Roberto Rillo Bíscaro
Parte dos anos 1990 passou batida em meu reino. Deixei
muita coisa de lado e mergulhei em fatos culturais mais antigos. Uma das
esnobadas foi a novela Melrose Place (92-99), spin off da insuportável Barrados no Baile. Essas séries tratavam
de jovens de classe média e eu me acostumara mal com os milionários jogos de
poder de gente de meia-idade em DALLAS.
No século XXI, vi a luxuosamente brega Dynasty com a
certeza de que gostaria. Aconteceu mais: tornou-se meu segundo show favorito.
Quando a Globo exibiu Melrose Place, vi trechos e
simpatizei com algumas maldades, mas não me animei. Como descobri que os
produtores-executivos foram Aaron Spelling e E. Duke Vincent – os mesmos das
batalhas entre os Carrington e os Colby – tirei o atraso noventista e vi as 7
temporadas.
Melrose Place é um conjunto de apartamentos em Los
Angeles, povoado por vinteanistas. Habitações pequenas, que às vezes abrigavam
personagens capazes de pagar imóvel mais amplo. Recurso pra manter o núcleo
dramático mais próximo. Algo como um Southfork urbano.
A série começou com capítulos autossuficientes, no
mesmo estilo da primeira temporada de DALLAS. Como ocorreu com o similar
texano, a audiência foi baixa e o modelo abandonado. Ainda na temporada inicial,
os escritores tentaram temas sociais como racismo, mas o recurso também não funcionou.
Em pouco tempo, Melrose tornou-se típica soap ianque, com muito dramalhão,
ainda que disfarçado em trilha sonora mais moderninha, e sem-graça pro meu
gosto. Exceto pela canção-tema e uma meia dúzia de canções ao longo de 7 anos.
E sempre detestei aqueles solos de guitarra infestando os episódios!
Pra apimentar a trama, os escritores trouxeram a
sibilante Heather Locklear – afamada como a Sammy Jo, de Dynasty – pra ser a
ambiciosa e desbocada Amanda Woodward, que se torna proprietária de Melrose
Place e trabalha na mesma agência de publicidade da enfadonha alcoólatra e
abusada sexualmente Alison Parker.
A série apresenta uma porrada melodramática atrás da
outra e peripécias deliciosamente irrealistas. Assassinatos, acidentes,
explosões, raptos, bebês dados como mortos e depois sequestrados,
atropelamentos, litígios judiciais a granel, gente saindo da sepultura, tetos
desabando, incêndios, deformidades, nossa é muita sem vergonhice, uma delícia!
Enquanto as novelas da era Reagan enfatizavam a Santa
Família biológica, Melrose Place elege a família estendida como seu foco. Laços
de sangue não importam quando existe afinidade fraterna entre as pessoas. Isto
posto, o ringue está aberto pra toda espécie de facadas nas costas, intrigas,
afastamentos e reaproximações que chacoalhavam as famílias nucleares dos
Ewings, Carringtons, Colbys e Channings (de Falcon Crest) da década anterior.
As personagens são tão infantis quanto em qualquer
produto do gênero. Em certos momentos, pontificam lições de moral e compreensão
para com dilemas alheios, para, no capítulo seguinte serem turrões como
infantes que não querem compartilhar um brinquedo.
Também existe a mesma
tendência de uma personagem ser megera numa temporada pra voltar beata em
outra, ou vice-versa.
No fundo, todo mundo é intercambiável e há uma
personagem só. Jo Reynolds, Matt Fielding, Billy Campbell e Cia não passam de
caricaturas humanas. Por isso suportamos – e gostamos – de vê-los sofrendo
tanto. São idiotas demais e merecem!
Quem se propõe a ver um programa assim deve estar
interessado em emoções baratas. Eu estava. E haja revelações bombásticas,
acidentes, infidelidades, alcoolismo, prostituição, (des)casamentos e muito
mais, em procissão veloz. De vez em quando, um toque de mestre, como quando o
desequilibrado ex-namorado da insossa de plantão, estoura os miolos enquanto
fala com a moça ao telefone.
Em certo sentido, Melrose chega a ser mais careta que
sua predecessora Dynasty. Em 81, a última trazia um relacionamento gay às
telinhas, ao passo que uma década depois, Melrose tem um gay quase
exclusivamente pra parecer inclusiva, uma vez que Matt não se envolve com
praticamente ninguém nas temporadas iniciais e quando o faz quase não há
demonstração de afeto.
A suculência concentra-se entre a terceira e a quinta
temporada. Como em toda soap, o elenco original sai aos poucos e os novos não
conseguem atingir os mesmos níveis, bem como as tramas. O cliffhanger da sexta temporada, por exemplo,
é o mais pífio já visto por este escriba. Parecia o fim dum capítulo comum. Deu
impressão de que os produtores foram pegos de surpresa pela rede, que anunciou
o término repentino da temporada.
Sempre estranhando um pouco
o fato de as personagens morarem em apartamentos de quarto só, amei Melrose. Como
não amar a periguete Sidney, a vilanice patética de Michael Mancini (cujo tom
semi-cômico faz da personagem a única “perdoável”) e, minha favorita, a
psicopática Dr. Kimberly Shaw, que enlouquece e faz Melrose Place literalmente
voar pelos ares? Isso que nem contei um terço do que passa e apronta a
personagem vivida magistralmente por Marcia Cross. Acho que terei que ver
todas as temporadas de Desperate Housewives só por causa da atriz!
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