O Livro do Genesis – Capítulo XII
Roberto Rillo Bíscaro
E então eram 3... A saída do guitarrista Steve Hackett
reduziu o Genesis a um trio: Phil Collins, Mike Rutherford e Tony Banks. Diferentemente
do que acontecera quando da partida de Peter Gabriel, os caras decidiram não
procurar substituto. No estúdio, Mike encarregava-se de baixo e guitarra. Ao
vivo, o instrumento ficava a cargo do norte-americano Deryl Stuermer, ex-Jean-Luc
Ponty. Deryl permaneceu com o Genesis por anos, além de participar das
multiplatinadas turnês da carreira-solo de Collins, que bombou nos anos 80.
Em março de 1978, a banda lançou And Then There Were
Three – título meio Agatha Christie – provavelmente o disco mais “esquisito” de
sua carreira. Os sinais de indecisão quanto à sonoridade estavam latentes nos 2
álbuns de estúdio anteriores. Em And Then There Were Three essas contradições
vêm á tona com força, dilacerando o álbum, evidenciando a metamorfose pop do
Genesis, mas ainda conservando certa casca progressiva.
As longas composições foram abandonadas em favor dum
formato mais curto e pop. Isso frustra fãs prog, pelo desperdício de grandes voos
perdidos de teclados e/ou guitarra. A canção mais longa é Burning Rope (7
minutos). O animismo agnóstico da letra sobre a perda de esperanças é envolto
em pomposa instrumentação, com direito a um magnífico solo de Rutherford,
representando a passagem do tempo na vida do protagonista. Linda, mas poderia
ter uns 10 minutos a mais!
Lady Lies padece do mesmo defeito. Um fantástico solo
do Mellotron, de Tony Banks, novamente curto demais.
A chacoalhada punk repercutiu no álbum. A faixa de
abertura, Down and Out, sobre velhos sendo substituídos por jovens tem aquela
urgência nervosa da geração 77. Os teclados de Banks dão o tom de estresse subterrâneo
e surtam num solo que clama por Rivotril. Anos de história do Genesis estão codificadas
na forma/tema dessa canção. Respeito-a muito, até porque, expressa algumas de
minhas contradições pós-modernas: fã de Smiths e Genesis ao mesmo tempo!?
A popice de Phil Collins ganha espaço: pela primeira
vez, uma de suas composições-solo entrava num álbum. Scenes from a Night’s
Dream é pop com harmonias vocais doces, clima brejeiro e letra falando sobre os
sonhos/pesadelos dum menino chamado Nemo, personagem de história em quadrinhos.
O lado baladeiro da banda desponta forte em Say It’s
Alright Joe e Many Too Many.
Mas, claro, o destaque tem que ficar pro primeiro
sucesso de massa da banda: Follow You Follow Me. A canção que pavimentou o
caminho dourado pras paradas de sucesso certamente ensinou muita coisa á banda,
no sentido de popear seu som. A crise de personalidade do Genesis grita nessa
baladaça meio envergonhada em sê-lo; linda canção pop, com tapeçaria de
Mellotron eclesiástico. Outro exemplo do Genesis no meio do caminho entre prog
e pop. E que exemplo! Esqueço a letra do hino nacional, mas não a de Follow You
Follow Me! Como resistir ao “nanana” de Phil?
A sonoridade geral de And Then There Were Three -
graças á produção – também mostra a (inde)cisão genesiana em 77 (o álbum foi
gravado no ano punk). O clima pop de muitas das canções é de certa forma
rechaçado e distanciado por um som “frio”, que parece deixá-las por detrás duma
vitrine ou redoma de cristal. Sempre achei o clima do álbum invernal...
A “crise de identidade” dos meninos do Genesis estava
com os dias contados. O sorriso dos bolsos norte-americanos – abrindo-se pela
primeira vez – e a necessidade inerente de mudança, face os novos tempos,
fariam a banda ficar cada vez mais pop.
And Then There Were Three… completo no You Tube.
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