quinta-feira, 2 de fevereiro de 2012

TELONA QUENTE 41


Roberto Rillo Bíscaro

A excelência de Etz Limon (2008) e de A Noiva Síria(2004) me fez ter expectativas altas demais pra The Human Resources Manager (2011), do israelense Eran Riklis. Isso quase nunca é salutar e o filme visto noite retrasada não fugiu á regra.
Uma imigrante do leste europeu morre em um atentado terrorista em Jerusalém. Sozinha na cidade-sagrada, Yulia trabalhava na maior panificadora do município e a responsabilidade de prover por seu translado e enterro cabia aos empregadores, que não o fazem e são denunciados por um tablóide. O gerente do estabelecimento é incumbido de providenciar o funeral e enviado aos confins gelados dalgum país ex-comunista pra garantir o retorno do corpo de Yulia pra casa.
O filme transita entre o drama, a comédia com tons kafkianos e absurdos e o road movie. Tal indecisão filiacional resulta em desnível de ritmo e falta de profundidade geral, coisa que os outros filmes do diretor têm de sobra.
A única personagem batizada é o cadáver. Os demais são designados por profissão, função  ou traço de caráter, aproximando-os dos tipos, mas não inteiramente, pois revelam certa profundidade psicológica.
O gerente de recursos humanos do título está ás voltas com a desintegração de sua própria família, mas a desejo de levar o corpo de Yulia prum túmulo em sua aldeia natal funciona como metáfora pra necessidade de se enxergar as pessoas como seres humanos com história, família e não apenas como “capital humano”, reificadora denominação do capitalismo tardio.
Entretanto, o filme também coloca a questão muito contemporânea da (des)territorialização. Yulia deveria mesmo descansar na aldeota a qual não via a hora de abandonar pra tentar fortuna alhures? Onde era seu lugar? Um tanto obliquamente, a película toca no tema da tirania de se tomar decisões pelos outros, apenas porque achamos que é o melhor. Apenas esquecemos que o melhor pra nós não o é necessariamente pro outro.
Em meio a lindas paisagens nevadas e cinzas da Europa pobre, The Human Resources Manager mistura abrigos antinucleares com amplos espaços abertos, em situações meio arbitrárias, ás vezes.
Não é um mau filme, mas não é um grande momento de Riklis. Também, ninguém mandou que dirigisse 2 obras tão sensacionais! Sempre viverá das expectativas geradas por ambos.

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