quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

TELONA QUENTE 39


Roberto Rillo Bíscaro

Quando o Taliban assumiu o controle do Afeganistão, nos anos 90, começou um inferno pras mulheres. Quando foram derrubados, o país – sempre na lista dos mais pobres – estava mais miserável ainda. Imagine fazer um filme num lugar assim? Pois, Siddiq Barmak fez e saiu-se estupendo.
Osama (2003) foi filmado com orçamento e aparato técnico muito pequenos e atores amadores, tem tons semidocumentais e é duma tristeza profunda e quase sem trégua. Não poderia ser diferente.
No começo do terror talibânico, mãe e filha assistem a uma demonstração feminina nas ruas de Kabul. Viúvas, órfãs, sem-irmãos – guerras de décadas ceifavam as vidas dos varões – pediam emprego; precisavam trabalhar, mas o fanatismo hipócrita condenava-as a passar fome: mesmo sem um homem na casa pra prover sustento, mulheres não podiam trabalhar. A cena é impressionante: uma multidão de burkas azuis cobrindo tudo, desumanizando e descorporificando as mulheres. Perfeita metáfora pra objetificação e escondimento ao qual estavam submetidas.
A manifestação é dissolvida a jatos d’água e tiros. Nessa hora, percebe-se o quanto o diretor afegão deve ao cinema iraniano. A cena das manifestantes cobertas dos pés á cabeça sob a chuva artificial da repressão na seca Kabul chega a dar sensação de culpa de desfrutar de algo tão plasticamente belo em meio a tamanho horror.
Devido à falta de homem na família, a avó da menina sugere que ela se vista como um pra tentar ganhar algo. O apelido Osama lhe é dado por um garoto que conhece sua verdadeira identidade.
A partir daí, seguimos a jornada de temor da quase-criança – jamais nomeada pra realçar a falta de identidade feminina -, ajudada por alguns, mas destinada a se dar mal naquele meio social inóspito.O filme não é pros fãs de irrealistas finais felizes; isso tiraria toda sua verossimilhança.
O filme é uma montagem de segmentos, onde cenas às vezes distantes, explicam ou adicionam elementos ao que já fora mostrado.
Em meio à estupidez fundamentalista – que acha espaços de exceção quando a volúpia de algum mulá fala mais alto – algumas atitudes adquirem tom semi-surrealista. Que reação ter perante uma sequência onde um ancião barrigudo ensina os meninos a se limparem depois do sexo ou de polução noturna? Sem olhar para a genitália, todo o ritual é explicado e demonstrado. A cena final de Osama recupera desesperançadamente a informação dada nessa cena. 
Osama abre com uma epígrafe de Nelson Mandela, onde afirma que consegue perdoar, mas não esquecer. Se o espectador dificilmente consegue olvidar o que vê – e olha que não há violência explícita! – imagine quem viveu a opressão. 

2 comentários:

  1. Se não tivéssemos uma nacão soberana para inibir esses contrastes, esse fanatismo a vida nesses paíse subdesenvolvidos seria mais lamentável, iriam se autodestruir como se fossem animais e não seres humanos.Essa Nação soberana hoje são os EUA e seus aliados, pode até ser um mal, mas um mal necessário.

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  2. Olá, Albino! Passo para desejar-lhe um bom final de ano e um 2012 reflete de saúde e Paz.
    Fique bem!
    Rita Lavoyer

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