terça-feira, 12 de junho de 2012

TELINHA QUENTE 45

Roberto Rillo Bíscaro

Volta e meia deparo-me com reclamações sobre a “imoralidade” da TV. Mais chocadas que galinhas, pessoas relatam, escandalizadas, cenas de sexo e violência enquanto proclamam o fim do mundo. Discurso bastante hipócrita. Por que não mudam de canal ou desligam o televisor?
Dia desses, vi uma comédia produzida pela inglesa BBC, chamada Filth: The Mary Whitehouse Story (2008). Na primeira metade dos anos 1960, uma professora britânica iniciou campanha antipornografia na TV. O movimento durou décadas e conseguiu algumas migalhas que em nada cambiaram o desenrolar da indústria televisiva no país.
O problema com esse pessoal das campanhas moralistas é que acabam fazendo o que criticam: falam que a TV fica cada vez mais imoral, e, quanto mais são ouvidos, pedem maiores cortes. Nada contra controle social sobre a mídia, mas não se pode tornar isso cruzada de gente de cabecinha com titica de galinha.
A campanha de Mary Whitehouse contra os abusos mostrados na telinha tinha como alvo principal a própria BBC, embora a ITV também estivesse em sua mira.
A BBC escolheu dar tom cômico à história, revelando que não levava a pudica senhora muito à sério. Entretanto, o roteiro toma certo cuidado em não demonizar a igrejeira Mary. Ela não é antipática (mas não se pode esquecer de que era potencialmente perigosa!).
Um dos principais objetivos dos anos iniciais da campanha antipornografia era um encontro com o diretor-geral da BBC, Sir Hugh Greene. Ao invés duma personagem “séria” lutando contra uma fanática, o roteiro apresenta um executivo vulgarete, tão boboca quanto sua oponente. Mas, igualmente não antipático.
Filth: The Mary Whitehouse Story não mereceria texto neste blog não fosse pelo par de atores centrais. Julie Walters e Hugh Bonevillle estão deliciosos!
Já escrevi sobre um dramaço estrelado por Julie. Em Filth, ela está fisicamente bem diferente e mostra um timing farsesco impecável.
Bonevillle – o Lord Grantham, de minha adorada Downton Abbey – faz caras impagáveis, além da boca algo suja e tiradas sarcásticas. “Pass me the butter”, ordena à esposa. “What are the magic words?, replica Milady. “Pass me the fucking butter”, ironiza Sir Hugh.
Show de versatilidade desses fantásticos intérpretes britânicos, apoiados pelo competente elenco familiar a todos que vemos BBC regularmente.

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