Roberto Rillo Bíscaro
Fãs de rock progressivo, ambient, eletrônica,
avant-garde, dance music, space rock, (neo)psicodelia, synth pop, New Romantic,
hip hop e outro monte de gêneros e sub-gêneros devem muito ao experimentalismo alemão
ocidental do final dos anos 60/primeira metade dos 70. Sem se constituir em
cena organizada, diversas bandas influenciaram a música popular ocidental.
Exemplos: David Bowie mudou-se pra Berlim em meados dos
anos 70 pra fugir do pó e reinventar a carreira, saindo-se com uma trinca de
álbuns fundamentais. A aridez eletrônica gelada da segunda parte de Low (1977)
introduziu a electronica pra garotada. O ex-glam Brian Eno também procurou os
alemães, pra depois tornar-se mestre da electronica ambient. Os quase 17
minutos de transe eletrodisco-erótico da definidora Love to Love You Baby
(1975), da falecida Donna Summer, foram gravados na Alemanha; o estúdio de Giorgio
Moroder era em Munique.
Bandas como Faust, Can,
Amon Düül II, Neu! (essa influenciou até o movimento punk), Kluster,
Tangerine Dream e Kraftwerk sempre me fascinaram, embora o experimentalismo e a
aparente “falta” de melodia de algumas seja demais pra mim. Kraft é pai de
certo pop contemporâneo e sou vassalo.
Por isso, assisti ao documentário Krautrock:
the Rebirth of Germany (2009?), da BBC, que colocou vários pingos em jotas.
O programa colocou em perspectiva histórica o porquê de
tantas bandas - que por vezes sequer sabiam da existência uma das outras –
apresentarem propostas tão desafiadoras e desviantes do rock anglo-saxão.
No
revolucionário 1968, a juventude alemã tinha a necessidade de exorcizar o
fantasma do nazismo, presença não assumida, mas sólida em todo o tecido social.
Tinham também que praticamente começar uma cultura pop do zero, mas não queriam
que seguisse os padrões anglo-americanos.
Assim, enquanto Inglaterra e EUA viviam a estridência
guitarrística de Robert Fripps e Jimi Hendrixes, a Alemanha underground buscava
no folk, na música erudita e em Stockhausen suas armas de contestação e
mudança. O recém-inventado sintetizador foi o instrumento musical escolhido pra
revolução.
O documentário esquece de mencionar a influência do
free jazz, cuja cena era forte em Berlin. Também pode passar a impressão de que
o rock anglo-americano não influenciou a Alemanha. O país era coalhado de
bandas inglesas tocando em clubes, desde fins dos anos 50. Os Beatles tocaram
em inferninhos em Hamburgo entre 1960-1. A BBC também perdeu a ironia de que
muitos nomes e letras das músicas dessas bandas eram em inglês.
A manhosa imprensa musical britânica foi a responsável
pela noção de um movimento organizado dos músicos alemães e do nome Krautrock:
kraut (que tem a ver com sauerkraut, ou seja, chucrute) é um modo derrogatório
de se referir aos alemães, em inglês.
O documentário entrevista vários protagonistas do
Krautrock, além de mostrar trechos de shows. As bandas germânicas de prog rock,
que brotaram aos montes nos 70s, com sonoridade convencional, mas denominadas erroneamente
como Krautrock, não aparecem no programa. Acerto.
Preciso
descobrir documentário específico sobre Kraftwerk, mas esse da BBC ajudou-me a
sacar que a influência deles no synth pop/New Romantic inglês foi além da
sonoridade! Muito educativo.
Krautrock: the Rebirth of Germany é essencial pra quem
se interesse pela rebeldia sessentista, por música popular contemporânea,
diretores de cine alemão tipo Herzog, Fassbinder e Win Wenders, além de fãs dos
gêneros citados no início deste texto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário