Roberto Rillo Bíscaro
Quando o Taliban assumiu o controle do Afeganistão, nos anos 90, começou um inferno pras mulheres. Quando foram derrubados, o país – sempre na lista dos mais pobres – estava mais miserável ainda. Imagine fazer um filme num lugar assim? Pois, Siddiq Barmak fez e saiu-se estupendo.
Osama (2003) foi filmado
com orçamento e aparato técnico muito pequenos e atores amadores, tem tons
semidocumentais e é duma tristeza profunda e quase sem trégua. Não poderia ser
diferente.
No começo do terror talibânico,
mãe e filha assistem a uma demonstração feminina nas ruas de Kabul. Viúvas,
órfãs, sem-irmãos – guerras de décadas ceifavam as vidas dos varões – pediam
emprego; precisavam trabalhar, mas o fanatismo hipócrita condenava-as a passar
fome: mesmo sem um homem na casa pra prover sustento, mulheres não podiam
trabalhar. A cena é impressionante: uma multidão de burkas azuis cobrindo tudo,
desumanizando e descorporificando as mulheres. Perfeita metáfora pra objetificação
e escondimento ao qual estavam submetidas.
A manifestação é
dissolvida a jatos d’água e tiros. Nessa hora, percebe-se o quanto o diretor
afegão deve ao cinema iraniano. A cena das manifestantes cobertas dos pés á
cabeça sob a chuva artificial da repressão na seca Kabul chega a dar sensação
de culpa de desfrutar de algo tão plasticamente belo em meio a tamanho horror.
Devido à falta de homem na
família, a avó da menina sugere que ela se vista como um pra tentar ganhar
algo. O apelido Osama lhe é dado por um garoto que conhece sua verdadeira
identidade.
A partir daí, seguimos a
jornada de temor da quase-criança – jamais nomeada pra realçar a falta de
identidade feminina -, ajudada por alguns, mas destinada a se dar mal naquele
meio social inóspito.O filme não é pros fãs de irrealistas finais felizes; isso
tiraria toda sua verossimilhança.
O filme é uma montagem de
segmentos, onde cenas às vezes distantes, explicam ou adicionam elementos ao
que já fora mostrado.
Em meio à estupidez
fundamentalista – que acha espaços de exceção quando a volúpia de algum mulá
fala mais alto – algumas atitudes adquirem tom semi-surrealista. Que reação ter
perante uma sequência onde um ancião barrigudo ensina os meninos a se limparem depois
do sexo ou de polução noturna? Sem olhar para a genitália, todo o ritual é
explicado e demonstrado. A cena final de Osama recupera desesperançadamente a
informação dada nessa cena.
Osama abre com uma
epígrafe de Nelson Mandela, onde afirma que consegue perdoar, mas não esquecer.
Se o espectador dificilmente consegue olvidar o que vê – e olha que não há
violência explícita! – imagine quem viveu a opressão.
Se não tivéssemos uma nacão soberana para inibir esses contrastes, esse fanatismo a vida nesses paíse subdesenvolvidos seria mais lamentável, iriam se autodestruir como se fossem animais e não seres humanos.Essa Nação soberana hoje são os EUA e seus aliados, pode até ser um mal, mas um mal necessário.
ResponderExcluirOlá, Albino! Passo para desejar-lhe um bom final de ano e um 2012 reflete de saúde e Paz.
ResponderExcluirFique bem!
Rita Lavoyer