terça-feira, 31 de janeiro de 2012

TELINHA QUENTE 35

Roberto Rillo Bíscaro

Os britânicos são bons em histórias de fantasmas e casas mal-assombradas. Até há algum tempo, havia hotéis que se gabavam de ter sua assombração particular.
Ano passado, a ITV (a mesma de Downton Abbey) exibiu Marchlands, minissérie em 5 capítulos sobre uma garotinha que morre afogada em 1967 e permanece perambulando na casa onde vivera até que o mistério de sua morte vem á tona. Antes de ser horror, trata-se de mistério, suspense e drama, uma vez que as circunstâncias do passamento de Alice produzirão sofrimento durante mais de 4 décadas.
Em termos de enredo, nada de novo, muito pelo contrário. Marchlands usa todos os chavões dos filmes de casa afantasmada por infantes afogados: balanços que balouçam sozinhos, torneiras que se abrem do nada, banheiras transbordantes, espelhos com mensagens codificadas (que poderiam ser bem mais simples, mas não o são pra esticar – ou antes, pra que se tenha – uma história).
Esses elementos, porém, estão dispostos de maneira sobrepostas no roteiro, que apresenta 3 famílias. Em 1967, temos a família que perde a pequena Alice; em 87, o casal com 2 filhos, cuja menina pode ver e sentir o espectro da afogada e em 2010, o casal biétnico, cuja esposa grávida decide batizar a futura filha de... Alice, que mais?
Temos acesso às 3 histórias em cenas intercaladas, que se explicam, replicam complementam ou contradizem. No comecinho complica um bocadinho, mas não demora pra pegar o jeito da coisa e é essa estrutura retalhada que dá boa parte do charme da série. A história da década de 80 é a menos necessária uma vez que não tem ligação direta com o falecimento ou o descobrimento do porquê Alice se acidentou. Mas, serve como elo pras 2 e também pra definir o espectro como uma fantasminha, digamos camarada, que só queria descansar em paz.
O final tem a reviravolta de praxe – que até que me surpreendeu e agradou porque envolveu o ator que me motivou a ver o show – e o devido caráter moralista/moralizante, essencial em qualquer narrativa de horror, gênero conservador por excelência.
Enfim, Marchlands é indicado pra fãs de histórias tradicionais de assombração, dispostos a aceitar o fracionamento temporal da pós-modernidade. 

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