Samira Makhmalbaf dirigiu seu
primeiro longa aos 17 anos. Filha de Mohsen Makhmalbaf – diretor do ótimo Gabbeh, entre outros –
a menina co-escreveu com o papi o roteiro de Sib (A Maçã - 1998).
Baseado em fatos, a narrativa segue o
caso de 2 irmãs mantidas em casa, trancafiadas pelo pai desde seu nascimento.
Aos 11 anos, vizinhos denunciam ao equivalente iraniano do conselho tutelar o
cárcere das gêmeas, que não falavam, não tomavam banho e sequer sabiam comer
direito. O pai se compromete a deixar as meninas em liberdade, mas tranca-as de
novo assim que retorna da assistência social. Ao descobrir a quebra da promessa,
a assistente faz o pai experimentar a mesma sensação das filhas, enquanto
libera as crianças para sua primeira aventura nas ruas de Teerã.
As pequenas Zarah e Massoumeh são
interpretadas por elas mesmas e Samira consegue atuações comoventes num filme
ao mesmo tempo perturbador, tocante e até engraçado. Mistura de drama com
documentário, The Apple insiste na imagem da grade como metáfora para a
opressão feminina e falta de liberdade política num Irã dividido entre a
vontade de ser moderno e a força retardatária da tradição.
A maçã do título transcende o pecado
original bíblico pra se tornar metáfora do conhecimento, da liberdade de
escolher, de ir e vir.
As cenas onde as crianças perambulam
pelas ruas encontrando amigos em potencial e vendedores são frescas como a
descoberta da liberdade pela meninas. Claro que não deve faltar quem diga que o
filme vai do nada ao lugar nenhum porque se afasta do modelo dramático
hollywoodiano. Azar deles, não sabem a profundidade das raízes plantadas pela
diretora-menina.
Grande trunfo de A Maçã é o de não
demonizar o pai, que tem seus motivos pra trancar as meninas: pobre, sem
instrução, com uma esposa cega e criado segundo os rígidos códigos da tradição
de honra islâmica, ele teme pela segurança e virgindade das petizes. Não é o
caso de se concordar com o cárcere. Antes, trata-se de compreender as razoes do
outro. Proveniente de lar privilegiado, Samira não caiu na cova rasa de olhar a
alteridade tentando explicá-la a partir de seu próprio código de classe. Muita
estupidez seria evitada se âncoras “inteligentes” da TV e escribas de revistas
e jornais tivessem tal postura...
A Maçã foi fatiada em 8 partes e está no You
Tube, com legendas em inglês. Não é permitido inserir o vídeo aqui, mas a primeira fatia pode ser acessada no link
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