Roberto Rillo Bíscaro
Desde meados do ano passado, Lana Del Rey - que pousa
de femme fatale anos 50 – causa frêmitos na indústria do entretenimento. Amor e
ódio pela moça abundam.
Surgida a partir dum vídeo que se alastrou rapidamente
pela web, a norte-americana tem sido criticada pelos lábios falsos em um clipe,
pelo cabelo fake em outro. Adorada pela excelência pop de Video Game, canção
que chamou a atenção do mundo.
O marketing comeu solto pra criar expectativa pro
primeiro álbum por uma grande gravadora. Não passava dia sem alguma notícia
sobre a moça.
Shows agendados e lotados, “vazamento” de faixas,
matérias sobre as influências e possível pré-fabricação de Lana (a moça assinou
contrato com uma agência de modelos), o fiasco na apresentação ao vivo no
Saturday Night Live, a recuperação no talk show de David Letterman, além das
declarações de Lana, revelando problemas passados com álcool. Hoopla, hype...
Born To Die, lançado há algumas semanas alcançou o topo
das paradas em diversos países. Claro que o resultado frustrou quem esperava
uma obra-prima e o álbum teve reações mistas de críticos.
A sonoridade cinquentista – retrabalhada pra gostos do
século XXI - tem bastante espaço em Born To Die, que apresenta uma cantora
capaz de variações vocálicas e passeia por estilos que beiram o trip hop e até
tenta um tiquinho de rap (não se assustem, odiadores do estilo, é bem sutil).
Video Games é o destaque, como se esperava. Parte da
expectativa era que Lana se saísse com outra pérola do mesmo calibre. Talvez
isso jamais aconteça; a intensidade da canção provavelmente assombrará seu
repertório para sempre.
Muitos lugares-comuns da década de 50, com suas
mulheres dependentes e apaixonadas por cafajestes, como em Off To The Races,
que, a despeito da temática soa contemporânea com seus vocais variando de
mulher devastada por cigarro e bebida a uma fresca Lolita (na edição de luxo,
há uma canção com esse nome, aliás). A instrumentação gigantesca, com sua
percussão eletrônica marcada e orquestração luxuosa (que marcam boa parte do
álbum), a faixa envolve o ouvinte num mar de ficção barata, dependência e
sensualidade. Puro fetiche.
A faixa-título tem ecos de The Crying Game, último
suspiro de Boy George que o mundo se importou em prestar atenção. Ser
derivativo é tônico pra Born To Die. National Anthem abre parecendo Bittersweet
Symphony, do The Verve.
O álbum serviria muito bem como trilha sonora dalgum
projeto de David Lynch. Ameaçador, sombrio, perversamente sexy, falsamente
retrô, algo bizarro, com clima de cabaré alemão pseudo-expressionista e, como
todo o trabalho do diretor, no fundo, tudo pose, pura butique. Basta ouvir
Radio pra perceber como o cerne da bagaça é popinho...
O excesso de Born to Die é seu pecadilho mortal pra
muitos. Como gosto de certos exageros, continuo súdito de Lana Del Rey.
Robert,
ResponderExcluirsua resenha ficou ótima. Rica análise!
Parabéns!
Geso Jr.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluiruma crítica sobre esta cantora (estadão, se nao engano)um tanto depreciativa, nao despertou-me interesse em ouvir suas canções/voz. o peso da crítica direcionada, por incrivel, me fez "a cabeça". sua resenha com análise nada tendenciosa e bem feita. ok, vc me convenceu!
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