diminuição ou ausência de pigmentação no cabelo, olhos e pele. A prevalência do albinismo oculocutâneo (OCA) é de cerca de 1 em cada 37.000 pessoas nos EUA e 1 em cada 20, na maioria das demais populações. A porcentagem em regiões da África sub-saariana é estimada em cerca de 1 em cada 4 mil no Zimbabwe e 1 em cada 1429 na Tanzânia. O albinismo surge mais comumente de mutações em genes que codificam as proteínas envolvidas na síntese ou transporte de melanina pelos melanócitos. Além de fornecer cor à pele, a melanina protege-a dos efeitos deletérios da radiação ultravioleta (UVR), e, embora presentes, os melanócitos são defeituosos no OCA, predispondo os indivíduos a patologias cutâneas e oculares. Isso é particularmente problemático para albinos vivendo nosul da África, os quais sofrem emocional e fisicamente de enfermidades dermatológicas e, mais recentemente, precisam enfrentar o perigo de serem caçados para a retirada de partes de seus corpos. Assim, é imperativo informar à comunidade médica e ao público geral nacional e internacional sobre as tragédias enfrentadas pelos albinos para protegê-los do câncer de pele e dos assassinatos ritualísticos por indivíduos buscando riquezas através de mercados clandestinos perpetradores de feitiçaria.
DESMISTIFICANDO FALSAS CONCEPÇÕES SOBRE O ALBINISMO
Na África, um número indeterminado de pessoas albinas – especialmente crianças – tem sido vítima de brutais ataques e assassinatos em função da feitiçaria, superstição e promessa de riqueza. Recentemente, as atrocidades cometidas contra os albinos têm ganhado atenção mundial, devido à denúncia de vários crimes, como infanticídios, raptos, amputações e decapitações, cometidos para suprir a demanda de partes de corpos usados como amuletos, as quais são vendidas no mercado do sub-mundo da bruxaria. Por exemplo, um kit de braços, pernas, orelhas e genitais de um albino pode valer até US $75,000. Por isso, os albinos são obrigados a viver em permanente estado de angústia e culpa, frequentemente forçados a fugirem de suas casas e viverem isolados para evitarem os caçadores de albinos. As forças principais subjacentes nesses crimes são a ignorância, o mito e a superstição, como a crença de que indivíduos com albinismo possuem superpoderes ou que as partes de seus corpos trazem riqueza e saúde. Destarte, o estigma e as atrocidades que afetam a população albina podem ser atribuídos à falta de familiaridade e conhecimento sobre o albinismo, atrelado á ignorância. Comparados aos albinos dos países desenvolvidos, os do Sub-Saara padecem pela falta de acesso à saúde e conscientização a respeito de sua condição. Isso pode manifestar-se no surgimento elevado e precoce de câncer de pele, óbitos e exclusão.
Baseando-se fundamentalmente em seu caráter autossômico de herança recessiva, a prevalência e mortalidade do albinismo poderiam ser diminuídas com a educação entre crianças na idade escolar, particularmente enfatizando-se as conseqüências do casamento entre parentes. Embora muitas das causas e estruturas de herança do albinismo tenham sido descobertas, muitas comunidades são desinformadas a respeito das implicações de matrimônios consanguíneos. Desse modo, a alta incidência de OCA em certas regiões da África sub-saariana pode ser devido ao estímulo a matrimônios consangüíneos. Por exemplo, algumas comunidades costeiras da Tanzânia “são matrilineares. Filhos de um tio materno pretencem ao clã de sua esposa, portanto, a um clã diferente dos filhos de suas irmãs e irmãos. Primeiros em primeiro grau, podem, assim, se casarem aumentando as chances de filhos albinos. Junta-se a isso, a tradição árabe de casamentos entre parentes nas populações costeiras, a fim de que o patrimônio familiar permaneça dentro do clã.”
Essas práticas inevitavelmente aumentam a incidência de albinismo entre os filhos de pais-parentes. Entretanto, o tradicional casamento consangüíneo não é a única razão para a alta incidência da condição em certas regiões, uma vez que “comunidades podem apresentar menos casos, porque em muitas áreas ainda existe a prática do infanticídio. Parteiras tradicionais podem, algumas vezes, matar bebês albinos e o caso é então apresentado como óbito no nascimento.” Tal evidência ressalta o severo estigma e concepções errôneas associadas ao albinismo e a necessidade de maior conscientização. Tanzanianos e outros habitantes da África sub-saariana crêem em numerosos mitos e superstições a respeito da etiologia do albinismo, por não conhecerem sua causa genética, contribuindo assim para sua alta incidência. Por exemplo, Lund pesquisou 138 estudantes (media etária de 14.4 anos) albinos no Zimbabue a respeito do que causava o OCA. 70 (50.7%) desconheciam o motivo de não terem pigmentação e serem diferentes de seus colegas; 15 (10.9%) apresentaram uma razão biológica; 19 (13.8%) atribuíram a responsabilidade a Deus e 13 (9.4%) apresentaram outras causas incorretas, como bruxaria, punição para um membro da família que zombava de albinos e “a falta da camada exterior da pele.” Outras concepções falsas incluem a crença de que a mãe foi engravidada por um branco ou que o demônio substituiu a criança africana por uma albina. Além disso, embora mais de 50% dos albinos na Tanzânia tenham um parente albino, a maioria não reconhece sua causa genética. Em um estudo que avaliou atitudes e crenças sobre o albinismo, McBride e Leppard demonstraram que embora 59 entrevistados tivessem um parente albino, apenas 13 acreditavam que a condição era herdada. Em algumas regiões, as falsas concepções sobre a causa do albinismo podem adentrar a área da saúde, incluindo médicos e enfermeiras, que podem ter a impressão de que o albinismo é contagioso, e assim, o contato físico e social com albinos deva ser evitado.
Além dos traços físicos distintos do albinismo, a estrutura social e o supersticioso sistema de crenças pavimentam o caminho para o preconceito e a rejeição social. No Zimbabue, albinos são chamados de “sope,”, sugerindo que são possuídos por espíritos malignos. Na Tanzânia, são também ridicularizados e chamados de “nguruwe,” significando porco; “zeru,” fantasma; ou “mzungu,” denominação de pessoa branca. Desde a infância, sua aparência física atípica, quando comparada com “membros da família de pigmentação normal (sic) e com o restante da comunidade negra, resulta em problemas de aceitação e integração social.”
Lund relatou que estudantes albinos em uma escola no Zimbabue não apenas eram ridicularizados e xingados, mas também fisicamente agredidos e evitados pelos colegas, que não comiam ou brincavam com eles. Alguns pesquisados relataram que eram evitados e zombados por familiares, que não dividiam comida ou roupas com seus parentes albinos. Muitas crianças albinas eram proibidas de visitarem os locais de trabalho de seus pais e algumas vezes expostas ao sol para se acostumarem á radiação. Por isso, não surpreende que um albino de 15 anos tenha confessado: “não consigo ver bem a lousa. Não consigo trabalhar ao ar livre, fazendo tarefas manuais. Não gosto de andar pra fazer esportes na escola. Sinto-me sempre humilhado porque os outros alunos me xingam.” Embora alguns albinos desfrutem de famílias que os apóiem, uma vez que saem para o mundo exterior, muito são rejeitados por empregadores, fenômeno que alguns chamam de “apartheid ao contrário. As superstições que cercam o albinismo podem colocar suas mães em situações vulneráveis, sujeitas à estigmatização e assédio, resultando em sério estresse psicossocial.
Como indica o termo médico, o OCA também afeta os olhos: estudos indicam que até 100% dos albinos possuem alguma forma de deficiência visual. Distúrbios óticos associados à condição incluem a hipopigmentação da íris e da retina, hipoplasia foveal, hipermetropia, estrabismo, fotofobia, perda da percepção estereoscópica e nistagmo. Tais deficiências afetam, componentes importantes da aprendizagem, como a ler e enxergar o quadro-negro. Esses obstáculos colocam os alunos albinos em desvantagem, pois muitos não podem pagar por tratamento oftalmológico ou aparelhos que ajudem a enxergar. Deficiências visuais, pobreza, falta de acesso a tratamentos de saúde e educação adequada inevitavelmente resultam em desempenho educacional ruim e frustração contínua. Isso alimenta um círculo vicioso que impede os albinos de vencerem e condena-os ao trabalho manual ao ar-livre, como nas plantações de sisal, aumentando o risco de câncer de pele.
Devido á falta de melanina, que funciona como proteção da pele contra a radiação UV, albinos são predispostos a vários tipos de danos solares á pele, tais como queilite actínica, queratose actínica e vários tipos de câncer de pele. A probabilidade de danos aumenta nas regiões tropicais, onde a quantidade de roupa usada é geralmente mínima ao passo que exposição diária á radiação UV é máxima. Estudos demonstram que o risco de doença dermatológica em áreas expostas ao sol (rosto, orelhas, pescoço e ombros) aumenta em indivíduos com OCA, que podem apresentar queratoses já aos 8 anos de idade. Pesquisa entre albinos tanzanianos revelou que 100% exibiam danos na pele ao fim do primeiro ano de existência. Sintomas avançados de câncer foram observados em 50% daqueles entre 20 e 30 anos; além de um caso de câncer de pele em uma criança de 9 anos. Em estudo na Nigéria, nos anos 1980, nenhum albino com mais de 20 anos estava livre de lesão cutânea maligna. Menos de 10% dos albinos da área de Dar es Salaam conseguiam passar dos 30 anos. Na Tanzânia, estima-se que menos de 2% das crianças albinas atinjam os 40 anos. Estudo mais recente, conduzido no norte do país, constatou que albinos vivem consideravelmente mais, devido a proteção preventiva do sol. Mesmo assim, em regiões assoladas pela pobreza, bloqueadores solares estão fora do alcance e disponíveis apenas para limitada parcela da população. Assim, estratégias devem prever evitar a exposição ao sol e outros meios de precaução, desde a infância.
Nos anos 80, em Dar es Salaam, indivíduos albinos iam da apresentação de patologias cutâneas irreversíveis à metástase, em 4 anos, causada principalmente por carcinoma escamoso na cabeça e pescoço. Falta de acesso a tratamento médico ou descuido podem ser razões sobre o porquê de o câncer de pele ser mais letal na população albina perto do Equador do que nos países desenvolvidos. A mortalidade por carcinoma escamoso em indivíduos de pele clara em nações equatoriais desenvolvidas é baixa, mas, entre albinos na Nigéria e Tanzânia é muito alta. A baixa expectativa dos albinos é claramente multifatorial. Albinos frequentemente fracassam na escola. Estudo indicou que apenas 12 entre 350 albinos adultos trabalhavam em ambientes fechados, sugerindo que ocupações ao ar-livre contribuem para a redução da expectativa de vida dessa população. Como dito anteriormente, albinos são frequentemente discriminados e o sistema educacional não possui provisões adequada para sua baixa visão, a fim de permitir-lhes serem bem sucedidos e competir com os não-albinos. Por exemplo, em seu editorial “Pele Negra, Almas Brancas”, Kuster indica que no Malaui “é comum a crença de que os albinos tenham baixa capacidade cerebral e sejam incapazes de atuarem no mesmo nível das ‘pessoas normais’.” O mesmo editorial relata que uma albina instruída jamais obteve emprego no Zimbabwe porque ”durante a entrevista os empregadores sempre diziam, de um jeito ou de outro, que uma secretária albina prejudicaria a reputação da empresa”, devido ao temor de que o albinismo seja contagioso.
O primeiro passo para assistir os albinos da África sub-saariana seria educar a população geral a respeito da causa do albinismo e diminuir sua incidência, através da conscientização acerca das implicações dos casamentos consangüíneos. A pobreza e o analfabetismo em algumas partes da África podem prejudicar a compreensão de que a união entre primos pode aumentar as chances de adquirir certas desordens genéticas. Conscientizar através de programas de rádio e currículos escolares pode ser útil na promoção da integração, ainda que o processo seja desafiador, posto o albinismo estar imerso em superstições e concepções falsas, que levam ao medo e à incompreensão. Albinos e seus pais devem entender as causas do albinismo, suas muitas implicações médicas e psicossociais e os modos apropriados de defesa contra a radiação URV. Em particular, os benefícios de se proteger contra o sol e as conseqüências dos ferimentos solares devem ser enfatizados, uma vez que estudos demonstram que muitos albinos não estão familiarizados com essas informações. Por exemplo, McBride e Leppard constataram que 10% dos albinos entrevistados aplicavam protetor solar apenas á noite e alguns não usavam roupas como chapéus de abas largas para se proteger do sol, devido a questões culturais ou de moda. Também é imperativo que mães de recém-nascidos albinos compreendam totalmente a condição, antes de terem alta do hospital, pois familiares e membros da comunidade podem duvidar da paternidade da criança, resultando em condenação da mãe e rejeição do bebê. Professores devem ser informados que crianças albinas são capazes como quaisquer outras, mas têm dificuldades com visão e leitura, desse modo requerendo textos com letras maiores e assentos mais próximos ao quadro. No departamento clínico, albinos deveriam ter exames dermatológicos, instruções a respeito de como se proteger do sol e produtos de proteção solar como bloqueadores, óculos escuros, roupas opacas que cubram a maior parte da pele, echarpes, meias de cano alto e chapéus com abas largas. Dado que a maioria dos albinos é desempregada, eles não têm como adquirir equipamentos de proteção solar – muitos caros na África. Assim, a sociedade deveria ser encorajada a estabelecer medidas para apoiar os albinos e seus familiares. Obras governamentais poderiam incluir a garantia de empregos em locais fechados, fornecimento de produtos contra radiação solar e financiamento de organizações envolvidas na conscientização e apoio ao albinismo.A maior parte das necessidades educacionais dos albinos não é atendida e na Tanzânia, ao contrário do Zimbabwe, não há legislação relacionadas a crianças com necessidades específicas. Atualmente, pouco pode ser conseguido sem ajuda do governo e assistência internacional. Um meio social excludente emperra o progresso de indivíduos com albinismo, estagnando seu potencial físico e intelectual, a despeito de sua vontade individual de progredir.
CAMPANHAS DE CONSCIENTIZAÇÃO
Recentemente, várias organizações dedicadas ao aumento da conscientização em relação ao albinismo têm sido criadas ao redor do mundo. O Centro de Treinamento Dermatológico Regional (CTDR), na Tanzânia, criou um programa de assistência a albinos e uma clínica dermatológica ambulante. O principal objetivo do CTDR é melhorar significativamente a qulaidade de vida dos albinos tanzanianos. Um médico e uma enfermeira visitam regularmente 10 aldeias em um raio de 100 km2 no consultório itinerante, nas áreas de Arusha e Kilimanjaro. Durante essas visitas, são realizadas consultas dermatológicas e produtos para proteção solar são fornecidos
A Dra. Aisha Sethi, professora-assistente na faculdade de medicina Pritzker, dedica seu tempo a educar a população do Malawi acerca do albinismo; seu interesse específico é eliminar as várias superstições sobre o OCA. Em 2007, ela fundou a primeira clínica de albinismo na capital do país, Lilongwe, e nos últimos 3 anos organiza o Dia da Consciência Albina no Malawi, dedicado à detecção do câncer de pele e denúncias de preconceito. Dorothy Shope, coordenadora educacional do setor de dermatologia do Instituto de Medicina da Universidade de Chicago, recentemente aconselhou a distribuição de lentes de aumento para os albinos, uma solução simples e barata para crianças sem acesso a cuidados oftalmológicos.
Fundado em 2003, O Centro Albino da Tanzânia tem por objetivo melhorar as vidas dos albinos através de assistência médico-educacional, para que possam viver com segurança, serem aceitos e prósperos. Em parceria com a fundação Hands of Africa e com a organização holandesa Stichting Afrikaanse Albinos (SAA), o objetivo-mor do Centro é construir uma fábrica de bloqueadores solares para suprir adequadamente as dezenas de milhares de albinos da Àfrica. O Centro também estabeleceu parceria com a Assisting Children in Need (ACN), a qual auxiliará a organização a expandir seu dormitório a fim de abrigar 80 crianças albinas. A Cordaid, outra organização holandesa, financia a educação de 38 alunos albinos. Além disso, o Centro montará uma unidade móvel de atendimento para servir aos mais de 800 albinos residentes na região de Arusha.
A Cruz Vermelha tem arrecadado comida, roupas, dinheiro, colchões e camas no Burundi, na tentativa de reintegrar albinos fugitivos na sociedade, ao mesmo tempo lutando para minimizar sua vulnerabilidade com relação a caçadores, câncer de pele e exclusão social e educacional. A entidade fundou diversas instituições para albinos fugitivos, como por exemplo a Kabanga School, na Tanzânia, que oferece abrigo e proteção a mais de 50 crianças albinas e suas mães, todos fugitivos devido ao medo de perseguição. Entretanto, a escola precisa urgentemente de apoio e melhorias, uma vez que não possui cozinha, refeitório e camas suficientes para acomodar o crescente número de albinos atraídos pela possibilidade de segurança. Bartha Ismaeli, uma albina de 15 anos, mudou-se recentemente para a escola com seus 3 irmãos albinos, após ouvir no rádio sobre os assassinatos de albinos. “Ficamos com medo de sermos atacados. Nos sentimos muito mais seguros aqui. Há um segurança durante o dia e à noite, 2 policiais armados aparecem e contam quantos somos, antes de entrarmos para o dormitório. Depois, eles patrulham a área toda á noite e daí, sabemos que estamos em segurança.”
Asante Mariamu (Obrigado Mariamu), organização batizada com o nome da tanzaniana
Mariamu Staford, sobrevivente de um ataque de caçadores de albinos, objetiva deter o assassinato de albinos na África Oriental, levar os criminosos a julgamento e condená-los, além de proporcionar educação e suprimentos para a prevenção do câncer de pele. Positive Exposure, projeto iniciado pelos fotógrafos Rick Guidotti e Diane McLean em 1997, retrata albinos sob uma ótica positiva, através de fotos e videoclipes, além de patrocinar oficinas de autoestima e luta por direitos.
A Organização Mundial da Saúde recentemente reconheceu o albinismo como um siognificativo problema de saúde na África Sub-saariana e estabeleceu o programa INTERSUN, que fornece informações sobre os efeitos nocivos da radiação UV, enfatizando que a superexposição ao sol pode danificar a pele, os olhos e o sistema imunológico. Outro grupo que merece destaque é a norte-americana NOAH, National Organization for Albinism and Hypopigmentation, atualmente patrocinando uma campanha para acabar com os assassinatos de albinos na África Oriental.
A perseguição aos albinos tem recebido atenção recentemente, em meios como o jornal New York Times e a BBC, que enfatizam histórias trágicas, como a do homem preso ao tentar vender sua própria esposa albina por US $3000 ou mães mortas a machadada por gangues que perseguiam seus filhos albinos.
Devido a essa perseguição insistente, muitos albinos escolheram esconder-se em áreas rurais isoladas, frequentemente separados de sua família e amigos. Além disso, desde 2007, mais de 60 albino foram mortos na Tanzânia e no Burundi, embora a taxa de condenações seja baixa. Em 2009, 3 homens foram condenados à forca pelo assassinato de um garoto albino, um caso histórico, que representou a primeira condenação pela morte de um albino.
No início de 2010, o congressista norte-americano Gerald Connelly, Democrata do estado da Virginia, urgiu o Presidente Barack Obama a participar da luta contra os assassinatos na África. Connonly foi motivado pelo seu encontro com Mariamu Staford, jovem tanzaniana que teve seus braços decepados por moradores de sua própria aldeia, cuja história também inspirou a formação da organização Asante Mariamu, por Susan e Doug DuBois. Connonly ficou chocado ao saber que embora Staford tenha sido capaz de identificar os culpados, eles não tenham sido denunciados ou presos. Em seu discurso, Connonly afirmou: “aplaudo a iniciativa do grupo de residentes que chamaram minha atenção para a história de Mariamu e outros albinos. Com a ajuda deles e a aprovação desta resolução hoje, talvez possamos colocar um fim a esses crimes horrendos. O Primeiro-Ministro Mizengo Pinda condenou essa violência contra os albinos, mas ainda existem barreiras judiciais e policiais.” A moção - que urge os governos africanos a tomarem medidas imediatas para condenar a violência contra os albinos e perseguir os perpetradores – foi aprovada quase unanimemente (418 contra 1) na Assembleia Legislativa da Virginia, em março de 2010. Depois disso, Mariamu retornou aos EUA para a colocação de braços mecânicos. Os países da Comunidade Europeia também condenaram os crimes na Tanzânia e no Burundi, pedindo justiça para as vítimas e condenados. Em julho de 2010, a 4ª Conferência nacional sobre Albinismo foi realizada em Sokoto, Nigéria, para estabelecer uma intervenção internacional para ajudar os albinos africanos e também enfatizando que pessoas albinas devem viver livres de câncer de pele e perseguição.
SOLUÇÕES PROPOSTAS
Em 1990, Christianson e parceiros, iniciaram um grande programa clínico-genético no norte da África do Sul, no qual enfermeiras identificavam bebês albinos e ofereciam apoio e aconselhamento. Lund mostrou que programas genéticos desenvolvidos no Norte da África facilitaram o tratamento a baixo custo, melhoraram a autoestima e aguçaram a consciência da comunidade. Hoje, panfletos em várias línguas sobre albinismo estão disponíveis no norte da África do Sul e enfermeiras frequentemente participam de programas de rádio para despertar conscientização. A utilidade desses panfletos tem sido questionada, todavia, uma vez que albinos em uma clínica na Tanzânia não demonstraram compreender melhor a necessidade de se evitar o sol, após lerem o material.
Infelizmente, conscientização nem sempre leva à compreensão, conforme demonstraram Lund e Taylor demonstraram em uma escola para alunos com problemas de visão na África do Sul. Embora a maioria das crianças possuísse chapéus, as abas não eram largas o bastante para protegerem o rosto e o pescoço, resultando em visível fotodano. A largura média das abas era de 5,4 cm, bem mais estreitas do que os 7,5 sugeridos por Diffey e Cheeseman, após seus estudos com cabeças de bonecos. Embora os estudantes entendessem a necessidade do uso do bloqueador solar, desconheciam o termo FPS (Fator de Proteção Solar) e apenas aplicavam-no esporadicamente. Um terço não o usava na hora da entrevista. Muitos alunos não usavam o bloqueador diariamente; ao invés disso, racionavam o estoque limitado que possuíam para que durasse o mais tempo possível. Assim, mesmo em uma escola interna privada para crianças com deficiência visual, onde mais educação sobre albinismo e estratégias de prevenção eram ensinados, a compreensão sobre o tema não era geral, levando à necessidade de melhorar as técnicas de ensino.
Lund e Gaigher sugeriram o trabalho em grupo, com alunos, professores, pais, profissionais da saúde e a comunidade em geral. Lund e Taylor também sugeriram que albinos ofereçam informações sobre proteção contra o sol e iniciem grupos de apoio para difundir conhecimento sobre as experiências de indivíduos vivendo nas mesmas condições.
O público deve ser informado que apesar da falta de pigmentação geneticamente induzida, albinos são seres humanos normais. Em particular, professores de escolas públicas devem estar atentos para os problemas visuais e tomar as providências necessárias na sala de aula, como deixá-los se sentarem próximos ao quadro. O albinismo não está associado à inteligência abaixo do normal, embora isso seja crença comum entre educadores, provavelmente devido ás consequências que as dificuldades visuais acarretam no desempenho acadêmico. Outras sugestões incluem a distribuição de livros didáticos com letras maiores e lentes de aumento. Albinos devem ser esclarecidos a respeito das causas de sua condição e sobre as implicações de se casar com um parente pigmentado. Apesar de a maioria dos albinos terem parentes albinos, a maior parte desconhece que sua condição é geneticamente herdada. E, talvez o mais importante, a Cruz Vermelha sugere que “o primeiro passo na resposta aos assassinatos – assim como em qualquer intervenção humanitária – é registrar os beneficiários. Nesta ‘emergência silenciosa’ eles precisam ser achados. No atual clima de perigo mortal, os albinos nas áreas rurais afastadas (ainda a maioria) provavelmente só terão coragem de se apresentarem para voluntários locais da Cruz Vermelha.”
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