Buenos Aires sempre tem alguma peça teatral que me
interessa, quando estou de férias por lá. Em julho vi minha segunda obra de
Edward Albee encenada na capital argentina. A primeira foi Quem Tem Medo de
Virginia Wolf, há alguns anos. Quando soube que meu adorado Júlio Chavez
dirigia e estrelava La Cabra, tive que ir.
De 2002, The Goat, or Who is Sylvia? é outra martelada
na parede do Sonho Americano. Um famoso arquiteto de meia-idade com um
casamento e família quase perfeitos – o filho é gay, mas é “aceito” pelos pais
(será?) – apaixona-se por uma cabra.
A sala de estar ainda é o ambiente pra desconstrução –
neste caso, bastante literal – mordaz de Albee, via zoofilia e incesto
homossexual. Curioso o relato do dramaturgo contando que muita gente abandonava
o teatro na discreta cena de sedução entre pai e filho, mas não durante as
descrições de bestialidade.
A despeito das limitações dramatúrgicas impostas pela
ambientação na velha sala de estar, La Cabra consegue ser perturbadora ao
provocar risos nervosos e incomodados devido ao tema forte, que serve como
metáfora para certa desconstrução da hipocrisia social.
A montagem argentina está muito bem dirigida e
interpretada. Viviana Saccone sai-se muito bem no papel da esposa traída.
Júlio Chavez talvez seja o melhor ator argentino do
momento, com grandes filmes e séries de TV no currículo. Poderia tranquilamente
montar peças de fácil digestão pra capitalizar em cima de seu prestígio
internacional, mas escolheu um texto inquietante e difícil, com o qual brilha. Sentei-me
na primeira fila pra desfrutar o mestre o mais perto possível.
Em cartaz no Teatro Tabaris, na Avenida Corrientes, La
Cabra merece ser vista caso você vá a Buenos Airese esteja disposto a ver um
espetáculo desafiador.
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