segunda-feira, 11 de junho de 2012

CAIXA DE MÚSICA 70


O Livro do Genesis – Capítulo XII

Roberto Rillo Bíscaro

E então eram 3... A saída do guitarrista Steve Hackett reduziu o Genesis a um trio: Phil Collins, Mike Rutherford e Tony Banks. Diferentemente do que acontecera quando da partida de Peter Gabriel, os caras decidiram não procurar substituto. No estúdio, Mike encarregava-se de baixo e guitarra. Ao vivo, o instrumento ficava a cargo do norte-americano Deryl Stuermer, ex-Jean-Luc Ponty. Deryl permaneceu com o Genesis por anos, além de participar das multiplatinadas turnês da carreira-solo de Collins, que bombou nos anos 80.
Em março de 1978, a banda lançou And Then There Were Three – título meio Agatha Christie – provavelmente o disco mais “esquisito” de sua carreira. Os sinais de indecisão quanto à sonoridade estavam latentes nos 2 álbuns de estúdio anteriores. Em And Then There Were Three essas contradições vêm á tona com força, dilacerando o álbum, evidenciando a metamorfose pop do Genesis, mas ainda conservando certa casca progressiva.
As longas composições foram abandonadas em favor dum formato mais curto e pop. Isso frustra fãs prog, pelo desperdício de grandes voos perdidos de teclados e/ou guitarra. A canção mais longa é Burning Rope (7 minutos). O animismo agnóstico da letra sobre a perda de esperanças é envolto em pomposa instrumentação, com direito a um magnífico solo de Rutherford, representando a passagem do tempo na vida do protagonista. Linda, mas poderia ter uns 10 minutos a mais!  
Lady Lies padece do mesmo defeito. Um fantástico solo do Mellotron, de Tony Banks, novamente curto demais.
A chacoalhada punk repercutiu no álbum. A faixa de abertura, Down and Out, sobre velhos sendo substituídos por jovens tem aquela urgência nervosa da geração 77. Os teclados de Banks dão o tom de estresse subterrâneo e surtam num solo que clama por Rivotril. Anos de história do Genesis estão codificadas na forma/tema dessa canção. Respeito-a muito, até porque, expressa algumas de minhas contradições pós-modernas: fã de Smiths e Genesis ao mesmo tempo!?
A popice de Phil Collins ganha espaço: pela primeira vez, uma de suas composições-solo entrava num álbum. Scenes from a Night’s Dream é pop com harmonias vocais doces, clima brejeiro e letra falando sobre os sonhos/pesadelos dum menino chamado Nemo, personagem de história em quadrinhos.  
O lado baladeiro da banda desponta forte em Say It’s Alright Joe e Many Too Many.
Mas, claro, o destaque tem que ficar pro primeiro sucesso de massa da banda: Follow You Follow Me. A canção que pavimentou o caminho dourado pras paradas de sucesso certamente ensinou muita coisa á banda, no sentido de popear seu som. A crise de personalidade do Genesis grita nessa baladaça meio envergonhada em sê-lo; linda canção pop, com tapeçaria de Mellotron eclesiástico. Outro exemplo do Genesis no meio do caminho entre prog e pop. E que exemplo! Esqueço a letra do hino nacional, mas não a de Follow You Follow Me! Como resistir ao “nanana” de Phil?
A sonoridade geral de And Then There Were Three - graças á produção – também mostra a (inde)cisão genesiana em 77 (o álbum foi gravado no ano punk). O clima pop de muitas das canções é de certa forma rechaçado e distanciado por um som “frio”, que parece deixá-las por detrás duma vitrine ou redoma de cristal. Sempre achei o clima do álbum invernal...  
A “crise de identidade” dos meninos do Genesis estava com os dias contados. O sorriso dos bolsos norte-americanos – abrindo-se pela primeira vez – e a necessidade inerente de mudança, face os novos tempos, fariam a banda ficar cada vez mais pop.  
 And Then There Were Three… completo no You Tube. 

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