quarta-feira, 26 de setembro de 2012

MUITO ALÉM DO BIG MAC

Quantas vezes você não ouviu “prefiro a Europa, porque nos Estados Unidos não tem cultura”? Imagino que a cultura referida sejam prédios velhos e museus. Mas, surpresa, surpresa (ironia mode on), os EUA também têm “cultura”;  até no You Tube dá pra acessar. Descobri uma montagem nova-iorquina de Alceste, peça de Eurípedes, em grego arcaico com legenda em inglês! Phyno, né?   
Tragicômica, a peça apresenta outro imbróglio criado pelos deuses gregos, sempre tão maduros quanto os mortais! Pra recompensar o Rei Admeto, Apolo concede-lhe a possibilidade de escapar da morte. Ele só teria que arrumar alguém pra morrer em seu lugar. Ninguém aceita, nem os pais do monarca, a não se sua esposa Alceste. A peça se passa no dia em que a morte vem reclamar a jovem rainha.
Embora não tão atual quanto suas tragédias, Eurípedes cria um Admeto hipócrita ao tentar se convencer e as outros de que sua covardia  seja altruísmo. Ao imputar a culpa aos pais – Admeto crê que eles podiam ter aberto mão da vida por ele – o rei ouve poucas e boas num belo discurso de amor á vida, proferido por um ancião. Também fica a discussão se o sacrifício de Alceste pode ser considerado heróico, num mundo onde heroísmo cabia essencialmente ao macho.
E por falar em herói, o bombado Hércules salva o dia e é aí onde repousa um dos temas mais importantes de Alceste, nos termos da época de sua produção: a importância da hospitalidade. Repetidas vezes em distintos locais na Antiguidade percebemos a essencialidade do ser bom anfitrião, não importa sob quais circunstâncias.
A montagem do grupo de teatro clássico da Barnard College e da Columbia University  discretamente combina elementos ancestrais e modernos. Aos diálogos em grego (com legendas em um mostrador acima do palco) e à pantomima e simulação da máscara grega sob forma de maquiagem, contrapõe-se um Hércules fanfarrão, que anda de bicicleta e comanda sua trilha sonora. As mulheres não subiam nos palcos atenienses, então, Alceste é interpretada por um ator. Mas, Hércules é uma atriz.
Há momentos em que tudo fica meio monótono, porque teatro literalmente filmado não é a coisa mais ágil do mundo e o texto envelheceu. Mesmo assim, é uma boa oportunidade pra conhecer um pouco mais da cultura grega e ver que ela também tem seguidores nos EUA. Assim como a Europa tem EuroDisney, o Tio Sam também não é só McDonnald’s.    

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