Miguel
Naufel, nosso mais produtivo contador albino de histórias, enviou nova
colaboração ao blog.
Miguel José Naufel
Desta
vez, ele relata a experiência de um jovem albino em busca de trabalho na São Paulo
de meados dos anos 80, época de crise braba no Brasil.
Em
busca de trabalho
Quem é mais velho sabe da crise econômica
de 1986. Todos sofremos muito com ela. Não se poderia imaginar que o governo
congelaria a caderneta de poupança, que, na época era a maior renda do brasileiro,
pois os juros chegavam a mais de 90% ao mês.
Nós que tínhamos nossa renda garantida na poupança, de uma hora para outra ficamos sem nada, nada mesmo...
Meu pai vendera todos os seus imóveis e aplicara o dinheiro na poupança e de uma hora para outra não tínhamos dinheiro nem para comer!
Nós que tínhamos nossa renda garantida na poupança, de uma hora para outra ficamos sem nada, nada mesmo...
Meu pai vendera todos os seus imóveis e aplicara o dinheiro na poupança e de uma hora para outra não tínhamos dinheiro nem para comer!
Diante de tanto desespero, resolvi ir
para São Paulo, capital. Levava um currículo com todos os meus dados pessoais,
minhas experiências profissionais na área de som. pois tinha mais de vinte anos
fazendo sonoplastia em eventos, gravando comerciais para rádios, vendendo
discos, que, na época, eram de vinil...
Toda esta experiência devia servir para
que eu conseguisse me empregar em uma firma de som .Na realidade, seria tudo
muito difícil para mim: tomar ônibus, atravessar ruas, ler placas, afinal, a
baixa visão é um problema. Já sabia disso, pois metade da família mora em Sampa
e eu já passara por dificuldades quando tinha que ir à cidade, o que fazia com
frequência.
Por exemplo, quando estava em um ponto
de ônibus pedia para alguém me avisar quando o ônibus para tal lugar chegasse. Muitas
vezes, o ônibus da pessoa para a qual eu havia pedido chegava antes do que o
meu e daí tinha que pedir a outra. Quando necessitava atravessar uma rua, seguia
as pessoas que esperavam o sinal abrir. Mas, e quando não havia ninguém?...
Mesmo assim, levei currículos a várias
firmas que trabalhavam com som. Fui chamado para algumas entrevistas. Mas,
quando chamavam meu nome, ficavam meio espantadas: viam um albino com óculos
grossos e um currículo tão profissional...
Em uma das entrevistas ouvi que era
impossível alguém como eu fazer a sonoplastia de um show... Aquilo doía mais
que tudo. Não tinha nem como contra-argumentar, pois eram tão diretos que me
desmontavam!
Hoje tenho dó destas pessoas. Acho que
me amo mais... Uma vez na Avenida Paulista, parei um rapaz e perguntei onde era
o numero de um prédio. Ele riu e respondeu: “tá me fazendo de bobo, malandro?” E
continuou andando. Quando me aproximei do prédio do qual estava em frente, era
o número que procurava; com algarismos luminosos, bem na fachada. Então entendi
porque o rapaz não me respondeu...
Nunca consegui um emprego em Sampa.
Apenas trabalhei em alguns eventos nos balneários da prefeitura e fiz som para
balé aquático, por intermédio de uma prima, que trabalha com natação. E só.
Pouco demais para alguém com o
currículo que eu possuía.
Miguel José Naufel
Fatos adversos como esse, ajudaram a construir um grande e iluminado ser humano.
ResponderExcluir