Roberto Rillo Bíscaro
Os britânicos são bons em histórias de fantasmas e
casas mal-assombradas. Até há algum tempo, havia hotéis que se gabavam de ter
sua assombração particular.
Ano passado, a ITV (a mesma de Downton Abbey) exibiu
Marchlands, minissérie em 5 capítulos sobre uma garotinha que morre afogada em
1967 e permanece perambulando na casa onde vivera até que o mistério de sua
morte vem á tona. Antes de ser horror, trata-se de mistério, suspense e drama,
uma vez que as circunstâncias do passamento de Alice produzirão sofrimento
durante mais de 4 décadas.
Em termos de enredo, nada de novo, muito pelo
contrário. Marchlands usa todos os chavões dos filmes de casa afantasmada por
infantes afogados: balanços que balouçam sozinhos, torneiras que se abrem do
nada, banheiras transbordantes, espelhos com mensagens codificadas (que
poderiam ser bem mais simples, mas não o são pra esticar – ou antes, pra que se
tenha – uma história).
Esses elementos, porém, estão dispostos de maneira
sobrepostas no roteiro, que apresenta 3 famílias. Em 1967, temos a família que
perde a pequena Alice; em 87, o casal com 2 filhos, cuja menina pode ver e
sentir o espectro da afogada e em 2010, o casal biétnico, cuja esposa grávida
decide batizar a futura filha de... Alice, que mais?
Temos acesso às 3 histórias em cenas intercaladas, que
se explicam, replicam complementam ou contradizem. No comecinho complica um
bocadinho, mas não demora pra pegar o jeito da coisa e é essa estrutura
retalhada que dá boa parte do charme da série. A história da década de 80 é a
menos necessária uma vez que não tem ligação direta com o falecimento ou o
descobrimento do porquê Alice se acidentou. Mas, serve como elo pras 2 e também
pra definir o espectro como uma fantasminha, digamos camarada, que só queria
descansar em paz.
O final tem a reviravolta de praxe – que até que me
surpreendeu e agradou porque envolveu o ator que me motivou a ver o show – e o
devido caráter moralista/moralizante, essencial em qualquer narrativa de horror,
gênero conservador por excelência.
Enfim, Marchlands é indicado pra fãs de histórias
tradicionais de assombração, dispostos a aceitar o fracionamento temporal da
pós-modernidade.
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