Roberto Rillo Bíscaro
Difícil imaginar uma vocalista que tenha impactado como
Debbie Harry, do Blondie. De Madonna a Lady Gaga, passando por (semi-) esquecidas
como Dale Bozzio, Wendy James, Tracy Tracy, a coelhinha norte-americana foi símbolo
sexo-musical dos anos 70/início dos 80. Mesmo quem não copiou descaradamente o
visual de baranga glam de Harry, foi afetada. Christine, dos góticos Siouxsie
and the Banshees tem seu quinhão de Blondie, por exemplo.
Fundada
em 1974, o Blondie ganhou esse nome porque caminhoneiros e operários da
construção civil viviam chamando Debbie Harry assim. Meio despenteada e com o
cabelo mal tingido de loiro – ela mesma passava a tintura – a gostosona e seus
companheiros, que mal conseguiam tocar afinada ou sincronizadamente, impactaram
o movimento punk então nascente, numa Nova York falida, cheia de buracos,
apagões e greves de lixeiros. No fétido e agora lendário clube CBGB, Deborah
Harry e artistas como Ramones, Television, Talking Heads, Suicide, Patti Smith
(que odiava Debbie por perceber nela o potencial de diva) ajudaram a delinear a
música pop de gerações.
O documentário Blondie One Way or Another (BBC, 2006)
delineia essa trajetória do underground ao topo das paradas mundiais, com as
perdas e ganhos inerentes ao processo. O trabalho do produtor é essencial pra
confecção de gemas pop: a descrição da feitura da clássica Heart of Glass é
notável nesse aspecto. Mas, na industrialização da música do capitalismo, esse
profissional também pode (tentar) asfixiar uma banda, vendo-a como meros peões.
Isso está igualmente bem descrito no documentário.
Quando
o Blondie estourou – na Inglaterra, antes de nos EUA – e Debbie Harry tornou-se
o tesão da virada 70’s pra 80’s, ela passara dos 30. Essa informação reacendeu
ma idéia meio maluca que tenho de que os anos 80 foram mais generosos com
balzacas e mais velhas. Jane Fonda, Linda Gray, Linda Evans, Joan Collins,
todas foram desejadas naqueles anos. Ao longo dos anos, parece que a faixa
etária necessária pra ser diva caiu bastante.
Blondie One Way or Another mostra como o poder advindo
da fama pode ser fugaz. No topo num ano, no poço no outro. Foi o que ocorreu
com Blondie, corroído por litígios judiciais, uso de drogas muito pesadas, descaminhos
financeiros e azar (uma doença genética num dos membros). The Hunter (1982) -
último álbum antes da ressurreição blondiana, em 1999 – vendeu menos de 20 mil
cópias! O documentário atribui o fiasco às drogas. Concordo, mas também os
tempos eram outros. Basta ver o exagero do cabelão tipicamente oitentista de
Debbie Harry na capa do álbum: ela não ditava a moda, mas a copiava. Ambições
por carreiras-solo também não ajudavam muito, embora ninguém tenha tido sucesso
sozinho.
Blondie
ainda faz turnês e lança álbum de vez em quando (ano passado, mas não ouvi) e
deixou legado respeitável pra música e cultura pop. Canções como Call Me, Atomic,
Maria, Good Boys sempre povoarão meu mp3 ou geringonça congênere. E Heart of
Glass será sempre uma canção pop perfeita. E Debbie será sempre desejada quando
os vídeos forem assistidos.
Recheado de depoimentos de integrantes da banda e
outros músicos (Iggy Pop, entre eles, claro!, esse cara deve viver pra gravar
depôs agora!), Blondie One Way or Another não santifica Debbie Harry e dá
razoável dimensão de parte da história da menina adotiva que fantasiava ser
filha de Marilyn Monroe e se transformou em seu equivalente no universo da
música popular.
Completo no You Tube, sem legendas.
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