Roberto Rillo Bíscaro
Volta e meia deparo-me com reclamações sobre a
“imoralidade” da TV. Mais chocadas que galinhas, pessoas relatam,
escandalizadas, cenas de sexo e violência enquanto proclamam o fim do mundo. Discurso
bastante hipócrita. Por que não mudam de canal ou desligam o televisor?
Dia desses, vi uma comédia produzida pela inglesa BBC,
chamada Filth: The Mary Whitehouse Story (2008). Na primeira metade dos anos
1960, uma professora britânica iniciou campanha antipornografia na TV. O
movimento durou décadas e conseguiu algumas migalhas que em nada cambiaram o
desenrolar da indústria televisiva no país.
O problema com esse pessoal das campanhas moralistas é
que acabam fazendo o que criticam: falam que a TV fica cada vez mais imoral, e,
quanto mais são ouvidos, pedem maiores cortes. Nada contra controle social
sobre a mídia, mas não se pode tornar isso cruzada de gente de cabecinha com
titica de galinha.
A campanha de Mary Whitehouse contra os abusos
mostrados na telinha tinha como alvo principal a própria BBC, embora a ITV
também estivesse em sua mira.
A BBC escolheu dar tom cômico à história, revelando que
não levava a pudica senhora muito à sério. Entretanto, o roteiro toma certo
cuidado em não demonizar a igrejeira Mary. Ela não é antipática (mas não se
pode esquecer de que era potencialmente perigosa!).
Um dos principais objetivos dos anos iniciais da
campanha antipornografia era um encontro com o diretor-geral da BBC, Sir Hugh
Greene. Ao invés duma personagem “séria” lutando contra uma fanática, o roteiro
apresenta um executivo vulgarete, tão boboca quanto sua oponente. Mas,
igualmente não antipático.
Filth: The Mary Whitehouse Story não mereceria texto
neste blog não fosse pelo par de atores centrais. Julie Walters e Hugh
Bonevillle estão deliciosos!
Já escrevi sobre um dramaço estrelado por Julie. Em
Filth, ela está fisicamente bem diferente e mostra um timing farsesco
impecável.
Bonevillle – o Lord Grantham, de minha adorada
Downton Abbey – faz caras impagáveis, além da boca algo suja e tiradas
sarcásticas. “Pass me the
butter”, ordena à esposa. “What are the magic words?, replica Milady. “Pass
me the fucking butter”, ironiza Sir Hugh.
Show de versatilidade desses fantásticos intérpretes britânicos,
apoiados pelo competente elenco familiar a todos que vemos BBC regularmente.
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