Roberto Rillo Bíscaro
Será que os punks previram que seu movimento impulsionaria o surgimento do synth pop? Depois da explosão da simplicidade dos 3 acordes de guitarra/baixo/bateria, alguns jovens fizeram o mesmo, só que usando sintetizadores.
Influenciados por David Bowie, Kraftwerk, Donna Summer,
ficção-científica e beneficiados pelo barateamento dos sintetizadores, meninos(as)
começaram a experimentar com electronica
em diversas cidades inglesas. As grandes gravadoras não apostaram no novo tipo
de música, mas a infraestrutura criada pelo movimento punk novamente favoreceu esses
candidatos a avatares da tecnologia: seus trabalhos eram lançados por selos
independentes, como a Mute Records, que deu chance ao Depeche Mode.
O sintetizador
– orquestra dentro duma caixa com teclas e botões – mudou a forma dos grupos
pop. Bastava um(a) vocalista e um(a) tecladista e um estava formado. Basta
checar o número de duplas nos anos 80: Eurythmics, OMD, Erasure, Tears for
Fears, Kon Kan, Go West. Acho que preencheria uma página! O período de aproximadamente 7, 8 anos de surgimento e queda do synth pop está registrado no documentário Synth Britannia (2009), da BBC. Fundamental pra quem viveu e dançou os fins da década de 70 e início dos anos 80.
Até o advento do synth pop, sintetizadores eram
privilégio da pirotecnia e afluência progressivas. Oriundos em sua maioria da
classe-média alta e com treinamento clássico, apenas os Keith Emersons e Tony
Banks da vida podiam arcar com o preço dum teclado. Quando a molecada
industrial começou a poder adquiri-los, combinaram as inúmeras possibilidades
sintetizadas com o tipo de música pop de que mais gostavam e uma miríade de subgêneros
nasceu.
Synth Britannia delineia o desenvolvimento de bandas
como o experimental Cabaret Voltaire até o estouro comercial do Depeche, Human
League, Gary Numan, Yazoo, Ultravox. Massacrado pela imprensa musical britânica,
o synth pop dominou o mundo no comecinho dos 80s e foi um dos motivos que
levaram ao surgimento dos Smiths, pais do indie rock, que sufocou o tecnopop
(como ficou conhecido no Brasil) nos anos 90 e boa parte dos 2000. Isso o
documentário não fala.
Vince
Clark, Alison Moyet, Phil Oakey, John Foxx; quase todo mundo que importava foi
entrevistado. Synth Britannia termina com os Pet Shop Boys, que no meio dos 80s
popularizaram o uso de sampleadores, indo mais pro caminho dance. O documentário retrata com eficiência o dilema da molecada que, ao mesmo tempo, queria revolucionar e ser astro pop, aparecer na mídia, ganhar grana e deixar de ser classe operária.
Passado o apogeu do synth pop, quase todas as bandas
perderam sua razão de ser. Um documentário exemplar sobre isso seria sobre o
Human League, que enfocasse seu começo alternativo em Sheffield, o estouro com
o fundamental álbum Dare e a encruzilhada criativa um par de anos depois,
quando Phil Oakey tentava aparência de roqueiro e o grupo soava como um U2 sintetizado.
Inteiro
no You Tube, em inglês não legendado.
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