Roberto Rillo Bíscaro
Perguntei retoricamente diversas vezes no Facebook, a
ponto duma ex-aluna sugerir-me procurar a resposta com São Google. Mas, pra que
estragar o prazer masoquista de se torturar conjeturando sobre o assassino da dinamarquesa
de 19 anos? Descobri apenas no último capítulo de Forbrydelsen (2007), thriller
jutlândico, que se tornou sucesso cult na Inglaterra, a ponto de a atriz Sofie
Gråbøl ter sido convidada pruma participação no especial
natalino de Absolutely Fabulous deste ano. Mal posso esperar, assim como pelo
especial de Natal de Downton Abbey!
A história se passa em 20 dias, no lúgubre e molhado inverno
dinamarquês, o que contribui pro tom sombrio e sério da produção. A detetive
Sarah Lund envolve-se em intrincado jogo policial e político, uma vez que a
morte da comportada Nanna envolve a equipe de Troels Hartmann, candidato a
prefeito de Copenhague. Há momentos em que a trama política fica mais excitante
do que a detetivesca.
Acertada a decisão de criar uma jovem bem-comportada,
caso contrário as comparações com Twin Peaks seriam inevitáveis. Os Birk Larsen
não são os Palmer e o roteirista Søren Sveistrup toma uma direção realista,
bem distinta do maluquete David Lynch.
Forbrydelsen dedica cada capítulo a um dia da
investigação, dando tempo pra que conheçamos bem as personagens e descubramos
seus segredos sem muita pressa. Faca de 2 gumes, porque há momentos em que o
motorzinho dramático poderia funcionar um pouco mais rápido. Os
norte-americanos – preguiçosos pra ler legendas – condensaram a história em 13
episódios na adaptação deste ano da AMC (talvez eu comente depois de assistir).
A própria segunda temporada de Forbrydelsen cortou o tempo diegético exatamente
pela metade. Já a estou vendo (talvez comente se o resultado ficou melhor).
Apesar dos poucos momentos desinteressantes, gostei
muito da produção caprichada, lenta sem ser morosa e muito bem interpretada.
Forbrydelsen tem personagens com ideias fixas – a detetive Lund é tão obcecada
quanto o assassino e o que dizer do prefeito Bremmer (amei!) e de Troels? – mas
não unidimensionais, assim, a narração desacelerada permite que conheçamos
melhor essa gente.
Ao entrar no mundo da ficção policialesca temos que
estar prontos a fazer concessões, como um funcionário da promotoria levar
prisioneira uma detetive altamente experiente e bobear com a arma no coldre!
Também com relação a coincidências demais e um ou outro exagero, mesmo pros
estereotipicamente austeros dinamarqueses. A resolução da sub-trama de Bremmer
foi um pouco melodramática demais.
Cheguei a Forbrydelsen pesquisando sobre Bjarne
Henriksen, que me cativara em Kinamand. Pai de Nanna, o ator está muito bem na
série, embora os Birk Larsen e as demais situações familiares é que empacam o
movimento da história. São tantos elementos envolvendo a morte de Nanna, que
pouco nos importam as vidas particulares de Sarah, Meyer ou dos Birk Larsen,
até porque Sarah quase nem tem existência fora do caso.
Pra nós, estrangeiros, as piadas envolvendo a Suécia e
a Noruega quebram o monolito “Escandinávia”, que aceitamos acriticamente, sem
perceber que ofuscamos as identidades culturais dos países envolvidos.
Logicamente que informados pelo modelo norte-americano,
séries como Forbrydelsen e a argentina Epitáfios têm injetado sangue novo no gênero
policial. Pena que o público seja restrito.
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