segunda-feira, 8 de outubro de 2012

CAIXA DE MÚSICA 77/TELINHA QUENTE 53


Roberto Rillo Bíscaro


Difícil imaginar uma vocalista que tenha impactado como Debbie Harry, do Blondie. De Madonna a Lady Gaga, passando por (semi-) esquecidas como Dale Bozzio, Wendy James, Tracy Tracy, a coelhinha norte-americana foi símbolo sexo-musical dos anos 70/início dos 80. Mesmo quem não copiou descaradamente o visual de baranga glam de Harry, foi afetada. Christine, dos góticos Siouxsie and the Banshees tem seu quinhão de Blondie, por exemplo.

Fundada em 1974, o Blondie ganhou esse nome porque caminhoneiros e operários da construção civil viviam chamando Debbie Harry assim. Meio despenteada e com o cabelo mal tingido de loiro – ela mesma passava a tintura – a gostosona e seus companheiros, que mal conseguiam tocar afinada ou sincronizadamente, impactaram o movimento punk então nascente, numa Nova York falida, cheia de buracos, apagões e greves de lixeiros. No fétido e agora lendário clube CBGB, Deborah Harry e artistas como Ramones, Television, Talking Heads, Suicide, Patti Smith (que odiava Debbie por perceber nela o potencial de diva) ajudaram a delinear a música pop de gerações.

O documentário Blondie One Way or Another (BBC, 2006) delineia essa trajetória do underground ao topo das paradas mundiais, com as perdas e ganhos inerentes ao processo. O trabalho do produtor é essencial pra confecção de gemas pop: a descrição da feitura da clássica Heart of Glass é notável nesse aspecto. Mas, na industrialização da música do capitalismo, esse profissional também pode (tentar) asfixiar uma banda, vendo-a como meros peões. Isso está igualmente bem descrito no documentário.
Quando o Blondie estourou – na Inglaterra, antes de nos EUA – e Debbie Harry tornou-se o tesão da virada 70’s pra 80’s, ela passara dos 30. Essa informação reacendeu ma idéia meio maluca que tenho de que os anos 80 foram mais generosos com balzacas e mais velhas. Jane Fonda, Linda Gray, Linda Evans, Joan Collins, todas foram desejadas naqueles anos. Ao longo dos anos, parece que a faixa etária necessária pra ser diva caiu bastante. 


Blondie One Way or Another mostra como o poder advindo da fama pode ser fugaz. No topo num ano, no poço no outro. Foi o que ocorreu com Blondie, corroído por litígios judiciais, uso de drogas muito pesadas, descaminhos financeiros e azar (uma doença genética num dos membros). The Hunter (1982) - último álbum antes da ressurreição blondiana, em 1999 – vendeu menos de 20 mil cópias! O documentário atribui o fiasco às drogas. Concordo, mas também os tempos eram outros. Basta ver o exagero do cabelão tipicamente oitentista de Debbie Harry na capa do álbum: ela não ditava a moda, mas a copiava. Ambições por carreiras-solo também não ajudavam muito, embora ninguém tenha tido sucesso sozinho.
Blondie ainda faz turnês e lança álbum de vez em quando (ano passado, mas não ouvi) e deixou legado respeitável pra música e cultura pop. Canções como Call Me, Atomic, Maria, Good Boys sempre povoarão meu mp3 ou geringonça congênere. E Heart of Glass será sempre uma canção pop perfeita. E Debbie será sempre desejada quando os vídeos forem assistidos.


Recheado de depoimentos de integrantes da banda e outros músicos (Iggy Pop, entre eles, claro!, esse cara deve viver pra gravar depôs agora!), Blondie One Way or Another não santifica Debbie Harry e dá razoável dimensão de parte da história da menina adotiva que fantasiava ser filha de Marilyn Monroe e se transformou em seu equivalente no universo da música popular.
Completo no You Tube, sem legendas

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