O Livro do Genesis – Capítulo VIII
Roberto Rillo Bíscaro
Roberto Rillo Bíscaro
Genesis sem Peter Gabriel era um conceito duro de compreender,
nos idos de 1975. Phil Collins, Mike Rutherford, Tony Banks e Steve Hackett não
passavam de músicos de apoio pro vocalista, na visão de muitos. Assim,
apostava-se no sumiço da banda.
Internamente, os músicos sentiam a pressão de não
apenas seguirem sem Peter, mas acharem substituto à altura prum (já) ícone do
rock progressivo. Fãs e imprensa estavam mais do que nunca de olho no Genesis.
Conta-se que os testes pra vocalista passaram de 4
centenas. Uma tarde, Phil Collins cantarolou Squonk prum candidato que não
acertava de jeito nenhum. (Arrepia
imaginar Phil soltando o “like father, like son” inicial…). Naquele
momento, a epifania: por que não aproveitar alguém da banda como vocalista? Phil
assumira o vocal principal em Nursery Cryme e Selling England By the Pound,
além de fazer harmonias e backing vocals pra Gabriel no estúdio e no palco. O
timbre dos 2 era parecido e um membro da banda talvez angariasse as simpatias
dos fãs mais facilmente do que um forasteiro.
Iniciava-se a “era Collins”, que traria megaestrelato,
desprezo dos críticos e cisão entre os fãs. Pergunta comum entre devotos
genesianos: você prefere Peter Gabriel ou Phil Collins?. Porém, estamos todavia
em 1975 e Collins engatinhava inseguro como líder do grupo.
Em fevereiro de 76, saiu A Trick of the Tail, primeiro
álbum da formação Collins-Banks-Rutherford-Hackett e único da fase Collins
recebido com generosidade pela imprensa. Ao vivo, muitos fãs responderam bem ao
novo vocalista. O baterista-cantor conta que num show no Canadá, um fã vestido
com uma das fantasias de Gabriel permaneceu em pé na boca do palco durante
metade do show, até indicar que Phil estava aprovado.
Phil não quis competir com a teatralidade fantasiada de
Gabriel e optou por uma persona de palco mais brincalhona e próxima ao público.
As misteriosas letras gabriélicas cederam lugar a fantasias e tentativas de
humor. Não há como negar que as de Peter eram superiores.
Pra bateria nos shows, o Genesis contratou Bill
Brufford (ex-Yes) e depois acertou-se com Chester Thompson, que permaneceu
décadas com o grupo e com Phil em sua carreira solo. 2 bateras garantiam um
duelo instrumental em alguns momentos do espetáculo, que marcou as carreiras do
grupo e de Phil. Reconheço: esses duetos deviam funcionar ao vivo; no CD/TV
sempre soaram algo enfadonhos após um minuto de bate-panela.
A Trick of the Tail parece sucessor de Selling England
e não de The Lamb Lies Down on Broadway, tornando esse último, meio que um
álbum “sozinho” na discografia dos caras. Um certo tipo de humor inglês e temas
fantásticos, acoplados com instrumentação preciosista, marcam a marcha ré do
Genesis.
A responsabilidade do primeiro álbum pós-Gabriel exigia
uma faixa de abertura genial, concretizada em Dance on a Volcano. Quase 6
minutos de ritmo crescente com seção rítmica urgente, camadas de guitarras e
sintetizadores e um instrumental final de tirar o fôlego de fãs de prog
sinfônico: um galope ascendente em direção á cratera. Defeito? Ser curto
demais!
Em chaves diferentes, Entangled e Robbery, Assault and
Battery mostram a vertente cômica meio nonsense adotada pelos rapazes. A
primeira canção é sobre tratamentos psiquiátricos e seus preços exorbitantes. Ao
instrumental onírico dominado por cordas da primeira parte, Tony Banks sobrepõe
um solo de Mellotron que deve ter sido composto em outra dimensão.
Robbery... é um exercício em humor-negro e múltiplos
pontos de vista e entonações vocais, bem ao estilo dos álbuns pré-The Lamb. A
letra fala sobre um bandido que se aproveita dos furos do sistema judiciário e
o instrumental “pra cima” torna tudo muito irônico. O final, brincando com os
canais das caixas de som, é uma maravilha!
Ripples tira a banda do terreno do fantástico e fala
sobre o processo de envelhecimento, comparando-o com ondas concêntricas em um
lago. A instrumentação entre o folk e o clássico, reproduz o efeito dos
círculos. Aos 4 minutos e tanto, um daqueles solos chorados da guitarra de
Hackett, que fazem valer a pena estar vivo.
Mad Man Moon é puro Tony Banks com sua letra de conto
de fadas e sua instrumentação grandiloquente, com muito piano e mudanças
rítmicas e líricas. Uma de minhas favoritas do repertório do Genesis. Amo Tony
Banks.
A Trick of the Tail atingiu o terceiro lugar na parada
britânica e a turnê mundial tirou o Genesis do vermelho financeiramente.
Era 1976 e a Inglaterra estava prestes a ser sacudida
pela rebelião punk de 77, que colocaria o Genesis na posição de “careta”, da
qual jamais sairia.
A Trick of the Tail
está inteirinho no You Tube.
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