Novamente,
nosso cronista albino Miguel Naufel vem com uma de suas muitas histórias
verídicas.
Na de
hoje, ele mistura suspense com caipirinha e conta o que aprendeu.
Cerveja, Pinga
ou Baixa Visão?
Meu amigo
Chicão trabalha em uma pequena usina hidroelétrica a 18 km. De Mococa (SP). A
estrada para chegar até lá é bem precária, em plena mata. Ele vai para lá toda
segunda-feira pela manhã e volta para sua casa na cidade todo sábado.
Toda
quinta a tardezinha, nos reunimos em um grupo de quatro ou cinco amigos e vamos
para a usina, que se chama Pedra Branca.Levamos cerveja e pão. Lá sempre tem
carne, carvão, peixe e pinga. Não pode faltar caipirinha de pinga!
Para se
entrar na propriedade há uma pequena ponte, que não passa de trilho de trem
onde só há espaço para os pneus do carro. A ponte fica sobre o rio Canoas, rio
que movimenta as máquinas da usina, que manda energia elétrica a São Benedito
das Areias e Igaraí, distritos de Mococa.
Depois de
atravessar a pequena ponte, existe uma porteira, constantemente fechada. Então,
para se chegar à usina, você atravessa a ponte e tem que descer do carro para
abrir a porteira. Ao passar pela porteira, você tem que descer do carro e fechá-la.
Nunca
desci para abrir ou fechar a porteira; todos os meus amigos mais íntimos sabem
de minha baixa visão e que eu não devo me expor ao sol. Mas, em uma dessas
quintas estava muito frio e abusamos um pouco mais na caipirinha...
Eu e um
amigo fomos os últimos a ir embora;Chicão já estava dormindo e roncava mais que
uma locomotiva a pleno vapor... Meu amigo falou:
- Miguel,
vamos fechar tudo e vamos embora. São duas da manhã e tá muito frio...
Fechamos a
casa e entramos no carro, uma caminhonete Estrada. Ao chegarmos à
porteira,simplesmente sai do carro, abri a porteira e meu amigo parou o carro
no meio da ponte. Fechei a porteira e dei alguns passos, quando, derepente, me
senti em pleno ar,totalmente desequilibrado. Mergulhei em uma água fria e bati
as costas em uma pedra debaixo d’água.
- Vou
morrer! – pensei.
Não podia
respirar, estava embaixo d’água ..
-Como vão
ficar o Chicão e o meu amigo que está comigo? Morreriam de remorso.
Com muito
esforço, arrastei-me de costas sobre as pedras, embaixo d’água e consegui levantar
a cabeça. Vi a ponte lá em cima e o som da música que vinha do carro. Sentia
tanta dor nas costas que não conseguia gritar...
Depois de
alguns minutos - que pareceram horas –o volume da musica foi diminuindo: é
quando acaba uma canção para começar outra... Gritei com todas as forças de meus pulmões. Meu
amigo me ouviu e, seguindo meus gritos, deu a volta no carro e veio ao lado da
porta do passageiro. Amarrou uma ponta da corda na cintura e outra na caminhonete.
Desceu, me abraçou e puxou-me para cima.
Fiquei
alguns dias com dor nas costas, durante os quais rimos muito do ocorrido.
Mas, cerveja, pinga e baixa
visão definitivamente não combinam!
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