terça-feira, 24 de abril de 2012

TELINHA QUENTE 41


Roberto Rillo Bíscaro

Na era do compartilhamento de arquivos e sítios onde se baixam filmes, séries, documentários e programas de TV, espanta-me a falta de iniciativa e criatividade dos que se queixam da escassez de boas opções televisivas.
Terça passada vi uma pequena pérola produzida pela rede norte-americana CBS, em 1966: uma adaptação de Death of a Salesman, obra-prima de Arthur Milller. Teleteatro como não havia há anos. Será que ainda se produzem coisas assim?
Miller demole a ideia do Sonho Americano através do sexagenário Willy Loman, que viveu acreditando que o mais importante era “ser gostado” e se dando importância que não possuía. O trágico Loman jamais percebeu ser peça pequena e facilmente substituível do jogo/jugo capitalista. No processo, cria os 2 filhos enchendo tanto suas bolas que o mais jovem se torna mulherengo e quase cópia do pai e o mais velho, Biff, uma espécie de perdedor crônico. Entretanto, é o primogênito o único a ter consciência da desimportância dos Loman na ordem das coisas.
A Morte do Caixeiro-Viajante permite muitas abordagens e os críticos frequentemente preferem olvidar o veneno destilado por Miller contra a selvageria capitalista, desviando o foco pra relações pai e filho, adultério e sei la mais qual detalhe.
Realismo-psicológico com sobretons de tragédia grega, Death of a Salesman não achincalha o pobre Willy Loman, em processo acelerado de desintegração mental, a qual se manifesta formalmente na estrutura temporal da obra. Linda, a esposa devotada, é quem nos chama a atenção pro fato de que, embora antipático, Loman é uma vítima dum sistema incompreensível ao homem comum. “Atenção deve ser prestada”, diz ela, na maestria milleriana de fazer a frase na voz passiva. A última fala é dela e sintomaticamente repete “não entendo, não entendo”, aos prantos.
Triste e comovente, a versão da CBS pra Death of a Salesman traz Lee J. Cobb como Willy Loman. O ator conhecia o papel de cor, uma vez que o interpretara na Broadway, na estreia da peça, em 1949. O já veterano Lee não deixa pedra sobre pedra: há horas que dá vontade de abraçar Willy e consolá-lo, em outras, dá ganas de torcer-lhe o pescoço. Mãos, expressão facial, tons de voz, velocidade de fala, tropeços vocálicos; Cobb ganhou lugar no paraíso dos tespianos.
Claro que a excelência do trabalho não seria possível sem os demais ótimos atores e a produção, que é de teleteatro e não de telefilme.
Saber outro idioma e otimizar o uso dessa ferramenta fantástica que é a internet é a solução pro seu tédio frente à telinha. 

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