quarta-feira, 14 de março de 2012

CONTANDO A VIDA 72


Nosso cronista-futebolista está entusiasmado com a eleição do ameaçado tatu-bola como mascote da Copa de 2014.   

TATU-BOLA, nosso mascote para a Copa do Mundo.
José Carlos Sebe Bom Meihy

Li no site da revista Veja, na sessão Radar, que é praticamente certa a escolha do “tatu-bola” como mascote da Copa do Mundo, versão 2014. Temia que  apelassem para nomes como “canarinha”, “amarelinha”, “gorduchina” (em homenagem a Osmar Santos), termos que, felizmente, logo foram descartados. Houve forte campanha em favor de “caramuri”, fruta amazonense e mesmo de “samba”, todos desprezados. Alegrei-me muito com “tatu-bola”. Demais. Sabia de outras candidaturas vigorosas do reino animal como a “onça-pintada”, o “jacaré-de- papo-amarelo”, a “arara-azul”; todos os candidatos com fortes apelos nacionalistas e emblemas de questões ecológicas e do meio ambiente. Não devo deixar de lado, que além dos bichos existiu também a proposta do nosso Ministro do Esporte, Aldo Rebelo, ligado ao Partido Comunista do Brasil, que defendia polemicamente a eleição do “Saci”, fato que poderia confundir desconhecedores de nosso folclore, que estranhariam a perna única do personagem. Todos devem lembrar que o Ministro é simpático à causa dos sacis e que isso o caracteriza como militante de tradições sinceras e defensáveis, mas, no caso, impróprias. Enfim, tudo indica que apesar das tramitações finais, confusas e burocráticas, a situação está resolvida em favor do nosso “tatu-bola”. E quem avaliza a escolha é nada mais nada menos que a própria FIFA.
Por que me entusiasmo tanto? Qual o motivo de minha alegria desbragada? Serei eu um desses defensores de animais ou animador de causas politicamente corretas? Tenho minhas razões que vão além do fato do bichinho em questão se transformar em uma bola redondinha da silva. Isso é mais do que lindo ou sugestivo. Não bastasse, porém, é um animal em extinção e o fato da escolha poderia chamar a atenção para a espécie terrivelmente ameaçada, com pouca visibilidade e com previsão de fim em menos de dez anos. Muitos dirão que a “arara-azul”, a “onça-pintada” e o “jacaré-de-papo-amarelo” também correm riscos, mas esses, perdoem-me seus defensores, estão bastante mais expostos, visivelmente defendidos e representados em cédulas, filmes, documentários e cartazes. Isso além de serem animais viçosos, fotogênicos, exuberantes ainda que, alguns, ameaçadores. E quem defende os simpáticos tatuzinhos? Pequeno, sem cor viçosa, com reputação tímida, os pobrezinhos quando ameaçados no máximo se defendem transformando em bola e se escondendo em si, dentro da terra. Ademais, o tatu-bola é genuinamente brasileiro, ao contrário das demais espécies que podem ser encontradas em outras plagas. O nosso tatuzinho-bola é animal que apenas existe no Brasil, nas caatingas e no cerrado, em terras mineiras, do nordeste e centro-oeste. Aliás, vale dizer que a candidatura do bichinho que se arredonda para se defender veio de uma ONG nordestina, do Ceará, chamada Associação Caatinga. A favor da eleição definitiva do tatu-bola, devo dizer que ele tem nome respeitável, oriundo do melhor latim classificatório e é catalogado como Tolypeutes tricnctus. A favor de seu currículo, também vale lembrar que é dos animais mais antigos, remanescentes de eras que se perdem na pré-história e muito apreciado pelos índios brasileiros, que se divertiam com sua capacidade de enrolar em si mesmo, ganhando o formato perfeito de uma pelota. Os selvagens o chamavam de “tatuapara”, “apara” e “apar”, que, em tupi, significa bola. De aparência modesta, o bichinho de cerca de 30 centímetros tem duas patas com cinco dedos em cada uma. Com gestação de quatro meses, a carne do animalzinho é muito apreciada por gourmets famosos no mundo. Sabe-se que sua carne é vendida em butiques de alimentos nos principais centros gastronômicos e o preço é elevado.
Enfim, vale saudar o tatu-bola e torcer para que a Copa do Mundo seja nossa e assim projete o animal com a reputação da “jabulani” sul-africana, mas com uma diferença: que a vitória, como ele, fique no Brasil.

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