“Algo de Podre”
Intitular texto sobre uma série dinamarquesa citando Hamlet,
soa imperdoavelmente jargoônico. Todavia, não achei outro modo, uma vez que na
segunda temporada de Forbrydelsen algo está definitivamente cheirando mal no
rico reino peninsular.
Os 20 capítulos da primeira temporada centraram-se na
investigação sobre o assassinato de Nanna Birk Larsen, que também envolveu
políticos de Copenhague. O tom e o desenrolar dos fatos eram lentos, com ênfase
na psicologia das personagens.
A segunda aventura da introspectiva detetive Sarah Lund
tem a metade da duração, mas todo o resto está mais acentuado do que a
anterior. Até a sondagem psicológica das personagens permanece, mas enxuta, mas
não menos eficaz. As personagens não são meros bonecos de papelão. Como o
roteirista Søren Sveistrup cresceu entre temporadas!
Lund encontra-se exilada num posto policial de fronteira, mas é
convidada a auxiliar a polícia da capital nas investigações dum sangrento
assassinato. Uma advogada fora morta com requintes de crueldade, pelo que
parecia ser uma organização fundamentalista islâmica, querendo punir a
Dinamarca por sua participação na ocupação do Afeganistão.
À medida que as mortes brutais se sucedem – sempre envolvendo
ex-soldados – o caso passa a tomar contornos de escândalo político em nível
nacional. Desta vez, a história policial se imbrica com altos escalões do
governo e do exército.
Quem cometia os crimes? Algum ex-combatente maluco? Uma organização
fundamentalista? Ou alguma outra facção interessada em que os crimes parecessem
praticados por islâmicos a fim de sustentar o novo pacote de medidas antiterror
proposto pelo governo? Nenhuma das alternativas anteriores? Um pouco de cada
uma delas?
Com duração reduzida e trama multicamadas, a segunda temporada de
Forbrydelsen é tensa, densa e eletrizante. Um emaranhado de pistas e
contrapistas, que me deixou sedento pelo próximo episódio. As intrigas dos
bastidores políticos, a investigação policial de Lund e seu novo parceiro, os
interesses da segurança nacional do exército. Bastante informação, eximiamente
trabalhada pelo roteiro, que, não deixa fios soltos no final.
Desta vez, as cenas dos assassinatos estão mais explícitas, até porque
há uma série deles. Tem até cena de sexo. Dinamarca mais caliente!
O que não esquentou, porém, foi a lúgubre e fosca ambientação no gelidamente
úmido inverno danês. E nem Lund, que jamais sorri ou demonstra muita emoção,
tão gelada quanto a estação. Sofie Gråbøl é uma atriz excelente!
A moça afirmou que haverá apenas mais uma temporada de
Forbrydelsen/Sarah Lund, porque ela sente que está na hora de enfrentar outros
desafios. Se a próxima for tão boa quanto a segunda, torçamos pra que o
contracheque pra quarta seja irrecusável.
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