Que
termo usar para nos autoidentificarmos? Albino (a)? Pessoa com albinismo?
Palavras são muito importantes no processo de construção identitária.
A norte-americana Brandi Green lida com a identidade de
afro-descendente e a de pessoa albina. Traduzi texto onde ela relata como se
sente em relação a termos como albina e pessoa com albinismo.
“Não Me Chame de Albina” – Uma Aula Sobre Etiqueta do
Albinismo
(Tradução: Roberto Rillo Bíscaro)
Sei que as pessoas querem me perguntar a respeito,
quando me conhecem. Elas fazem rodeios, mas não conseguem evitar a curiosidade.
Quando me perguntam, “o que você é?” ou, “a qual grupo
você pertence?”, respondo que sou negra e que tenho albinismo. Algumas vezes
isso já basta, mas, na maioria das vezes, as pessoas continuam confusas.
Tento de novo: “Sou albina.” A maioria das pessoas só
entende quando falo assim.
Elas respondem meio sem jeito: “ah, fui à escola com um
albino”, ou “Eu achava que albinos tinham olhos vermelhos”. A essa altura, já me
dou por contente que saibam pelo menos isso.”
A maioria das pessoas conhece a palavra albino, mas não
sabem que a condição genética se chama albinismo, que é a falta de pigmentação
no cabelo, pele e olhos..
Na minha infância, mamãe não gostava que ninguém me
chamasse de albina. Ela corrigia a pessoa na hora, dizendo que eu tinha a pele
clara. Mais tarde compreendi que ela tentava se enganar e que aquilo era um
modo de tentar controlar uma situação sobre a qual ela não tinha nenhum
controle.
Devido ao problema dela, internalizei o desdém pela
palavra. Além do mais, quando me chamavam de albina, nunca era em um contexto
legal. Sempre ouvia o termo de forma derrogatória. Tive que aturar um monte de
gozações por causa de meu albinismo. Por isso, o uso dessa palavra me machucou
por muitos anos.
Não tenho dúvidas de que a mídia desempenha papel de
perpetuadora de crenças negativas sobre as pessoas com albinismo. Não existem
muitas representações positivas de albinos na mídia. Geralmente, somos
desviantes, místicos ou esquisitos.
O “albino mau” ou o “albino vilão” pode ser visto em
filmes e na literatura. Essas imagens são poderosas porque reforçam o
preconceito das pessoas contra nós
Não só as imagens são poderosas; palavras também.
Suponho que essa tenha sido a razão pela qual tive uma fase em que insistia em
ser chamada de “pessoa com albinismo”. Eu desejava colocar minha identidade de
pessoa à frente de minha condição genética. Acreditava que a palavra “albino”
era objetificante. Essa noção foi muito forte, até conhecer outras pessoas com
albinismo, que se referiam a si mesmas como albinas, além de se chamarem assim
umas as outras.
No princípio, eu não entendia como elas podiam se
rotular com uma palavra usada com tanta sacanagem. Mas, quando percebi o quão
confortáveis consigo mesmas elas eram e com que facilidade falavam albino,
conclui que era um ato de coragem.
Conforme me sentia mais à vontade com meu albinismo,
também comecei a referir-me a mim mesma como albina. A palavra não me machucava
mais, porque eu não dava mais esse poder a ela. Deixei de lado as lembranças
doloridas e as conotações negativas do termo; me deu uma baita sensação de
empoderamento.
O uso de albino versus pessoa com albinismo permanece
controverso na comunidade do albinismo. Muitos não querem ser rotulados por uma
palavra com tamanho potencial para causar dor. Eles também creem que ser
objetificado pela condição é desumanizante. Outros fizeram as pazes com o termo
e não se importam quando são chamados de albinos.
Acredito que para a maioria das pessoas da comunidade
faça diferença quem usa a palavra (outra pessoa com albinismo ou não) e em qual
contexto é utilizada. Alguns podem levar numa boa se outra pessoa com albinismo
os chamar de albino, mas sentirem desconforto se uma pessoa fora da comunidade
usar essa palavra.
Hoje, uso tanto albino quanto pessoa com albinismo, ao
me descrever. As pessoas vão me rotular como sentirem vontade. Acredito que
haja poder em se autoidentificar. Sou albina.Sou uma pessoa com albinismo.Sou negra.Sou
quem sou. Não importa do que você me chame.
O original em inglês pode ser acessado em:
Não me importo de ser chamada ou rotulada como "A albina". Nunca me importei, sofri com termos muito mais grosseiros do que esse para que isso me importasse de verdade.
ResponderExcluirComo dito, tudo é a conotação a qual o termo é utilizado... Sim, algumas pessoas usam de ironia e deboche para utilizar o termo "albino", porém, a maior parte o usa até com medo de ofender, com receio de eu não gostar ou de, quem sabe, ser um termo incorreto.
"Quando me perguntam, “o que você é?” ou, “a qual grupo você pertence?”, respondo que sou negra e que tenho albinismo."
Isso para mim soa como uma doença. O termo albinismo poderia ser substituído por "Síndrome de down"; "Esquizofrenia"; "Câncer"... Acho que dessa forma sim fica pejorativo.
Enfim, num todo o texto é bem interessante (:
Adorei este texto! Expressa muito do que se constrói e se destrói com o preconceito. Excelente, joga o politicamente correto falso, fora e assume especificidades com as quais toda diferença - cores, presenças ou ausências - merece ser tratada. Principalmente em uma sociedade que se diz democrática!
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