Nosso cosmocronista está
justamente indignado com a caipirice de certos brasileiros, admiradores sem
restrição de tudo que é estrangeiro, enquanto desconhecedores das coisas
d’aqui.
Em São Paulo , além do MASP, com coleção exemplar de pintura europeia,
norte e latinoamericana composta principalmente depois da Segunda Guerra
Mundial e polemizada pelo nosso Lobato – que era pintor também – possuímos a
Pinacoteca do Estado, fabulosa galeria do que de melhor produzimos em termos de
pintura e escultura. Na bastasse a coleção, o prédio e os displays são delirantes. Complemento dessas mostras, os museus da
USP, a Casa Brasileira, o de Arte Sacra e o acervo apreciável do Museu do
Ipiranga, iluminam nosso passado de forma ilustrativa. Isto entre sítios
culturais interessantíssimos com monumentos e prédios exemplares. Na Paulicéia,
há dois museus interativos que fazem as delícias de jovens e adultos: o da
Língua Portuguesa e o do Futebol. Como perder oportunidades de visitas a esses
logradouros públicos modernos e acessíveis? Não me parece justo negar de
filhos, netos, amigos e parentes o direito de conhecer tais tesouros.
BIBLIOTECA NACIONAL – “O Brazil não conhece o Brasil”.
José Carlos Sebe Bom Meihy
Por vezes, fico consternado
quando ouço brasileiros enaltecerem exclusivamente o patrimônio histórico e
artístico exterior e se vangloriarem ad
nauseam de passagens pelo Prado, Louvre, Museu Britânico, pelo Metropolitan
em Nova York. Por
lógico, celebro e me rejubilo pela cultura universal e até me julgo mesmo
cidadão do mundo, mas não deixo de reverenciar as coisas boas que temos. E como
as temos. Nutro, pois, indignações quando penso em amigos que conhecem museus,
arquivos, coleções europeias ou norte-americanas e nunca entraram nos muitos correspondentes
nacionais. Chego a visitar os porões do constrangimento quando constato a
completa ignorância de tantos que enchem a boca ao falar de “lá” esquecendo que
temos um “cá”. Esforço-me por compreender razões e só assim caminho para alguma
clemência. O que me perturba na verdade é que temos sobejamente o que mostrar.
Ah! Como temos...
No Rio, situam-se o magnífico
Museu Nacional de Belas Artes e o Museu Histórico Nacional, ambos abertos à
revelação de patrimônios injustificavelmente ocultos de nossos interesses e
registros imediatos. Ambos são muito bem montados e possuem visitas guiadas que
ajudam a entender muito do que não é devidamente divulgado, pois ainda persiste
a velha política de mostrar apenas a exuberância da natureza carioca e não os
interiores de igrejas e prédios históricos. Além desses e de muitos outros
espaços culturais, há um lugar que merece destaque nessa lista que se alça mais
do que convite, como desafio ao bom gosto: a Fundação Biblioteca Nacional
(FBN). Completando cem anos, num prédio lindo e de fácil acesso (metrô à porta),
temos o incrível acervo que qualifica a nossa como a oitava maior Biblioteca Nacional
do mundo. É isso mesmo, temos um patrimônio invejável, muito bem cuidado, em
salas indescritíveis, com qualidade de atendimento invejável. É injusto não
visitarmos tal instituição. É errado tirar de nós mesmos, de amigos e parentes
o direito de percorrer corredores e salas tão importantes. Além das séries
gerais, há duas seções imperdíveis: a de fotografias e principalmente a de
obras raras – esta, aliás, é das mais bonitas do país. Tudo na FBN. No primeiro
caso, as séries de fotos feitas pelo nosso segundo imperador, Dom Pedro II, são
fabulosas pelo conteúdo, originalidade e principalmente pela conservação.
Frente às obras raras possuímos algumas riquezas únicas e cabe avaliar a
conservação e o acesso.
Pensando no paradoxo entre o
culto às salas estrangeiras e o apagamento do registro nacional me veio à
lembrança uma canção de Maurício Tapajós e Aldir Blanc imortalizada na voz de
Elis Regina “o Brazil não conhece o Brasil/ o Brasil nunca foi o Brazil” por
favor, prestem atenção no jogo da letra “z” e “s” da palavra Brasil. Até parece
que essa canção foi escrita para ilustrar o que penso e o que é mais dramático
é o final “o Brazil não merece o Brasil/ o Brazil tá matando o Brasil”. Termino
pedindo que não me vejam em um acesso nacionalista ou patriótico. Não. Apenas
gostaria de assinalar o que é sabido: só se ama o que se conhece.
Nenhum comentário:
Postar um comentário