terça-feira, 15 de maio de 2012

O MERGULHO DE MIGUEL NAUFEL

Novamente, nosso cronista albino Miguel Naufel vem com uma de suas muitas histórias verídicas.
Na de hoje, ele mistura suspense com caipirinha e conta o que aprendeu.

Cerveja, Pinga ou Baixa Visão?

Meu amigo Chicão trabalha em uma pequena usina hidroelétrica a 18 km. De Mococa (SP). A estrada para chegar até lá é bem precária, em plena mata. Ele vai para lá toda segunda-feira pela manhã e volta para sua casa na cidade todo sábado.
Toda quinta a tardezinha, nos reunimos em um grupo de quatro ou cinco amigos e vamos para a usina, que se chama Pedra Branca.Levamos cerveja e pão. Lá sempre tem carne, carvão, peixe e pinga. Não pode faltar caipirinha de pinga!
Para se entrar na propriedade há uma pequena ponte, que não passa de trilho de trem onde só há espaço para os pneus do carro. A ponte fica sobre o rio Canoas, rio que movimenta as máquinas da usina, que manda energia elétrica a São Benedito das Areias e Igaraí, distritos de Mococa.
Depois de atravessar a pequena ponte, existe uma porteira, constantemente fechada. Então, para se chegar à usina, você atravessa a ponte e tem que descer do carro para abrir a porteira. Ao passar pela porteira, você tem que descer do carro e fechá-la.
Nunca desci para abrir ou fechar a porteira; todos os meus amigos mais íntimos sabem de minha baixa visão e que eu não devo me expor ao sol. Mas, em uma dessas quintas estava muito frio e abusamos um pouco mais na caipirinha...
Eu e um amigo fomos os últimos a ir embora;Chicão já estava dormindo e roncava mais que uma locomotiva a pleno vapor... Meu amigo falou:
- Miguel, vamos fechar tudo e vamos embora. São duas da manhã e tá muito frio...
Fechamos a casa e entramos no carro, uma caminhonete Estrada. Ao chegarmos à porteira,simplesmente sai do carro, abri a porteira e meu amigo parou o carro no meio da ponte. Fechei a porteira e dei alguns passos, quando, derepente, me senti em pleno ar,totalmente desequilibrado. Mergulhei em uma água fria e bati as costas em uma pedra debaixo d’água.
- Vou morrer! – pensei.
Não podia respirar, estava embaixo d’água ..
-Como vão ficar o Chicão e o meu amigo que está comigo? Morreriam de remorso.
Com muito esforço, arrastei-me de costas sobre as pedras, embaixo d’água e consegui levantar a cabeça. Vi a ponte lá em cima e o som da música que vinha do carro. Sentia tanta dor nas costas que não conseguia gritar...
Depois de alguns minutos - que pareceram horas –o volume da musica foi diminuindo: é quando acaba uma canção para começar outra...  Gritei com todas as forças de meus pulmões. Meu amigo me ouviu e, seguindo meus gritos, deu a volta no carro e veio ao lado da porta do passageiro. Amarrou uma ponta da corda na cintura e outra na caminhonete. Desceu, me abraçou e puxou-me para cima.
Fiquei alguns dias com dor nas costas, durante os quais rimos muito do ocorrido.
Mas, cerveja, pinga e baixa visão definitivamente não combinam!

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