quinta-feira, 1 de março de 2012

O REFUGIADO ALBINO

Encontrei entrevista com um refugiado albino somali, vivendo em um campo de refugiados no Quênia. Não é uma grande entrevista e a introdução tem algo de inexato, mas traduzi o texto, porque sempre convém lembrar a dificuldade que boa parte da população albina africana enfrenta.

A Vida como Refugiado Albino em Lfo

Albinos são raramente vistos na Somália, devido ao calor extremo. O fato de não possuírem melanócitos – células produtoras de melanina, localizadas na camada inferior da pele e que filtram os raios ultravioleta do sol – torna-os mais suscetíveis ao câncer de pele, reduzindo sua longevidade. Estudos indicam que em condições favoráveis, o tempo de vida de um albino varia entre 30 a 50 anos. Eles não toleram temperaturas acima de 20 graus centígrados (sic) e são usualmente estigmatizados na Somália, devido a sua pele branca.
Somalia Report conversou com Mohamed Ibrahim, 26, albino residente no campo de refugiados Lfo.
Por favor, fale-nos sobre sua vida aqui.
Ela não é muito boa, devido a minha condição. Embora ainda enfrente discriminação por parte de alguns refugiados, agradeço a Deus por estar bem.
Quando você entrou no Quênia e de onde você é?
Sou natural de Mogadishu e entrei no Quênia em janeiro de 2009. Atualmente, minha saúde não é boa. Após longa e cansativa jornada, cheguei aqui com minha família. Fomos aceitos e temos vivido aqui desde então. À caminho do campo, perdi meu filho.
Como as pessoas o trataram? Você foi bem recebido?
Quando chegamos aqui, fomos completamente ignorados. Durante o primeiro mês, as pessoas nos visitavam em total perplexidade. Algumas tinham medo, como se fossemos ogros; outras jamais tinham visto um albino, portanto, tolerei tudo e construí minha vida lidando com isso. Nossos filhos sofrem torturas mentais e não podem sair para brincar com as crianças de sua idade. Na escola, elas também são segregadas.
Quantas pessoas há em sua família e quantas famílias albinas vivem em Lfo?
Somos em 4, contando comigo. Não sei o número exato de famílias albinas, mas creio que haja entre 10 a 15, quantidade pequena, considerando-se a população do campo.
Qual era sua profissão na Somália e o que você faz agora?
Eu não tinha uma profissão específica, mas já limpei a cozinha de um hotel e já fui pescador. Não deu certo como pescador porque eu era estigmatizado: ninguém comprava de nós, porque as pessoas pensam que somos doentes, portanto, nossa mercadoria também é doente. No momento, estou desempregado. Aqui no campo, impera a lei do mais forte. Se uma pessoa saudável não consegue emprego, imagine eu!
O que o fez fugir da Somália?
Não houve nenhum problema específico que haja me afetado, mas, quando a insegurança tornou-se diária, minha família e eu decidimos emigrar para este campo. Outras famílias haviam emigrado, então decidimos fazer o mesmo.
Você recebeu algum tipo de tratamento especial?
De modo algum; fomos tratados como os demais. Ao invés de receberem auxílio, algumas famílias chegaram a ser barradas na fronteira. Fui ao escritório central em Dadaab para denunciar e me asseguraram que tomariam providências, mas até agora nada foi feito. Nem sei se estão cuidando do assunto ou não.
O que é melhor para sua saúde: estar aqui em Lfo ou em Mogadishu?
Aqui, pois há alguns hospitais que nos dão assistência. De vez em quando, alguma organização humanitária nos dá alguma ajuda. Parece que as pessoas têm misericórdia por nós. Também há grupos de caridade islâmicos que nos auxiliam. Graças a Deus, a vida não é ruim.
Para terminar, qual é o seu pedido para o mundo?
Gostaria de pedir ajuda às pessoas boas e caridosas, para que cuidem de nós.

(Essa matéria me lembrou uma canção da Sade, sobre uma mulher somali, catando grãos de arroz à beira duma estrada, pra alimentar os filhos.)            

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