Roberto Rillo Bíscaro
Adoro filmes que cozinham lentamente em banho-maria e apresentam, sem alarde, algum grande personagem ou majestosa atuação. O norueguês En Ganske Snill Mann (2010) traz os 2.
Ulrik é um senhor de meia-idade saindo da cadeia
após 12 anos de haver matado o amante da esposa. Reencontrando sua velha gangue
– reduzida, decrépita e patética – o mecânico tenta se reaproximar do filho e
deixa seus antigos comparsas convencerem-no a procurar vingança. Nesse ínterim,
envolve-se com personagens tão comuns e classe trabalhadora quanto ele. Nada
daquela Noruega idealizada como paraíso de afluência. Não há miséria, claro,
mas a galeria de personagens é de gente pobre, trambiqueira, francamente
bizarra, violenta ou perdedora.
Ulrik tem que se haver com a azeda e repulsiva
senhoria, que lhe serve jantar, assiste a programas de auditório polaco com
ele, pra, de repente, baixar a calcinha e “comê-lo”. Também com a colega de
trabalho, mais jovem e que tem um ex-marido violento. E esses são apenas 2
exemplos.
Ulrik é caladão e algo gentil (o título alude a
isso), que se não sabe direito porque matou o rival, demonstra ter potencial
demolidor, como quando intervém junto ao ex-esposo machão da companheira de
serviço. Por outro lado, é enternecedora a cena onde ri até as lagrimas apenas
por ver o filho e a noiva deste também rindo.
Ai estão 2 trunfos do roteiro: personagens
multifacetadas e uma interpretação impecável do sueco Stellan Skarsgård. Demora um pouco pro espectador começar a se importar com esse homem e seu
rabo-de-cavalo, mas, sem fogos de artifício, o ator nos coloca do lado da
personagem e torcemos pra que tudo dê certo pra ele, mesmo quando toda a sua
frágil tentativa de reaprender a caminhar venha abaixo de um só golpe.
Polvilhado com humor escandinavo, En Ganske Snill Mann
contém detalhes que enriquecem o roteiro: posso jurar que a canção dos
Pretenders que toca na oficina vem do álbum Learning to Crawl, que se traduz
como aprendendo a engatinhar, precisamente o que Ulrik fazia.
Apostando no conceito de menos como mais e na
mistura leve de drama, comédia e policial meio noir, a produção é
entretenimento mais do que decente, ainda que discreta.
E como a gente curte o
sorriso de Ulrik, quando chega a primavera!
Adoro filmes que cozinham lentamente em banho-maria e apresentam, sem alarde, algum grande personagem ou majestosa atuação. O norueguês En Ganske Snill Mann (2010) traz os 2.
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