quinta-feira, 15 de março de 2012

TELONA QUENTE 45


Roberto Rillo Bíscaro

Se o espanhol Jaume Balagueró tivesse dirigido apenas o fantástico [REC] (2007), já teria feito mais do que muito diretor por aí; Mas, seu CV tem outras coisas que me agradam muito, como Los Sin Nombre (1999), Darkness (2002) e sua excelente contribuição para a série de TV Películas Para No Dormir (2006). Ano passado, o badalado catalão mudou o foco do terror sobrenatural para o thriller cotidiano Mientras Duermes. Sua (de)mente continua boa, garantindo um filme que, se não memorável no gênero, é muito divertido.
Tenho visto com frequência o slogan gentileza gera gentileza. Alberto Marini torceu essa falácia pra criar um porteiro crônica e patologicamente infeliz que deseja estender sua infelicidade a todos que o cercam. César – interpretado por um sólido Luis Tosar – é familiar pros cinéfilos: a polidez do homem encobre um sociopata, que vigia todos os moradores do edifício onde trabalha, especialmente a risonha Clara.
Sem muito sangue, Balagueró extrai horror do cotidiano, do (falsamente) conhecido e das artimanhas que César utiliza pra aterrorizar Clara e criar alguns momentos inquietantes, que talvez pudessem ter sido mais desenvolvidos, mas parece que o plano do diretor era afastar-se do terreno do horror.  
Claro que temos que fechar os olhos pra algumas inverossimilhanças, mas o grande lance de Mientras Duermes é que o diretor perversa, mas muito sutilmente nos coage a empatizarmos com César. Clara é feliz e tontinha demais. Não que crie um vilão simpático e uma vítima antipática; o que ocorre é que somos muito mais íntimos de César do que qualquer outra personagem. E é precisamente essa ênfase na cotidianidade do protagonista que cobra seu preço no roteiro; a ausência de momentos mais perturbadores com fins de tornar César mais próximo do espectador elimina a possibilidade de vôos mais altos e icônicos pro filme.   
Embora as subtramas sejam pontos fracos na película, Mientras Duermes garante hora e meia de boa diversão suspensiva. E o final é cruel, sem derramar gotícula de sangue! 

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