Elizabeth II está sentada no trono inglês desde 6 de fevereiro de 1952. Em atenção a seu jubileu de diamante, vi a minissérie The Queen (2009), produzida pelo Channel 4. Em 5 episódios, 5 atrizes sucedem-se interpretando a rainha em momentos-chave de seu reinado.
O programa mistura fascinantes cenas de arquivo da
Família Real, entrevistas com jornalistas, biógrafos e gente ligada à Casa dos
Windsor com partes dramatizadas. História e ficção novelados; novelização da
História. A vida inglesa de mais de meio século definida como tendo sido
“moldada” por Liz. Privatização da História e clara tomada de posição dos
roteiristas: The Queen é pró-monarquia.
Como fã dos Ewings e dos Carringtons/Colbys, não
resisto à disfuncionalidade dos milionários Windsors, embora nenhum deles seja
tão atraente quanto seus pares ficcionais. E no quesito escândalo e problemas,
The Queen não nega fogo.
O primeiro episódio lida com a irmã da Rainha, a
Princesa Margaret, querendo casar com um servidor do palácio. Pra piorar, o
garboso Peter Towsend é divorciado. Inadmissível pros anos 50, quando parte
considerável dos súditos ainda cria que a realeza era divinamente apontada!
Elizabeth tem que dissuadir Margaret, lembrando-a da obrigação Real de colocar
o dever acima da felicidade pessoal.
O episódio 2 abrange os anos do final da década de 60 a
meados de 70, quando o tecido social britânico dava mostras de querer
romper-se: atentados do IRA, greve dos mineiros, apagões, racionamento de
combustível. Quase metade dos ilhéus queria livrar-se da monarquia devido aos
gastos supérfluos. E não é que a Rainha solicitava aumento em seus proventos?
Episódio 3 passa-se durante o governo da neoliberal
Margaret Thatcher, que se nega a entrar no embargo contra a racista África do
Sul. A insistência da Dama de Ferro em não dar ouvidos aos membros da
Commonwealth – composta por vários países de maioria negra - põe a organização
em perigo e a Rainha vai à luta pra salvá-la. O apoio dos roteiristas e do
Channel4 à Sua Majestade beira o grosseiro. Thatcher é representada como
mentirosa, insensível e incapaz de seguir a energia da rainha. Amei, porque
detesto Maggie, mas as coisas não são tão pretas e brancas. O fato de a
Primeira-Ministra ter voltado sua munição privatizadora contra a TV pública
explica essa preferência Real?
Os escândalos e divórcios dos príncipes Andrew e
Charles são o combustível da quarta prestação e a seguinte foca a dificuldade
pra aceitar Camila Parker Bowles. Esses 2 últimos episódios fecham o ciclo do
roteiro, como se a vida fosse uma narrativa fílmica: incapaz de conceder a
possibilidade à irmã de se casar com um divorciado, Elizabeth II tem que vencer
suas convicções contrárias pra estar em sintonia com os novos ventos respirados
por seus súditos no século XXI. O dever acima de tudo.
Através da Família Real percebemos as profundas
transformações de costumes pelas quais a Grã-Bretanha passou nas últimas 6
décadas. The Queen é povoado por personagens femininos de grosso calibre: as
Princesas Ann, Margaret, Diana; Maggie Thatcher; Camila. A mulherada domina a
Inglaterra.
Bem produzida e atuada, The Queen poderia usar mais
música britânica na trilha sonora. Coisa norte-americana demais. Podiam ter
diminuído essa dose e contratado o ianque James Cromwell pra ser o Príncipe
Philp, como fez Stephen Frears no sua homônima produção pra cinema (2006), que
aliás, é homenageada visualmente em diversas cenas da minissérie.
O capítulo dos anos 80 usa Panic, dos Smiths e é irônico
notar que Johnny Rotten passou, Morrissey passou, Churchill, Thatcher e Blair
se foram e Eizabeth e sua família - tão distinta, mas tão igual nos problemas –
continuam a atrair manchetes e cativar corações. Talvez seja o sentido de
continuidade que representam, talvez sua capacidade de se reinventarem sem
alterar nada de essencial. O fato é que Elizabeth ainda está podendo!
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