segunda-feira, 1 de outubro de 2012

CAIXA DE MÚSICA 76

Roberto Rillo Bíscaro

Em 2009, louvando The Resistance, escrevi sobre as influências progressivas dos maximalistas britânicos do Muse. Recomendo aleitura daquela postagem, pois muito se aplica a The 2nd Law, lançado hoje.
Queen continua a referência mais óbvia e o grupo segue aproveitando tudo que ouve pela frente pra compor seus bombásticos spaghetti álbuns.    
Supremacy, faixa de abertura, começa ameaçadora, com bateria marcial, tom pomposo, ledzepelliniano, afinal, é a abertura de mais um excesso de Matt Belamy (voz e guitarra), Dominic Howard (bateria) e Chris Wolstenholme (baixo e estréia nos vocais, em 2 faixas).
Quando ouvi o primeiro single, Madness, não gostei. Achei fraca, mas, no contexto de The 2nd Law, passou a fazer sentido. É uma mistura de Queen (I Want to Break Free, Under Pressure) e I Want Your Sex, de George Michael.

O fantasma enforcado de Michael Hutchence assombra a abertura de Panic Station, descendente de Suicide Blonde, do INXS. É a mesma guitarra funkeada, que na verdade vem de Prince; afinal, qual branquelo oitentista (Suicide é de 90, whatever) querendo funkear não chupou o baixinho de Mineapolis? Em seguida, um climão disco embala a canção, alternando-se com a batida INXS/Prince.  
Survival, o hino oficial das Olímpiadas mistura Tchaikovsky, Queen, opereta, vocais oscilando entre barítono e falseto, coral masculino e contracoral feminino e ufanismo de competição. Dá pra imaginar Matt Belamy querendo entrar no palco voando, suspenso por alguma engenhoca; totalmente diva! Exagero. Mais uns 50 hinos assim e começarei a me interessar por esportes!
Follow Me consegue fundir I Will Survive, de Gloria Gay-nor com messianismo a la Bono! Imagine sisudos roqueiros curtindo ao som de acordes dum hino gay-disco. Só o Muse mesmo...


Save Me é uma das 2 canções escritas por Chris Wolstenholme, lidando com seu alcoolismo. Cordas e teclado em forma de ondas e círculos concêntricos, seguidos de grossa malha sonora, que afoga o vocal, não muito depois da letra afirmar que o sujeito está “se afogando em negação”. Intoxicante como álcool.
O disco encerra com 2 faixas praticamente sem vocais a não ser gente falando de forma alarmista sobre energia. A banda pilha o queridinho modernete Skrillex e seu brostep  - espécie de dubstep mais agressivo. Combinado com um coro quase eclesiástico, contracantos choramingados de Bellamy, orquestração extravasada e voz de robôs a la Kraftwerk, o disco encerra em clima de ficção-científica.


Muse também é rock progressivo no sentido de combinar elementos. Pac men exacerbados, deglutem glam, prog, electronica, disco, pop, synth e devolvem tudo dramaticamente. Freddie Mercury parece contido se comparado a Bellamy!     
Quem odeia o exagero, continuará detestando; quem ama, seguirá venerando. Muse incorporou elementos pra continuar o mesmo jorro de pathos que conhecemos desde fins dos anos 90.
Pra mim tá bom demais!

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