Roberto Rillo Bíscaro
Terminei de ler Over to Candleford (1941), segundo livro da trilogia de Flora Thompson, que resgata a vida campesina na Inglaterra da década de 1880. Sucesso de público no auge da Segunda Guerra Mundial, o livro foca a púbere Laura, sua família e sua ida a Candleford, cidadezinha ficcional, que funciona como modelo urbano pra garota, residente na aldeia de Lark Rise.
Terminei de ler Over to Candleford (1941), segundo livro da trilogia de Flora Thompson, que resgata a vida campesina na Inglaterra da década de 1880. Sucesso de público no auge da Segunda Guerra Mundial, o livro foca a púbere Laura, sua família e sua ida a Candleford, cidadezinha ficcional, que funciona como modelo urbano pra garota, residente na aldeia de Lark Rise.
Se em Lark Rise as grandes
personagens eram a aldeota e os costumes rurais, em Over to Candleford a ação
afunila-se no grupo ao redor de Laura, que passa a cumprir a função de
protagonista da historia, ainda que parte da narrativa tenha sabor de crônica
de costumes de antanho. Aliás, os trechos descrevendo costumes extintos ou em
extinção são os mais fascinantes, como no livro anterior.
Thompson submerge seu
memorialismo no fluxo temporal, no qual costumes anteriores a década de 1880 são
relatados e reconhece-se que o estado das coisas naquele decênio também era
passageiro, embora pra alguém vivendo naquele presente, não parecesse assim.
Vivendo 40 ou 50 anos depois dos anos 80 do século XIX, a narradora pode
estabelecer comparações e mesmo revelar o futuro de diversas personagens, como
fizera em Lark Rise, que termina nos contando o que a vida reservava pro então
infante Edmund.
Longe de ser uma garota
especial, Laura é diferente dos demais aldeões, devido a sua bibliofilia.
Diz-se que a personagem é a própria autora “disfarçada”. Seus pais são
ligeiramente distintos, sua casa também. Por isso que em Over to Candleford
temos uma estrutura que se aproxima mais do romance: já há uma figura destacando-se
das demais e cujas ações e destino nos interessa mais de perto, porque a
conhecemos mais intimamente. Por mais que saibamos detalhes sobre Old Queenie,
não é suficiente pra empatizarmos com ela, como acontece com Laura e alguns de
seu circulo.
Ao se transferir prum
ambiente mais sofisticado que o de Lark Rise – ainda que a menina não se mude
pra Candleford, que já é pequena, mas sim vá pro ainda menor distrito de
Candleford Green – a narradora aponta as conveniências e vantagens da mudança.
Por outro lado, não esquece que as impressões criadas na minúscula e campesina
Lark Rise acompanharão Laura pra sempre, mesmo em seu futuro na cidade grande.
Essa recusa em não descartar
a vida rural como inferior – apesar de suas superstições e agruras – confirma a
generosidade do primeiro volume, ainda que nessa segunda prestação, a narrativa
por vezes perca seu fascínio de retrato duma época pra ser apenas mais um
romance água com açúcar. Mas, isso acontece pouco.
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