Roberto Rillo Bíscaro
Se o espanhol Jaume Balagueró tivesse dirigido apenas o
fantástico [REC] (2007), já teria feito mais do que muito diretor por aí; Mas,
seu CV tem outras coisas que me agradam muito, como Los Sin Nombre (1999),
Darkness (2002) e sua excelente contribuição para a série de TV Películas Para No
Dormir (2006). Ano passado, o badalado catalão mudou o foco do terror
sobrenatural para o thriller cotidiano Mientras Duermes. Sua (de)mente continua
boa, garantindo um filme que, se não memorável no gênero, é muito divertido.
Tenho visto com frequência o slogan gentileza gera gentileza. Alberto Marini torceu essa falácia
pra criar um porteiro crônica e patologicamente infeliz que deseja estender sua
infelicidade a todos que o cercam. César – interpretado por um sólido Luis
Tosar – é familiar pros cinéfilos: a polidez do homem encobre um sociopata, que
vigia todos os moradores do edifício onde trabalha, especialmente a risonha
Clara.
Sem muito sangue, Balagueró extrai horror do cotidiano,
do (falsamente) conhecido e das artimanhas que César utiliza pra aterrorizar
Clara e criar alguns momentos inquietantes, que talvez pudessem ter sido mais
desenvolvidos, mas parece que o plano do diretor era afastar-se do terreno do
horror.
Claro que temos que fechar os olhos pra algumas
inverossimilhanças, mas o grande lance de Mientras Duermes é que o diretor perversa,
mas muito sutilmente nos coage a empatizarmos com César. Clara é feliz e
tontinha demais. Não que crie um vilão simpático e uma vítima antipática; o que
ocorre é que somos muito mais íntimos de César do que qualquer outra
personagem. E é precisamente essa ênfase na cotidianidade do protagonista que
cobra seu preço no roteiro; a ausência de momentos mais perturbadores com fins
de tornar César mais próximo do espectador elimina a possibilidade de vôos mais
altos e icônicos pro filme.
Embora as subtramas sejam pontos fracos na película,
Mientras Duermes garante hora e meia de boa diversão suspensiva. E o final é
cruel, sem derramar gotícula de sangue!
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