Das cerca de 90 peças atribuídas a Ésquilo, míseras
sete remanescem. Algumas por puro golpe de sorte. O Império Bizantino via os
textos trágicos gregos como ótimas fontes pra ensinar e aprender gramática,
estilística e retórica. Como resultado, alguns manuscritos contendo um punhado
de tragédias esquilianas chegou até nós por terem sido extensivamente copiados
como material didático. Vê-se que o interesse não era dramatúrgico. Outro par
de tragédias salvou-se porque alguém as copiou juntamente com tudo o que
conhecemos de Sófocles (também em número de sete) e a única cópia existente
driblou tempo, guerras, intempéries e estupidez, permitindo-nos desfrutar desse
mínimo hoje.
Reli Os Sete Contra Tebas, passada depois que Édipo se
autoexila da cidade e inicia sua peregrinação purgatória por ter matado o pai e
desposado a mãe. Aludi à obra quando escrevi sobre a adaptação fílmica deAntígona.
Os gêmeos Etéocles e Polinice
deveriam alternar-se no governo de Tebas, mas o primeiro não deixou o irmão
assumir o trono quando chegou a vez dele. Enraivecido, Polinice e outros 6
guerreiros cercam a cidade, cada um atacando uma de suas torres. Etéocles
encarrega-se de combater o irmão, e ambos acabam matando um ao outro. Depois de
parricídio e incesto, a descendência de Laio – pai de Édipo – incorre num
fratricídio básico. Sem contar o aspecto da guerra civil.
De acordo com as convenções trágicas, ambos irmãos
tinham que perecer, afinal, os 2 erraram: um por não cumprir o acordado e ser
ganancioso; o outro por atacar o povo a quem tinha por obrigação governar. Mas,
claro, que não tinham muita escolha, porque viviam sob a maldição de Laio,
retransmitida por Édipo.
O coro formado por mulheres tebanas tem um papel ainda
enorme e, como n’Os Persas, nada acontece no palco. É o coro advertindo Etéocles,
este não deixando passar a oportunidade de dizer que as mulheres são inferiores
(lembremo-nos de que Pandora, a primeira mulher, foi criada por Zeus como
punição aos homens!),o mensageiro descrevendo cada guerreiro e suas armas,
Etéocles respondendo quem mandará defender qual torre e por aí vai. Os Sete
Contra Tebas mostra bem as rugas dum texto de mais de 2,400 anos.
No final, quando um arauto anuncia a morte dos irmãos,
entram Ismênia e Antígona pra discutirem sobre o enterro (leia a resenha do filmeAntígona pra entender esse novo problema da família). A peça ficou ligada
demais com a obra sofocliana (se você leu a resenha indicada, entendeu, se não,
leia!). De muita coincidência os deuses desconfiam, por isso, é quase consenso que
a peça de Ésquilo originalmente terminava com o anúncio e lamento da morte de
Etéocles e Polinice pelo coro. As 2 irmãs provavelmente foram adicionadas
depois da morte de Ésquilo, por alguém que copiou seu estilo grandioso bastante
bem.
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