sábado, 31 de março de 2012

FÁBRICA INCLUSIVA

Conheça a fábrica totalmente operada por cegos nos Estados Unidos

Taxa de desemprego entre adultos cegos é de quase 70% nos EUA; proposta é aliar inclusão social e econômica com sustentabilidade


Quando Chris Yura, executivo-chefe da empresa de vestuário SustainU, estava procurando uma fábrica para produzir 24.000 camisetas, era imperativo que ela estivesse localizada dentro de um raio de 325 quilômetros de onde o tecido havia sido feito.
A SustainU, com sede em Morgantown, West Virginia, nos Estados Unidos, utiliza diversos materiais reciclados para fazer roupas para faculdades e universidades. Como o próprio nome indica, é uma empresa comprometida com a "sustentabilidade social, econômica e ambiental", disse Yura. Custos, mas baixo custo de transporte significaria mais benefícios ambientais e um tempo de resposta mais rápido, sem mencionar que o custo de envio acabaria saindo mais barato.

Foto: Chris Keane/The New York TimesAmpliar
Chris Yura, executivo-chefe da SustainU: sustentabilidade social, econômica e ambiental
A empresa descobriu uma fábrica em Winston-Salem na Carolina do Norte, também nos Estados Unidos, que parecia uma escolha lógica. Mas esta não era uma fábrica comum. Operada pela Winston-Salem para Cegos, a fábrica tem uma força de trabalho que é composta por trabalhadores cegos ou deficientes visuais.
Para muitos, isto poderia ter sido um empecílio. "Mesmo que você tenha o Ato dos Deficientes ao seu lado, ainda assim não deixa de ser um desafio já que as pessoas que não estão familiarizadas com os cegos têm percepções equivocadas sobre o que eles podem ou não fazer e isso afeta suas decisões para dar a essas pessoas uma oportunidade", disse Kevin A. Lynch, presidente-executivo da empresa.
A taxa de desemprego para os adultos cegos é de quase 70% - um número que está estagnado há 30 anos, disse Lynch.
Existe uma certa noção de que contratar trabalhadores cegos - ou até mesmo qualquer trabalhador com deficiência - significa gastar mais dinheiro, tempo e recursos em seu treinamento e em equipamentos. Mas Yura disse que não percebeu nenhuma diferença no custo ou na qualidade de trabalhar com a agência de Winston-Salem.
Quando as pessoas cegas entram em contato com a agência, muitas vezes elas não possuem nenhuma experiência de trabalho. Elas são treinadas para realizar tarefas específicas e trabalham com equipamentos adaptados para ajudá-las a fazer seus trabalhos.
Se estão fazendo lentes para óculos, por exemplo, alertas sonoros são programados para disparar para que eles saibam quando as lentes já passaram tempo suficiente em uma máquina de polimento. Ou se estão montando pára-quedas, guias de medição tátil, na forma de longos trilhos de madeira, ajudam a garantir que os comprimentos das cordas sejam todos iguais.
O treinamento oferece conhecimentos práticos e uma oportunidade de ascensão social através de aulas certificadas. Trabalhadores sem experiência recebem um salário mínimo, enquanto aqueles com alguma experiência são pagos de acordo com os trabalhadores que fazem atividades semelhantes em fábricas de outras áreas, disse Jeanne Wilkinson, vice-presidente de estratégias de negócios na Winston-Salem .

Foto: Chris Keane/The New York TimesAmpliar
Anastasia Powell, portadora de deficiência visual, trabalha na unidade de confecção de camisetas em uma máquina de costura projetada especificamente para ela
Anastasia Powell, mãe de três filhas que faz parte da empresa há sete anos, trabalha na unidade de camisetas. Seu trabalho é costurar os ombros. Ela recebeu quatro meses de treinamento e sua máquina de costura é projetada especificamente para ela.
O governo federal já sabe faz tempo sobre a eficácia de uma força de trabalho de deficientes físicos. Criada em 1938 como resultado de uma lei assinada pelo presidente Franklin D. Roosevelt, uma determinação legal obrigava as agências federais a comprarem produtos feitos por trabalhadores cegos.
Desde então, o grupo e suas agências têm fabricado dos mais diversos produtos como vassouras e colchões para o governo e para os militares. (Além de roupas, a agência de Winston-Salem produz óculos para os veteranos e pára-quedas para os soldados servindo no Afeganistão.)
Mas, com a retirada gradual dos soldados dos Estados Unidos de zonas de guerra e a redução geral dos militares, o grupo nacional espera perder futuramente e fazer mais negócios com empresas do setor privado, disse Lynch.
"Eu acho que existe um interesse cada vez maior entre o público em geral na responsabilidade social e acredito que isso está sendo refletido na responsabilidade social corporativa", disse ele. "Há também um grande interesse nas coisas produzidas nos Estados Unidos."
Mostrar que produtos de alta qualidade podem ser produzidos nos Estados Unidos por pessoas cegas é uma importante característica para comercialização, disse ele.
Yura, que já está planejando contratar um outro trabalho da agência de Winston-Salem, está feliz em endossar esta mensagem. E as 24.000 camisetas que ele solicitou: "Não dá para dizer se a pessoa que fez esta camiseta era cega ou não. No fim do dia, é um produto como qualquer outro."

sexta-feira, 30 de março de 2012

PAPIRO VIRTUAL 32



É comum o sucesso dum escritor encetar o lançamento de qualquer rascunho escrito antes da fama. Manuscritos recusados trocentas vezes ganham a distinção do papel e sempre haverá apreciadores que lerão o material, mesmo que a qualidade justifique a rejeição pelas editoras.
Terminei de ler The Professor (1857), de Charlotte Brontë, publicado postumamente por seu viúvo. Embora o romance não se encaixe na categoria rascunho, está longe do brilhantismo do influente Jane Eyre, que garantiu à inglesa lugar na constelação dos grandes da literatura.
William Crimsworth é o sem graça protagonista. Filho desprezado da baixa nobreza, o jovem ex-estudante da aristocrática Eton também não se adapta ao mundo dos negócios, representado por seu ambicioso irmão, que o detesta e faz da vida do jovem um calvário, no curto período em que esse trabalha na empresa do irmão. Com a ajuda de Mr. Hunsden – negociante que finge detestar suas raízes tradicionais –, Crimsworth vai ensinar inglês em Bruxelas.
Brontë atua numa chave comum entre diversos escritores da época: ao mesmo tempo em que tentavam se livrar do fascínio da nobreza – historicamente derrotada pela burguesia, classe à qual pertenciam – abominavam a “vulgaridade” e a poluição resultantes da Revolução Industrial. Geralmente, a terceira via era o refúgio nalgum local intocado pelas fábricas e pelo comércio. Classe média literalmente com rei na barriga.
Na Bélgica, Crimsworth vai trabalhar na escola de Mademoiselle Reuter, que começa a flertar com ele, enquanto estabelece uma relação de jogo de poder quando percebe o interesse do professor pela insípida Frances Evans Henri, instrutora de costura no estabelecimento.
Prenunciando a desidealização física de Jane Eyre e Mr. Rochester, Crimsworth e Henri não são atraentes. William é até míope. Acontece que Eyre e Rochester são interessantes – por isso, estão em nossos corações até hoje – ao passo que os protagonistas de The Professsor são entediantes. Rascunho de marinheira de primeira viagem; este foi o primeiro romance da irmã de Emily.
Charlotte foi professora na capital belga e usou sua experiência pra compor Crimsworth. Embora se note uma tênue tentativa de entendimento do estrangeiro, abundam as referências à superioridade intelectual, física, religiosa e moral dos ingleses sobre os europeus continentais. Pra “purificar” Henri, a autora arranjou ascendência parcialmente inglesa à moça. Notem que ela se chama Frances Evans...
Esse cosmopolitismo de araque ainda é forte. Quantos filmes norte-americanos apresentam uma personagem que atravessa o globo pra experimentar outra cultura e se apaixonam por outro ianque?
Brontë tinha muito ainda a polir em termos da técnica de escrita. Os diálogose encontros entre Mr. Hunsden e Crimsowrth são tenebrosamente forçados. O capítulo final alonga-se desnecessariamente. O enredo não prende e foi impossível não concordar com as 11 rejeições enfrentadas.
O bom de ter blog é poder dar a opinião sem se preocupar com editor, pareceiristas et ali. Então, posso falar: The Professor é um pontapé no saco!

quinta-feira, 29 de março de 2012

CAINDO DE PÉ

Por que os gatos sobrevivem a quedas de grandes alturas?
Gato (arquivo/BBC)
Cientistas tentam descobrir como gatos sobrevivem a grandes quedas (Foto: BBC)
A sobrevivência de uma gata na cidade de Boston, Estados Unidos, depois de uma queda de 19 andares, levantou a questão de como os gatos conseguem escapar vivos de quedas de grandes alturas.
A dona da gata, Brittney Kirk, tinha deixado uma janela entreaberta na semana passada para que a gata Sugar se refrescasse, mas ela saiu e caiu em um gramado.
Segundo biólogos e veterinários, a habilidade dos gatos de sobreviver a estas grandes quedas é uma questão simples de física, biologia da evolução e fisiologia.
"Este episódio recente não surpreende. Sabemos que animais exibem este comportamento e há muitos registros de sobrevivência de gatos (a grandes quedas)", disse Jake Socha, biomecânico na Universidade Virginia Tech.
Em um estudo realizado em 1987, que analisou casos de 132 gatos que caíram de grandes alturas e foram levados para uma clínica veterinária especializada em emergências em Nova York, os cientistas observaram que 90% dos animais sobreviveram e apenas 37% precisaram de atendimento de emergência para continuar vivos.
Um dos gatos, que caiu de uma altura de 32 andares diretamente no concreto, teve apenas um dente quebrado e um problema no pulmão. Ele foi liberado 48 horas depois.

Feitos para a sobrevivência

Cientistas afirmam que os corpos dos gatos foram construídos para resistir a quedas, desde o momento em que estão em pleno ar até o instante em que atingem o chão.
Eles possuem uma área de superfície do corpo grande em relação ao peso, o que reduz a força com que chegam ao chão em uma queda.
A velocidade máxima alcançada por um gato em queda é menor comparada a humanos e cavalos, por exemplo.
Um gato de tamanho médio com seus membros estendidos alcança uma velocidade máxima (ou velocidade terminal) de cerca de 97 quilômetros por hora, enquanto que um homem de tamanho médio chega à velocidade máxima por volta dos 193 quilômetros por hora, segundo estudo de 1987 dos veterinários Wayne Whitney e Cheryl Mehlhaff.

Árvores

Gatos são animais que vivem, essencialmente, em árvores. Quando não vivem em casas ou nas ruas de uma cidade, eles tendem a viver em árvores.
Biólogos afirmam que, sendo assim, cedo ou tarde eles acabam caindo. Gatos, macacos, répteis e outras criaturas vão saltar para capturar presas e vão errar, ou um galho da árvore vai se quebrar, ou o vento vai derrubá-los. Então, os processos evolutivos deram a eles a capacidade de sobreviver a quedas.
"Ser capaz de sobreviver a quedas é algo muito importante para animais que vivem em árvores e gatos estão entre estes animais", disse Jake Socha.
"O gato doméstico ainda mantém as adaptações que permitiram que eles fossem bons vivendo em árvores."
Segundo os biólogos, por meio de seleção natural, os gatos desenvolveram o instinto para sentir qual lado é o lado para baixo, algo análogo ao mecanismo que humanos usam para o equilíbrio.
Então, se eles tiverem tempo o bastante, conseguem torcer o corpo como um ginasta e posicionar os pés embaixo do corpo e, com isso, cair de pé.
"Todos que vivem em árvores têm o que chamamos de reflexo aéreo para endireitar", disse Robert Dudley, biólogo no laboratório de voo animal da Universidade da Califórnia Berkeley.

Pernas e paraquedas

Gatos também conseguem estender as pernas para criar um efeito de paraquedas, segundo Andrew Biewener, professor de biologia de organismos e evolucionária na Universidade de Harvard. No entanto, ainda não se sabe exatamente como isso desacelera a queda.
A gata Sugar (Foto: Animal Rescue League Boston)
Sugar sobreviveu a uma queda de 19 andares
"Eles estendem as pernas, o que vai expandir a área de superfície do corpo", disse.
E, quando eles chegam ao chão, as pernas fortes dos gatos, feitas para escalar árvores, absorvem o impacto.
"Gatos têm pernas longas e bons músculos. São capazes de saltar bem, os mesmos músculos direcionam a energia para a desaceleração ao invés de quebrar ossos", explicou Jim Usherwood, do laboratório de movimento e estrutura do Royal Veterinary College.

Ângulos e gatos urbanos

As pernas de um gato estão posicionadas em um ângulo diferente das pernas de homens ou cavalos por exemplo.
De acordo com Jake Socha, este ângulo diferente faz com que as forças "não sejam transmitidas diretamente" em uma queda.
"Se o gato caísse com as pernas diretamente embaixo dele, em uma coluna, e (as pernas) o segurassem firmemente, aqueles osso se quebrariam. Mas elas (as pernas) vão para o lado e as juntas se dobram, e agora você está pegando aquela energia e colocando nas juntas, com menos força indo para os ossos", disse.
Steve Dale, consultor especialista em comportamento de gatos para a Winn Feline Foundation, afirmou que gatos domésticos em áreas urbanas tendem a estar acima do peso e fora de forma e, por isso, suas habilidades para conseguir se virar durante uma queda e cair em cima das patas é menor.
"Aquela gata (de Boston) teve sorte. Mas muitos, provavelmente a maioria, teriam tido problemas graves no pulmão ou então fraturas nas pernas, talvez danos na cauda e também uma fratura na mandíbula ou um dente quebrado", afirmou.
"A lição que se aprende é, por favor, coloquem telas nas janelas", acrescentou.

quarta-feira, 28 de março de 2012

DESAFIOS NA CONTRATAÇÃO DE DEFICIENTES

Desinformação e falta de valorização são um dos entraves ao processo de integração social

Wesley Rodrigues
As empresas com mais de 100 funcionários são obrigadas, por lei, a manter um percentual de portadores de deficiências (PCD) no quadro de colaboradores. Entretanto, são constatados grandes desafios na integração de deficientes no mercado formal de trabalho. Não basta contratar, é preciso conhecer a deficiência e preparar o ambiente de trabalho para uma integração harmoniosa.
A Lei nº 8.213, de 24 de julho de 1991, prevê cotas para o deficiente no mercado de trabalho. A lei está completando 21 anos este ano e estabelece que as empresas que têm de 100 a 200 empregados devem reservar, obrigatoriamente, 2% de suas vagas para pessoas com deficiência, que podem ser visual, auditiva, física ou mental. Para as empresas que têm de 201 a 500 empregados, a cota é de 3%. Para as que têm de 501 a 1.000 empregados, de 4%. E para as que têm de 1.001 empregados em diante, de 5%.
Auditora fiscal do Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE) de Ipatinga, Ana Carolina Timo Alves, aponta que, geralmente, as empresas começam a contratar após a notificação do órgão. “A fiscalização é frequente e reiterada. Na região, as contratações têm sido cumpridas. Caso contrário, haverá a autuação pelo MTE”, afirma.
Mas as empresas alegam dificuldade de contratar PCDs porque nem todas as deficiências se enquadram na Lei de Cotas, informa Ana Carolina. Conforme a auditora, há deformidades que não configuram incapacidade para o desempenho de funções profissionais. Muitas pessoas com deficiência, seguradas pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), na maioria das vezes, optam por não perder o benefício previdenciário, o que ocorre ao se candidatarem a uma vaga de emprego.
A auditora fiscal reforça que a empresa precisa não apenas contratar um deficiente, mas adequar o posto de trabalho às suas necessidades, possibilitando que a pessoa desenvolva suas potencialidades. “O objetivo da lei é integrar pessoas discriminadas devido à sua deficiência”, ressalta.
Vagas
Na unidade do Sine, localizada no Sindicato dos Metalúrgicos de Ipatinga (Sindipa), sobram vagas para os portadores de deficiência, conforme a coordenadora da unidade, Roberta Lares. “Há uma grande demanda de vagas devido à obrigação social das empresas, mas a procura pelos deficientes é muito baixa”, pontua.
Roberta lembra que, na semana que passou, foram oferecidas 14 vagas para deficientes, mas registrou-se pouca procura para o encaminhamento dos profissionais. De forma geral, as vagas são destinadas para deficiências como visão parcial, audição parcial e nanismo. A coordenadora reconhece que vagas para pessoas com maiores limitações são mais difíceis. “Vagas para cadeirante, por exemplo, são raras. Mas é preciso que os deficientes venham e realizem o cadastro, para que a empresa perceba que há demanda. Por vezes, não há vagas, por não ter demanda. O que percebemos é que, em muitos casos, a pessoa com deficiência se esconde”, resume Roberta.
De acordo com o presidente da Associação dos Portadores de Deficiência de Ipatinga (Adefi), Norberto Vieira, um problema recorrente é que muitas empresas oferecem vagas que não aproveitam o potencial do indivíduo com deficiência. Para ele, os cargos são sempre inferiores e de baixa remuneração. “Para deficiente com nível superior é muito difícil conseguir emprego, ainda que o curso possa ser bem aproveitado”, ressalta.
Deficientes intelectuais
Segundo Viviane Samora de Souza, coordenadora de inclusão no mercado de trabalho da Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Ipatinga, a absorção no mercado de trabalho formal se agrava para as pessoas com deficiência intelectual, que apresentam alguma dificuldade de cognição ou de escolaridade. “São raras as vagas para a pessoa com deficiência intelectual e múltipla. Naquelas divulgadas por agências de emprego, percebe-se que só 2% da demanda são voltadas aos deficientes intelectuais”, destaca Viviane.
Atualmente, segundo Viviane Samora, há 40 alunos empregados da unidade da Apae em Ipatinga, resultado do esforço conjunto da equipe de inclusão. Para Viviane, há um receio pelo fato de as contratantes não saberem lidar com pessoas deficientes. “Falta informação e as empresas desconhecem as potencialidades do deficiente”. Para enfrentar este problema, a equipe de inclusão no mercado de trabalho da entidade procura realizar seminários, palestras e demais abordagens com empresários para esclarecer o tema.
“Mudança do olhar”
Sidney Ferreira de Arruda, 25 anos, teve paralisia cerebral no nascimento, o que comprometeu a sua coordenação motora. Apesar das dificuldades, o jovem é escritor e poeta, com trabalhos já publicados e vencedor de concursos literários. Sidney, atualmente desempregado, relata a dificuldade de conseguir trabalho. “Há empresas que, desinformadas, julgam incapacidade de trabalho devido à dificuldade motora. É mais simples contratar pessoas com deficiência leve, por ser mais fácil desenvolver a função. Elas não querem se adaptar às necessidades especiais porque é caro”, desabafa.
A fonoaudióloga da Adefi, Rita de Cássia Simão, teve poliomielite e enfrentou dificuldades para ingressar no mercado. Segundo ela, sempre escutava nas entrevistas que “o currículo é bom demais”, ou “não temos um cargo e salário adequados”. Rita comenta que há deficientes em todas as esferas sociais e não se preparam vagas para advogados, psicólogos, fonoaudiólogo, e outros profissionais de nível superior com deficiência. “A falta de informação está no conhecimento da própria deficiência; o que essa pessoa pode fazer? Quais suas capacidades?”, indaga. “Penso que é preciso uma mudança do olhar para o deficiente. O olhar no sentido de se colocar no lugar do outro, de enxergar o ser humano com suas limitações, mas também com suas potencialidades”, pondera.
http://saci.org.br/index.php?modulo=akemi&parametro=34027

CONTANDO A VIDA 74

Nosso cronista estreou idade nova semana passada. Por isso, escolhi uma crônica que trata sobre idade para parabenizá-lo atrasadamente.

BALZAQUIANAS E BALZAQUIANOS, hoje...
José Carlos Sebe Bom Meihy

Ontem fui arrastado ao teatro. Não pretendia sair de casa, num esforço para ter preparadas algumas apresentações que farei no exterior. Foi em vão. Amigos jovens intimaram e não tive como refutar a companhia agradável, os ingressos comprados, a condução arranjada. Mas, sequer sabia que peça me aguardava. Surpresa total. Sabia apenas que o tema era de meu gosto. Como aprecio muitos assuntos, confesso, fiquei tranqüilo. Curioso também e, assim, logo me entreguei à aventura.
A Casa Laura Alvin tem duas salas de teatro que se ajustam ao meu gosto: pequenas, bem arranjadas e com boa acústica, sempre com frequência requintada. Foi um bom começo para ver o monólogo “Agora eu vou falar” - texto de Victor Garcia Peralta e Rafael Gnone, que interpretava o dilemático Daniel. É lógico que a história me interessava até por se passar em uma sala de aeroporto e tratar de um rapaz nos seus trinta anos, tentando entrar nos Estados Unidos. Os temas percorridos são hilariantes: relações amorosas, família, casamentos, drogas, amigos... e sobretudo definição profissional. Divertidíssimo. Muito bem encenada, a peça era conduzida pela perspectiva masculina. À saída, contudo, fomos para a pizzaria mais próxima e a conversa versou sobre “ter trinta anos hoje em dia”. E foi muito engraçado ver como os argumentos se organizaram por gênero.
As mulheres que acompanhavam os dois rapazes e eu logo se concentraram na apropriação do discurso que polemizava o “casamento”. Os homens detiveram-se exclusivamente na questão “realização profissional”. Eu era o mais velho do grupo, aliás, com nada mais nada menos que o dobro da idade dos demais, alguns ex-alunos. Tentei ficar de fora do debate e me deliciava entre uma fatia de “napolitana” e matérias tão encandecidamente assumidas. Ter filhos, ser dona de casa, carregar o sobrenome do marido, eram assuntos das mulheres que usavam a responsabilidade de ser mulher hoje em dia como ponto de partida para tudo. Trabalhar era algo quase imposto nas justificativas femininas. Prestígio, reconhecimento profissional, dinheiro no bolso e capacidade de prover família, compunha a catilinária masculina, que tocava no tema casamento só vagamente.
O progresso do debate empolgava a turma até que alguém se lembrou de mim e sentenciou: e o que o professor acha disso tudo?... Não tive como evitar a resposta. Silentes, todos me olhavam como se fosse capaz de esclarecimentos definitivos. Arrisquei com um palpite infeliz: “não se fazem mais bazaquianos como antigamente”. Olhos se multiplicaram em minha direção. Tinha que me justificar. Apoiei meus argumentos na marchinha do carnaval de 1950, Balzaquiana, de Antonio Nássara e Wilson Batista, e até cantarolei “Não quero broto / Não quero, não quero não /Não sou garoto / Pra viver mais de ilusão /Sete dias da semana / Eu preciso ver minha balzaquiana /O francês sabe escolher / Por isso, ele não quer/Qualquer mulher / Papai Balzac já dizia /Paris inteiro repetia / Balzac tirou na pinta /Mulher, só depois dos trinta. Ao fim, ouvi um insolente “coroa machista”. Mas, gostei dos argumentos que tive que desenvolver para justificar. Fui mostrando que “tudo mudou muito”, os papeis sociais são outros agora e a noção de idade sofrera alterações fundamentais. Antes, ter trinta anos era um ritual de passagem para uma velhice precoce. Hoje, ter trinta anos é ainda estar entre o casamento e a profissão. O diagnóstico estava decretado: a juventude física demandava desafios. O feminismo trouxe desvantagens enormes para as mulheres, que perderam muito do encantamento que exigia do homem gentilezas e admiração. Além do cuidado com o lar e com a preservação da espécie, o trabalho duplicou suas jornadas. Os homens tiveram que ver nas mulheres concorrentes que assumem com sucesso progressivo o mercado de trabalho e, assim, perderam as companheiras. E ambos se viram na contingência de decretar independências e possibilidade de separações.
Curiosamente, percebi que aos trinta anos já tinha resolvido minha posição profissional e o casamento. E rendi graças por ter sido um balzaquiano trinta anos atrás. Quanta pena me dão os balzaquianos e balzaquianas de hoje...

terça-feira, 27 de março de 2012

TELINHA QUENTE 39

Roberto Rillo Bíscaro

Quando comentei sobre a segunda temporada de Forbrydelsen, meio que me desculpei por iniciar texto sobre a Dinamarca aludindo ao chavão sobre a podridão no reino nórdico. Desta vez, não preciso, porque Riget foi traduzido como O Reino, onde algo definitivamente está podre e bizarro.
Vi as 2 temporadas da obra televisiva do importante cineasta Lars von Trier, produzidas em 1994 e 97. O impacto de Twin Peaks, de David Lynch, é grande e a tendência conservadora do determinismo cínico do dinamarquês adequa-se perfeitamente ao gênero terror, ao qual a série se filia.
O Reino é o maior hospital dinamarquês, construído sobre pântanos imemoriais. Microcosmo da península jutlândica, o hospital entra em caos porque seus médicos – seres patéticos – esqueceram o lado espiritual, inebriados pela ciência e tecnologia. Tal desleixo, abre os portais do inferno e uma avalanche de bizarrices é oferecida, num clima cada vez mais aloprado e sem conclusão, como na série do diretor norte-americano.
Von Trier lança mão de um amontoado de lugares-comuns das narrativas de horror pra criar uma obra inegavelmente imaginativa. Gestações demoníacas, fantasma de garota afogada em busca de reparação, idosa que mantém contato com espíritos, zumbis criados por poção haitiana...
À parte o horror, Riget é puro melodramalhão com fartas doses de humor “negro” (detesto essa expressão racista, mas ainda não aprendi outra). A estudante de medicina que vê filmes gore pra tentar vencer o pânico por autópsias, o médico sueco que odeia a Dinamarca e olha a posição das fezes no vaso sanitário pra verificar seu estado de saúde, uma confraria de médicos mais obscurantista do que as superstições que finge combater. Gente estranha, muita esquisitice, que certamente gera a idéia de “moderno” em observadores de superfície.
Até o coro das tragédias gregas está representado em O Reino (há tempos, vi sua versão de Medeia, produzida pra TV dinamarquesa, em 87). Um casal de lavadores de pratos - aparentemente com Síndrome de Down – comenta, critica e prediz as (situ)ações. Em Twin Peaks não havia um anão que falava de trás pra frente? Essa noção da pessoa com deficiência inscrita em bizarrice travestida de rousseaunismo bonselvagista “especial” é de uma caretice atroz!
Filmado em tons sépia, closes microscópicos e câmera balançante, Riget é boa diversão, especialmente se entendermos que Von Trier é o resultado potencialmente perigoso de tempos que não crêem em mudanças além do cosmético e decretaram o fim da História.   

segunda-feira, 26 de março de 2012

CAIXA DE MÚSICA 64

Topônimos 80's – I
Topônimos são nomes ou expressões para designar lugares. Selecionei grupos e canções da década de 80, contendo referências de cidades, estados, países ou continentes nos nomes.

Os norte-americanos do America foram muito famosos na primeira metade dos anos 70. Em 82, miraculosamente voltaram às 10 mais com o soft-rock easy listening You Can Do Magic. Superdelícia FM da primeira metade dos oitenta. Alabama – nome dum estado norte-americano – misturava rock com country. Em 81, entraram na parada da Billboard com a “sertaneja universitária” Love in the First Degree. Ame ou odeie, mas Final Countdown (1986) é uma das canções-símbolo do excesso oitentista. Dos metaleiros-farofa do sueco Europe, seu riff demorará muitos anos pra desaparecer da cultura pop. O Asia foi um supergrupo formado por ex-integrantes de bandas prog influentes, como Yes, King Crimson e Emerson, Lake & Palmer. Egos inflados, som bombástico e produzido em excesso resultaram em vários sucessos de rock de arena. Em 82, Heat of the Moment estourou com sua sonoridade de assepsia laboratorial. No Brasil, o punk de boutique Supla fundou o Tokyo e em 86 duetou com a alemã Nina Hagen, a Garota de Berlim. Pros bem jovens: o “destroy” dito ao final da canção é alusão aos Sex Pistols, clássica banda punk inglesa. O Japan, banda inglesa, não durou muito, mas foi fundamental nos anos pós-punk e New Romantic. Capitaneada pelo excessivamente chique David Sylvian, deu a diretriz pra muito Duran Duran e Spandau Ballet da década do cabelão e da maquiagem masculina. Cantonese Boy é de 1981. O Texas era uma banda...escocesa! O nome foi inspirado pelo filme Paris, Texas, de Win Wenders. A julgar pelo sucesso I Don’t Want a Lover (1989), a trilha sonora de Ry Cooder influenciou certo clima bluesy na canção. A norte-americana Chicago existia desde 1967 e venderam muito, mas muito mesmo nos anos 70. Quando a mela-cueca Hard to Say I’m Sorry alcançou as paradas em 82, eles já estavam no 16º álbum. E ainda tiveram fôlego pra dominar as paradas durante toda a primeira metade dos 80s. Tom Scholz nomeou sua banda em honra de Boston, sua cidade-natal. O grupo vendeu alto nos anos 70 e parte dos 80. Em 86, a power-baladaça Amanda cravou número 1 na Billboard. Os norte-americanos do Berlin estavam na ativa desde 1978 e haviam lançado alguns singles de relativo sucesso, quando tiveram a sorte de ter Take My Breath Away (1986), escolhida pra trilha-sonora do filme Ases Indomáveis, quando Tom Cruise reinava nas telas. Encheu de tanto tocar, mas não dá pra negar seu lugar entre as canções-símbolo da década.

domingo, 25 de março de 2012

PEDRINHO EM ANGOLA

O livro infantil Pedrinho, o Menino Albino, da brasileira Patrícia Prado, alcançou o mercado africano, sendo distribuído em Angola. Viva!

QUANDO O SEXO VIRA DOENÇA


Sem cura, compulsão sexual pode destruir vida de doente em 3 anos

O ato sexual quando se torna uma compulsão passa de hábito à patologia e em um caso com sintomas crescentes pode levar a perda da vida social, saúde, emprego e condição financeira em três anos, segundo a psiquiatra Carmita Abdo. O filme "Shame", do inglês Steve McQueen, retrata a história de um homem (interpretado por Michael Fassbender) que convive com masturbação e pornografia diariamente nos intervalos do trabalho e em casa. Até o momento em que a irmã passa a morar na casa dele, interrompe estes hábitos e leva o personagem interpretado por Michael Fassbender ao desespero e loucura.
Carmita, também fundadora do Projeto Sexualidade (ProSex) do Hospital das Clínicas, explicou que, no início, o compulsivo por sexo consegue se organizar para saciar a libido. "Sem tratamento, não consegue mais trabalhar, não come, não dorme, a busca por parceiros toma conta da vida. Se um parceiro já não satisfaz, a pessoa vai atrás de outros e às vezes paga por sexo", disse a médica. 
O desejo por sexo surge independente da hora ou momento. No trabalho, se acontece a "crise", esta pessoa vai para o banheiro se masturbar. Com o agravamento, ela sai no meio do expediente em busca de um parceiro para fazer sexo, afirmou Carmita. "Então, começa a sair três vezes ao dia do trabalho para saciar o desejo, até que é demitido. Gasta todas as economias com sexo pago, perde a vida social e relacionamentos", enumerou a psiquiatra. O compulsivo por sexo fica sujeito a doenças sexualmente transmissíveis, problemas de saúde por exaustão e má nutrição. 
Maria Aparecida (nome verdadeiro foi alterado para preservar a identidade) sofre de dependência sexual e afetiva. Quando o problema começou a destruir sua carreira, ela passou a tratar o problema. "Não conseguir largar uma pessoa; viver situações de risco por isso; fazer sexo sempre; se focar totalmente em uma pessoa", descreveu ela sobre os próprios sintomas. O problema ocorreu com diversos parceiros, segundo ela, com os quais ela sentia compulsão por estar junto. 
"Negligenciei meu trabalho, só conseguia pensar em sexo e em estar com a pessoa. Por mim, ficaria 24 horas", contou. "Tive muitas perdas", acrescentou. Atualmente, ela frequenta o grupo Dependentes do Amor e Sexo Anônimos (D.A.S.A.) duas vezes por semana, mas confessou que ainda tem recaídas. Nos encontros, Maria relatou que os problemas, apesar de terem a mesma vertente - a dependência por amor e sexo -, são variados. Segundo o psicólogo e diretor do Instituto Paulista de Sexualidade, Oswaldo Rodrigues Junior, a compulsão surge de uma situação vivida. "Se o paciente já teve sexo com estranhos, esta será a forma que buscará, impulsivamente", disse. 
A doença
É importante distinguir o desejo sexual da compulsão. De acordo com Rodrigues Junior, o compulsivo não tem controle sobre o que lhe passa pelo espaço mental, não controla os pensamentos. "Os desejos surgem impulsivamente. A pessoa vai atrás de comportar-se de modo a suprir estas necessidades", disse ele. "O paciente compulsivo por sexo dá vazão aos desejos sem questionar se são adequados socialmente ou individualmente", completou. 
Já uma pessoa com hipersexualidade, se organiza para obter prazer e não destrói a vida profissional e social que tem, afirmou o psicólogo. Segundo a psiquiatra Carmita, a compulsão sexual é vista como um "distúrbio no metabolismo e neurotransmissores que provoca a desregulação da atividade sexual". Ela comparou as características da doença à dependência por drogas e álcool. "A estimativa é que de 2% a 6% da população mundial sofra compulsão sexual. A maioria ainda é homem, mas aparecem cada vez mais casos de mulheres", disse ela. 
Famosos como os atores Michael Douglas e David Duchovny, o cantor Latino e o jogador de golf Tiger Woods já admitiram sofrer compulsão por sexo. A patologia costuma surgir na juventude, atinge o auge na vida adulta e tende a ter os sintomas suavizados quando o indivíduo envelhece - apesar de ser raro um doente sem tratamento sobreviver até o período. Carmita esclareceu que os compulsivos não têm caráter violento e a doença não pode ser relacionada a casos de estupro. 
Tratamento
A compulsão por sexo não tem cura, mas, sim, controle. O uso de antidepressivos e neurolépticos é comum no Programa de Sexualidade do Hospital das Clínicas, segundo a psiquiatra, os medicamentos possuem componentes que diminuem a libido. Em paralelo, deve ser feita psicoterapia, para promover a reestruturação psicológica das ideias relacionadas ao sexo no indivíduo. "São vários anos de tratamento até que a pessoa consiga se controlar", disse ela. 
Em São Paulo, de acordo com Maria Aparecida, acontecem encontros da D.A.S.A. diariamente. Segundo ela, o tratamento se consiste em uma terapia de grupo, abstinência e ajuda psicológica mútua. 
D.A.S.A.


ProSex (Hospital das Clínicas)

(11) 2661-6982 

sábado, 24 de março de 2012

ALBINO GOURMET 67

Semana Santa se aproximando. Hora de pensar na receita do bacalhau pra Sexta-Feira Santa. 

sexta-feira, 23 de março de 2012

MITOLOGIA FURADA

Abandone sete mitos sobre a Síndrome de Down


Histórias de superação mostram que é possível conviver muito bem com a alteração genética
Letícia Gonçalves
Com uma dose a mais de cuidados especiais e carinho, quem tem Síndrome de Down pode ter uma vida marcada por grandes conquistas. Ilka irá se casar em dezembro, Leonardo é campeão de natação e Thiago está divulgando um livro em Nova York. Todos apresentam a terceira cópia do cromossomo 21, característica da síndrome, mas possuem muita autonomia por serem estimulados desde pequenos.
"Quanto mais cedo for iniciado um trabalho de estímulo e aprendizagem, maior a independência das pessoas com Down", afirma o geneticista e pediatra Zan Mustacchi, diretor do Centro de Estudos e Pesquisas Clínicas de São Paulo (CEPEC-SP). No Dia Internacional da Síndrome de Down, 21 de março, derrube mitos sobre essa alteração genética e conheça exemplos de superação que confirmam a fala dos especialistas.
Mito: a criança com Down só pode estudar em uma escola especial
O geneticista Zan recomenda exatamente o oposto: a família deve colocar o filho em uma escola comum. "Com o incentivo da aceitação dessa criança dentro da sala de aula, tanto ela quanto os colegas crescem acostumados às diferenças e derrubam barreiras de preconceito presentes na sociedade", afirma o profissional.
A psicóloga clínica e psicopedagoga Fabiana Diniz, da Unimed Paulistana, conta que a pessoa com a síndrome pode ter um retardo mental que vai do leve ao moderado, mas isso não a impede de se desenvolver cognitivamente. "Além da intervenção precoce na aprendizagem, é preciso carinho e estímulo por parte da família, terapias e tratamento medicinal quando necessário, além de incentivo à brincadeiras com jogos educativos", diz a especialista.
Mito: atividades físicas estão proibidas, somente a fisioterapia é liberada
Quem tem Down pode - e deve - praticar exercício físico, mas é preciso passar por uma avaliação médica antes e preferir atividades de baixo impacto. "A alteração genética pode causar problemas no coração, espaçamento da coluna vertebral e redução da força muscular", afirma a educadora física Natália Mônaco, do Instituto Olga Kos, que atende na cidade de São Paulo crianças, jovens e adultos com Síndrome de Down.
Leonardo Hasegava, 19 anos, apresentou grandes melhoras de força, flexibilidade, equilíbrio e agilidade por praticar Taekwondo no Olga Kos. A mãe, Marisa, conta orgulhosa que ele fez a sua primeira apresentação sozinho ano passado. "Em um ano de prática, ele já consegue chutar bem com a direita, mesmo sendo canhoto, e aprendeu a fazer um salto com dois pés juntos, algo de difícil coordenação", comenta.
Mito: a Síndrome de Down bloqueia o amadurecimento
Essa crença já foi defendida por alguns especialistas do passado, mas hoje não passa de um grande mito. Thiago Rodrigues, de 25 anos, serve como prova: é auxiliar administrativo de uma empresa de agronegócio e está em Nova York para divulgar um manual de acessibilidade para pessoas com deficiência intelectual, que escreveu junto com colegas que também possuem Síndrome de Down. "Viajar para fora do país era um dos meus maiores sonhos, mas ainda tenho muitos outros, como voltar a estudar pra fazer faculdade de ciência da computação", afirma o jovem.
A geneticista Fabíola Monteiro, da APAE de São Paulo, afirma é possível chegar a um desenvolvimento como o de Thiago com estímulo precoce e acompanhamento de profissionais, que pode envolver desde fisioterapia e fonoaudiologia até exames periódicos com um cardiologista. "É importante agir quando o cérebro ainda está em formação, para fazer com que a criança forme o máximo de conexões possíveis", afirma.
Mito: casais com a síndrome não podem ter filhos
O geneticista Zan explica que um casal pode ter filhos mesmo que ambos tenham Síndrome de Down. "A principal diferença é que as chances de o filho também apresentar a alteração genética são maiores: 80% se os dois tiverem Down e 50% se apenas um do casal tiver", diz. Em pessoas que não apresentam a síndrome, a chance de a criança nascer com o cromossomo a mais é de um para cada 700 pessoas.
Ilka Farrath, de 33 anos, está muito feliz ao escolher o vestido que irá usar para se casar com Artur Grassi - os dois possuem síndrome de Down e se conheceram quando ainda eram adolescentes na APAE de São Paulo. "A correria pra ver DJ, filmagem, decoração e outras coisas é grande, mas não deixo de fazer pilates duas vezes por semana para melhorar o alongamento e conseguir emagrecer até dezembro, quando será o casamento", afirma.
Mito: quem tem Down precisa sempre de um cuidador 24 horas por dia
A geneticista Fabíola afirma que a pessoa com a síndrome geralmente precisa de algum tipo de supervisão, mas não significa superproteção a todo o momento. "Dependendo do estímulo e das características pessoais, é possível ter uma vida mais independente", conta.
Thiago vive com a mãe, mas garante que tem muita autonomia: "Acordo cedo todo dia, troco de roupa, escovo os dentes, pego trem e ônibus até o trabalho e faço muitas outras coisas", afirma. A mãe de Leonardo, campeão de natação, também conta que ele viajou sozinho com a delegação para disputar as olimpíadas na Grécia. "Foi uma prova do quanto ele consegue ser independente, já que eu e meu marido só fomos para lá depois e não podíamos tirá-lo da vila olímpica", conta.
Já o Leonardo Ferrari, 18 anos, de Jundiaí-SP, destacou-se na natação: ficou em primeiro lugar classificação no Brasil para disputar a Special Olympcs 2011, na Grécia, que é a versão das olimpíadas para pessoas com deficiência intelectual. "Colocamos o Léo na natação aos oito anos de idade por causa da tendência maior a engordar e do sistema respiratório mais frágil, comum em quem tem a síndrome, e ele teve resultados muito além do esperado", afirma a mãe Berenice.
Mito: há diferentes graus de Síndrome de Down
A presença do cromossomo 21 extra é a mesma em todos os casos - não há graus. "A diferença entre uma pessoa e outra está nas oportunidades que cada uma tem de ser estimulada e nas características individuais que possui", comenta o geneticista Zan. É por isso que, como reforça a psicóloga Fabiana, é essencial um estímulo desde a infância. "Depende muito do grau de comprometimento da família para que o portador da síndrome possa enfrentar seus próprios medos e desafios e, dessa forma, levar uma vida normal, cercada de direitos e deveres como qualquer cidadão", comenta.
Ilka, que tem a síndrome e está prestes a se casar, é um exemplo do estímulo precoce: teve um atendimento de profissionais da APAE de São Paulo desde que tinha dois anos e oito meses. "Costumo dizer que lá é a minha segunda casa, já que também contribuiu para que hoje eu possa trabalhar, viajar e planejar o meu casamento", diz.
Mito: o cromossomo extra da síndrome vem apenas da mãe
"Nem sempre a cópia extra do cromossomo 21 vem da mãe, pode vir do pai também", afirma a geneticista Fabíola. Mas é verdade que, a partir dos 35 anos de idade da mulher, os riscos de o acidente genético acontecer são cada vez maiores. Zan Mustacchi explica que a mulher tem todos os óvulos formados dentro de si desde quando ainda é bebê, diferente do homem que produz espermatozoides a cada 72 horas desde a puberdade. "Ao longo dos anos, os óvulos também vão envelhecendo, o que pode aumentar o risco de ocorrerem alterações genéticas na formação do feto", diz o geneticista.

http://yahoo.minhavida.com.br/conteudo/14912-abandone-sete-mitos-sobre-a-sindrome-de-down.htm