Nosso
professor-cronista está revoltado com o aviltante salário dos docentes
brasileiros. Afinal, se falam tanto que um país forte só se constrói através da
educação, como fazer isso com os salários de fome pagos a nossos professores?
A CONDIÇÃO
DE PROFESSOR...miséria pouca é bobagem.
Não tenho
dúvidas da reputação romântica que se faz dos decentes. Entre encantamentos
profissionais idílicos, a condição de professor é das mais badaladas, alardeada
com redentora do mundo e promessa de dias melhores para todos. Há, por certo,
algo de poético nessas referências e à inspiração da santidade de Jesus muitos
são exaltados como “mestres”. É até cansativo ouvir que o futuro das nações
depende dos professores e que pela educação seremos salvos. Não se duvida disso,
aliás, e pelo contrário, assevera-se que uma das alternativas mais expressivas
para o desenvolvimento é,sim,pelo ensino, mas ensino de boa qualidade e com
condições de continuidade. Afora os elogios e afagos verbosos, compete mergulhar
com seriedade nos fatos. Comecemos pelo reconhecimento de culturas e países que
fizeram do projeto educacional mais do que um amontoado de palavras elogiosas
na base do “ao mestre com carinho”. Estados potentes, como a China e a Coreia
do Sul.por se colocarem nos rankings
das melhores situações escolares, destacam-se como potências exemplares. O
Japão é modelo expressivo e não menos evidente o caso da Alemanha. Estados como
Finlândia, Dinamarca, Suécia e Noruega, entre outros, têm sua estabilidade
apoiada em sólida educação dos jovens e por isso apresentam os melhores índices
de qualidade de vida do planeta. Precisei desta introdução para argumentar em
favor da condição de trabalho dos nossos professores, em particular, de escolas
públicas.
Sabe-se que
temos uma das piores distribuições de renda do mundo. Mesmo reconhecendo
avanços nos últimos tempos, estamos longe da lógica que nos coloca como sexta
maior economia do planeta. Entre 107 países, pelo índice Gini, promovido pelo
Banco Mundial, ocupamos o vergonhoso nono lugar entre os piores. Sim, estamos
de ponta cabeça em vista da riqueza do país. Isso equivale dizer que, na melhor
das hipóteses, seguimos melhorando, mas muitíssimo devagar. Por lógico, o
processo é histórico e tem raízes deitadas no amanhecer de nossa vida social.
As arestas da roda histórica apontam para a falta de políticas públicas
eficientes, a falência do modelo econômico que exclui grande parte da
população, a atenção dada às instituições econômicas e não à população.
Sobretudo temos o escandaloso problema dos salários dos docentes. Enfim, a
ladainha é grande e repetitiva.
Em meio a
uma avalanche de equívocos, eis que de, repente o Ministério da Educação propõe
novo piso salarial mínimo para os professores. O que poderia ser uma boa nova
tornou-se, ironicamente, situação política grave, ocupando páginas de jornal e
alardeando argumentos ridículos por parte de políticos. A irrisória quantia de
R$ 1.451.00 definida foi o suficiente para que governadores e prefeitos se
levantassem como guerreiros armados contra inimigos potentes. Desprezando o
fato de que essa proposta já foi legitimada pelo Supremo Tribunal Federal, uma
combinação de governadores, de onze estados, foi a Brasília reclamar dos “aumentos
abusivos”. Sem considerar os gastos das próprias administrações, de viagens inúteis
e das representações que mantém na capital federal, esses senhores apedrejam
uma proposta mais que respeitável.
Contextualizemos
o caso a fim de verificar a fundura do problema. Alguns governadores ganham
cerca de R$ 30 mil. Os salários da magistratura são altos e não menores são os
dos representantes diplomáticos que, além dos soldos, percebem também ajuda de
custo. Tudo sem dizer do escandaloso “auxílio paletó”, taxa extra paga a
deputados. Nem vou entrar no debate do 15º salário de alguns políticos. Não
sou, absolutamente, contra bons soldos. De forma alguma, mas, quando apelo para
a relação entre os bem pagos e os mal pagos me arrepio. Sabem quanto é o
salário mínimo de um professor no estado do Rio Grande do Sul? Pois é: R$
791,00.As palavras do atual Ministro da Educação,Aloísio Mercadante, são
objetivas ao garantir que “a valorização do professor começa pelo piso
salarial”. Mas, antes de dar o segundo passo na suposta “valorização docente”
cabe garantir a firmeza do primeiro degrau. É aí que entramos na história. Sim,
é preciso discutir desbragadamente esta condição. Vale, por exemplo, mostrar
que entre os 65 países avaliados no ano passado, o Brasil ocupa o vexatório 53º
posto. Perdemos apenas para seis outros e estamos atrás, imaginem, de Trinidad
e Tobago, Bulgária, México.
Que fazer?
Coloquemos a questão ao público, discutamos em casa, nas escolas, com os
professores, nas rodas e redes sociais, e, se for necessário, saiamos às ruas.
Afinal, a vida não é uma grande escola?
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