segunda-feira, 10 de setembro de 2012

CAIXA DE MÚSICA 73/TELINHA QUENTE 49



Roberto Rillo Bíscaro

Fãs de rock progressivo, ambient, eletrônica, avant-garde, dance music, space rock, (neo)psicodelia, synth pop, New Romantic, hip hop e outro monte de gêneros e sub-gêneros  devem muito ao experimentalismo alemão ocidental do final dos anos 60/primeira metade dos 70. Sem se constituir em cena organizada, diversas bandas influenciaram a música popular ocidental.
Exemplos: David Bowie mudou-se pra Berlim em meados dos anos 70 pra fugir do pó e reinventar a carreira, saindo-se com uma trinca de álbuns fundamentais. A aridez eletrônica gelada da segunda parte de Low (1977) introduziu a electronica pra garotada. O ex-glam Brian Eno também procurou os alemães, pra depois tornar-se mestre da electronica ambient. Os quase 17 minutos de transe eletrodisco-erótico da definidora Love to Love You Baby (1975), da falecida Donna Summer, foram gravados na Alemanha; o estúdio de Giorgio Moroder era em Munique.
Bandas como Faust, Can, Amon Düül II, Neu! (essa influenciou até o movimento punk), Kluster, Tangerine Dream e Kraftwerk sempre me fascinaram, embora o experimentalismo e a aparente “falta” de melodia de algumas seja demais pra mim. Kraft é pai de certo pop contemporâneo e sou vassalo.

Por isso, assisti ao documentário Krautrock: the Rebirth of Germany (2009?), da BBC, que colocou vários pingos em jotas.
O programa colocou em perspectiva histórica o porquê de tantas bandas - que por vezes sequer sabiam da existência uma das outras – apresentarem propostas tão desafiadoras e desviantes do rock anglo-saxão.
No revolucionário 1968, a juventude alemã tinha a necessidade de exorcizar o fantasma do nazismo, presença não assumida, mas sólida em todo o tecido social. Tinham também que praticamente começar uma cultura pop do zero, mas não queriam que seguisse os padrões anglo-americanos. 

Assim, enquanto Inglaterra e EUA viviam a estridência guitarrística de Robert Fripps e Jimi Hendrixes, a Alemanha underground buscava no folk, na música erudita e em Stockhausen suas armas de contestação e mudança. O recém-inventado sintetizador foi o instrumento musical escolhido pra revolução.
O documentário esquece de mencionar a influência do free jazz, cuja cena era forte em Berlin. Também pode passar a impressão de que o rock anglo-americano não influenciou a Alemanha. O país era coalhado de bandas inglesas tocando em clubes, desde fins dos anos 50. Os Beatles tocaram em inferninhos em Hamburgo entre 1960-1. A BBC também perdeu a ironia de que muitos nomes e letras das músicas dessas bandas eram em inglês.   
A manhosa imprensa musical britânica foi a responsável pela noção de um movimento organizado dos músicos alemães e do nome Krautrock: kraut (que tem a ver com sauerkraut, ou seja, chucrute) é um modo derrogatório de se referir aos alemães, em inglês.  
O documentário entrevista vários protagonistas do Krautrock, além de mostrar trechos de shows. As bandas germânicas de prog rock, que brotaram aos montes nos 70s, com sonoridade convencional, mas denominadas erroneamente como Krautrock, não aparecem no programa. Acerto.  
Preciso descobrir documentário específico sobre Kraftwerk, mas esse da BBC ajudou-me a sacar que a influência deles no synth pop/New Romantic inglês foi além da sonoridade! Muito educativo.

Krautrock: the Rebirth of Germany é essencial pra quem se interesse pela rebeldia sessentista, por música popular contemporânea, diretores de cine alemão tipo Herzog, Fassbinder e Win Wenders, além de fãs dos gêneros citados no início deste texto.

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