Roberto Rillo Bíscaro
Terminei a deliciosa trilogia campesina-aldeã da
britânica Flora Thompson. Candleford Green (1945) mostra a adolescente Laura e
seu relacionamento com a população do minúsculo distrito, que para a garota tem
porte de cidade, uma vez que vem da aldeota Lark Rise.
O terceiro tomo guarda semelhanças e diferenças com
Lark Rise e Over to Candleford, seus predecessores. A narrativa adquire tom
mais irônico e assume-se como construção ficcional, como crônica, com
marcadores textuais do tipo “esta narrativa”. Nos 2 primeiros livros, a crônica
flui mais “naturalmente”, tão orgânica quanto os cenários campesinos e as
colheitas descritas.
Como acontecera nos tomos precedentes, a população de
diminuta Candleford Green e seus costumes antiquados já pros padrões da década
de 1890 são o destaque da narração, em detrimento de fechar a narrativa em
algum protagonista, como num romance convencional.
Obviamente mais conectada com o mundo exterior do que a
moribunda Lark Rise, as impressões advindas do mundo urbano e das repercussões
de algumas mudanças e fatos atingem os moradores e Laura com algum impacto,
modificando suas vidas, mesmo que de soslaio.
Fascinam as páginas dedicadas à hoje corriqueira bicicleta.
Acostumados a dar mais importância ao automóvel, esquecemos que deslizar sobre
2 rodas foi o primeiro passo pra maior mobilidade individual. Thompson conclui
que a liberação das mulheres começou com a bicicleta, porque em princípio
tiveram que quebrar tabus que condenavam a locomoção feminina em 2 rodas
indecente ou masculinizante. Segundo, porque o pesado e torturante vestuário
vitoriano teve que se adequar às magrelas. E, finalmente, e mais importante,
com uma bicicleta nas mãos, ninguém mais segurava a mulherada, que podia ir
pronde bem entendesse. O carro acentuou isso, mas foi a bicicleta que deu o
empurrão inicial.
Terminada a leitura, postei minha velha edição comprada
num sebo online prum amigo. Creio que o livro o encantará, e acredito que Lark
Rise to Candleford seja mais saboroso se lido em finas páginas amarelecidas, dum
tempo que já ficou pra trás, como o descrito por Flora Thompson.
Nenhum comentário:
Postar um comentário